SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Banco Central decidiu jogar água no chopp do BRB (Banco de Brasília) e do Banco Master.
Também aqui: EUA querem saber se suas ordens estão valendo no Brasil e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (4).
**UM BALDE DE ÁGUA FRIA**
O Banco Central decidiu barrar a venda do Banco Master para o BRB (Banco de Brasília). A notícia foi revelada na noite desta quarta-feira (3) pela repórter da Folha Adriana Fernandes.
A autoridade tinha quase um ano de prazo para avaliar o negócio, mas vinha demonstrando interesse em dar um desfecho rápido para a análise.
O BRB ainda pode recorrer da decisão, mas ainda não se manifestou sobre a possibilidade.
TIMING É TUDO
A decisão da diretoria do BC ocorre um dia após o centrão lançar uma ofensiva no Congresso para tentar aprovar um projeto de lei que dá poderes a deputados e senadores para demitirem diretores e o presidente do BC.
Integrantes do governo enxergaram no movimento político uma pressão para aprovação do negócio.
TÚNEL DO TEMPO
Se o leitor acompanha o noticiário econômico, já leu algumas vezes sobre o imbróglio da compra do Master. Começou em 28 de março, quando o BRB anunciou a intenção de comprar 58% dos ativos do banco comandado por Daniel Vorcaro.
O BRB é uma sociedade de economia mista cujo acionista controlador é o governo do Distrito Federal.
NO MICROSCÓPIO
O Master já parecia bagunçado de longe, mas depois do anúncio do negócio, o tamanho da confusão foi evidenciado. A instituição financeira tem um excesso de ativos vistos como pouco estratégicos pelo mercado, como precatórios que demoram para dar retorno .
O banco vendia títulos de renda fixa, como CDBs (Certificados de Depósito Bancário), com rendimentos altíssimos. Para convencer os investidores de que os ativos valiam o risco, destacava que eram cobertos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que assegura o retorno de investimentos de até R$ 250 mil aos depositantes.
O problema é que o FGC é alimentado por diferentes bancos como uma forma de evitar um colapso do sistema bancário no caso de calote de alguma instituição. Se o Master faltasse com seus clientes, consumiria cerca de 40% do fundo.
Isso causou uma queda de braço entre os bancos, que acabou em mudanças nas regras do FGC em agosto.
O fechamento da venda estava sujeito a cinco condicionantes, entre elas uma auditoria do BRB nos ativos e passivos do Master. Pelo planejamento da operação, os ativos de maior risco seriam retirados do negócio precatórios, direitos creditórios de ações judiciais e ações de empresas entre eles.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) havia aprovado a compra em junho, mas diretores do BC continuavam resistentes à operação ala que acabou vencendo a discussão.
Os nomes Daniel Vorcaro e Banco Master apareceram na investigação do superesquema do PCC na Faria Lima, que você relembra aqui. A instituição mantinha laços financeiros com pelo menos duas gestoras que apareceram nos relatórios: Reag Investimentos e Trustee DTVM.
**SEM ENROLAÇÃO**
O governo dos Estados Unidos não quer saber de desculpas. Ele pretende ter certeza de que a vida do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes está sendo dificultada.
Nesta quarta-feira, Washington notificou cinco grandes bancos que operam no Brasil por meio de uma carta do Departamento do Tesouro, que os questiona sobre a aplicação da Lei Magnitsky.
As instituições que receberam o bilhetinho foram Itaú, BTG Pactual, Santander, Bradesco e Banco do Brasil.
RECAPITULANDO
A legislação impõe sanções a violadores dos direitos humanos e, na visão de Donald Trump, Moraes e os ministros da corte suprema estão restringindo demais o ex-presidente Jair Bolsonaro ao julgá-lo por tentativa de golpe.
Ela ainda impede os atingidos de ter contas e fazer negócios com empresas americanas ou que atuem nos EUA e aí é que são elas. Não se sabe bem o que isso significa e quais os limites da determinação.
Há a expectativa de que, caso Bolsonaro seja condenado à prisão pelo STF, Washington possa ampliar as sanções a outras autoridades ou aumentar as tarifas aduaneiras sobre o Brasil.
MANDOU RECADO
Com a atitude, a Casa Branca começa a delinear o que espera das empresas e instituições que atuam nos EUA e no Brasil.
O comunicado questiona quais ações foram ou estão sendo tomadas pelas instituições para cumprir a sanção aplicada a Moraes.
O magistrado já teve cartões de bandeiras internacionais, como Visa e Mastercard, bloqueados como parte da sanção.
MEDO?
Os investidores estão desanimados com a perspectiva de que bancos brasileiros podem sofrer mais reprimendas de Trump.
Os papéis do Banco do Brasil recuaram 0,69% no pregão de ontem.
