SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto alguns funcionários da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) orientam aos berros sobre os melhores locais para embarque nas plataformas da estação Palmeiras-Barra Funda, alguns passageiros sentados em bancos esperam a lotação diminuir. Quem desce as escadas também tem dificuldade de conseguir um espaço para tentar entrar no trem.

Esse cenário observado pela reportagem na última segunda-feira (1º) é a nova rotina no terminal da zona oeste de São Paulo. O principal motivo é o fim do chamado serviço 710, que fazia a ligação entre os trens que percorriam o trajeto de Jundiaí para Rio Grande da Serra —as linhas 7-rubi e 10-turquesa. A suspensão do serviço foi tomada pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e passou a valer na semana passada.

O trecho era parte da histórica linha Santos-Jundiaí, criada no século 19, e foi fragmentado em duas linhas. A descida da serra rumo a Santos também deixou de ser prestada aos passageiros há algumas décadas.

Em nota, a CPTM afirma que a mudança faz parte da estratégia de transformar a estação Barra Funda em um hub ferroviário. Além de agora ser o único ponto de transferência das linhas 7 e 10, a parada ganhou uma extensão da linha 11-coral e já atendia a linha 8-diamante (concedida à Viamobilidade), o Expresso Aeroporto e linha 3-vermelha do metrô. Cinco linhas de trem e uma de metrô, em suma.

A companhia paulista diz adotar uma série de medidas para melhorar o fluxo na estação, com o “aumento de colaboradores para apoio aos passageiros, o reforço da comunicação e a construção, pela concessionária da linha 7-rubi, de uma nova escada fixa nas plataformas 5 e 6”.

Depois de sua jornada de trabalho, o segurança Aloísio França, 41, esperava sentado para saber quando conseguiria embarcar de volta para casa, na região do Jaraguá, na zona norte. Eram 18h e, pelo menos, quatro trens já haviam passado sem que ele se levantasse. “Espero meia hora só para conseguir fazer a baldeação”, conta. No total, estima que a viagem ficou até uma hora mais longa.

Aloísio conta que acorda 2h30 para pegar um ônibus e seguir para a estação de trem, que abre às 4h. Antes, em 40 minutos, ele já estaria no Brás, pronto para iniciar seu dia de trabalho, em uma viagem sem novas paradas. Agora, ele segue de trem até a Barra Funda e precisa fazer a troca de trem para ir para o Brás. A parada e a dificuldade de trocar de linha se repetem na volta para casa.

Sobre a única ligação entre as linhas 7 e 10 na Barra Funda, a empresa estatal justifica a decisão de unificá-la. “A estação Palmeiras-Barra Funda foi escolhida por oferecer o menor tempo de transferência aos passageiros, permitindo a troca de trens no mesmo nível de plataforma e eliminando a necessidade de deslocamento por escadas ou mezanino. As alternativas Luz e Brás exigiam maior deslocamento e tempo de transferência dos passageiros”, diz.

Pesquisador de Mobilidade Urbana do BR Cidades, Rafael Calabria diz que a mudança não traz vantagem alguma para o passageiro e que o hub poderia ser criado na Barra Funda sem a interrupção da ligação da linha 7 até o Brás, o que trazia três oportunidades de baldeação para o passageiro.

“Parece uma medida feita muito mais para atender os interesses das concessões das linhas do que para melhorar o serviço prestado ao cidadão”, afirma.

Ele lembra que o trecho entre a Barra Funda e Jundiaí será concedido para a Tic Trens, que será responsável também pela operação dos trens expressos para Jundiaí e Campinas, a partir da mesma estação. A operação da empresa deve começar em novembro. Por enquanto, a linha 10 segue sob operação da CPTM. Existem estudos para concessão.

Segundo um funcionário da CPTM a par do processo, que pediu para não ser identificado, a decisão de fim do serviço 710 foi tomada pela Secretaria de Parceria e Investimentos da gestão Tarcísio e contraria o ponto de vista dos técnicos da companhia. O serviço foi criado em 2021 para possibilitar que os passageiros tivessem três opções de conexão e não apenas uma. A medida havia beneficiado 160 mil passageiros direta e indiretamente. Segundo ele, das três opções —Barra Funda, Brás e Luz— a primeira é de fato a menos congestionada.

O problema teria surgido porque a secretaria não levou em conta a existência do serviço. O prejuízo para o passageiro, no momento, envolve também a perda de ligações com o Metrô. Atualmente, a estação Barra Funda se conecta apenas com a linha 3-vermelha. A Luz oferece conexões também com a 1-azul e a 4-amarela.

Ao perceber o erro, o governo Tarcísio fez com que a linha 10, que iria só até a Luz, passasse a chegar até a Barra Funda. Os estudos técnicos sobre a mudança não teriam sido concluídos.

Em nota, a secretaria que “a decisão faz parte de uma política pública de modernização do transporte sobre trilhos” e que “a ampliação da linha 10-turquesa até a Barra Funda garante integração mais simples e rápida com a linha 7-rubi, no mesmo nível de plataforma e sem custo adicional para o passageiro”.