A avaliação no mercado é de que, caso novas sanções atinjam integrantes do governo, a instituição seria diretamente impactada já que a maioria dos servidores, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, recebe seus salários pelo banco.
As ações de Santander, BTG Pactual, Bradesco e Itaú recuaram 0,07%, 0,45%, 0,06% e 0,87%, respectivamente.
**POR TODOS OS CANTOS**
Tudo onde o sol toca, há investimento chinês. Não é esta a fala que aparece em um desenho animado famoso? Um relatório da CEBC (Conselho Empresarial Brasil China) mostra que a injeção de dinheiro no Brasil pelo país saltou 113% em 2024.
DETALHES
Foram executados 39 projetos de empresas do país asiático, um recorde desde que o levantamento começou a ser feito, em 2010.
14 dos 26 estados brasileiros receberam um pouco da grana. Mesmo assim, há concentração dos projetos no Sudeste.
MUITA CALMA NESSA HORA
Apesar do aumento no número de projetos executados por multinacionais chinesas, o valor total investido pelas empresas do país já foi maior. O ápice ocorreu na década de 2010, com grandes aportes em projetos de energia, liderados por gigantes como State Grid e China Three Gorges.
QUEM GANHOU?
O setor de eletricidade foi o campeão de aportes, concentrando US$ 1,43 bilhão (R$ 7,8 bilhões), cifra que representa 34% do total. Em seguida, vêm as petroleiras, que receberam US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões).
O terceiro lugar ficou com a indústria automotiva, que arrematou 15% do montante.
ELÉTRICOS
Elétricos. O resultado do setor automotivo foi impulsionado pela abertura de duas fábricas no Brasil, resultado da compra e adaptação de plantas antigas desativadas por outras montadoras.
A BYD reformou a ex-fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, e a GWM escolheu a antiga estrutura da Mercedes-Benz em Iracemápolis, interior de São Paulo.
↳ Ambas foram criticadas por, em um primeiro momento da produção, trazer da China a maioria das peças necessárias para a montagem dos veículos. A BYD também foi acusada de sustentar trabalho análogo à escravidão nas obras da fábrica em território baiano. Relembre o caso aqui.
**QUEM QUER A RAÍZEN?**
A Raízen nasceu como uma promessa do setor de combustíveis: a filha moderninha gerada pela união de Shell e Cosan e criada para modernizar a área no mercado brasileiro.
A empresa gera preocupações ao desviar-se do caminho planejado pelos pais para ela: a maior produtora de etanol e açúcar de cana do mundo apresentou uma dívida líquida de R$ 49,2 bilhões e agora procura um novo sócio para fazer a roda girar.
O QUE ACONTECEU?
A Raízen registrou prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre da safra 2025/26, após obter lucro de R$ 1,1 bilhão no mesmo período da safra anterior (2024/25).
O problema é a alavancagem, que encerrou junho em um patamar de 4,5 vezes, contra 2,3 vezes um ano antes. Isso significa que a dívida total da empresa equivale a 4,5 vezes o Ebitda, que é o ganho da companhia sem descontar encargos.
Um levantamento da Elos Ayta Consultoria feito a pedido da Folha de S.Paulo mostra que seria preciso que o patrimônio da empresa fosse três vezes maior para o pagamento da sua dívida.
O desastre é resultado de uma combinação de dois fatores principais: a companhia contraiu muitas dívidas para expandir as operações pouco antes de a taxa de juros aumentar. Agora, está muito mais difícil quitar as obrigações com os credores.
FORÇA-TAREFA
A Raízen passou por uma troca de comando e vendeu ativos para fortalecer seu balanço operacional, mas ainda aguarda a conclusão de seu movimento mais ousado até agora: a entrada de um novo sócio disposto a injetar dinheiro no negócio.
A ideia divulgada é dissolver a participação da Cosan, que é de 44%, assim como a Shell. Os 12% restantes estão disponíveis para negociação pública no mercado financeiro.
🏆 Os candidatos a salvadores da empresa são Itaúsa, BTG Pactual, Mitsui e Mitsubishi.
↳ A última contratou o banco Morgan Stanley para avaliar o investimento na sucroalcooleira, conforme adiantado pelo jornal Valor Econômico.
Agradou. As ações da Cosan subiram 8% na bolsa brasileira ontem, enquanto as da Raízen avançaram 4,96%.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Liberou? A França cede em negociações e o acordo entre a União Europeia e o Mercosul entra na reta final de elaboração em Bruxelas.
Governo respira. O Senado aprovou a PEC dos Precatórios, que garante uma folga de R$ 12 bilhões no Orçamento para 2026, ano eleitoral.
Aumentando a clientela. O Brasil fechou um acordo com o Japão para exportar produtos de gordura animal.
Pós-tragédia. A OpenAI vai incluir controles de pais e responsáveis no ChatGPT, após a repercussão da morte de um adolescente que trocava mensagens com a ferramenta.