WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Integrantes da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil), representando mais de 120 empresários em viagem aos EUA, se manifestaram em audiência pública do USTR (Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos) nesta quarta-feira (3) para discutir a investigação comercial em curso contra o país.

Em julho, o USTR abriu a apuração contra o Brasil por supostas práticas desleais na concorrência com empresas americanas em paralelo à aplicação das sobretaxas de 50% contra produtos brasileiros.

Diante da dificuldade de negociação com os americanos, os empresários e associações aproveitaram nesta quarta um dos poucos espaços disponíveis para se defender das tarifas aplicadas pelo governo Trump.

Falando em nome da CNI, o ex-diretor da OMC (Organização Mundial do Comércio) Roberto Azevêdo enfatizou que o Brasil não age para prejudicar empresários americanos.

“Em primeiro lugar, o Brasil não prejudica a competitividade das empresas americanas envolvidas em comércio digital e serviços de pagamento eletrônico”, disse.

Azevêdo enfatizou que o Pix, alvo da investigação, é um serviço independente. Afirmou ainda que o Brasil não adota taxas excessivas a produtos americanos.

“O Brasil não adota atos, políticas ou práticas irracionais ou discriminatórias em relação ao etanol que onerem ou restrinjam o comércio dos EUA”, disse.

“Como os dois maiores produtores globais de etanol, os Estados Unidos e o Brasil têm uma necessidade limitada de importações para atender à demanda interna. Eles deveriam trabalhar juntos para promover a expansão dos mandatos de mistura de etanol em países estrangeiros, a fim de aumentar a demanda por etanol”, complementou Azevêdo.

Em conversa com empresários, Azevêdo disse que as argumentações orais na USTR servem como parte de um processo pela redução ou busca de isenções tarifárias que pode culminar em contestação nos tribunais do país.

“É muito difícil você pensar em uma negociação propriamente dita sem ter os governos envolvidos. A diplomacia é estatal”, afirmou.

Ainda na audiência pública, a diretora de relações internacional da CNI afirmou que pode haver um “distúrbio no comércio internacional” se as tarifas de 50% forem mantidas.

A mesma preocupação foi enfatizada por americanos na primeira fase da audiência pública. Neil Herrington, vice-presidente de Américas da Câmara de Comércio dos EUA, afirmou temer o impacto na obtenção de produtos. “Estamos preocupados que as tarifas tenham um impacto adverso nas cadeias de suprimentos e possam iniciar um ciclo de retaliações”, disse.

Já Husani Duras de Jesus, do ITI (Information Technology Industry Council), defendeu que é preciso aprimorar as relações entre EUA e Brasil sob pena de isso representar uma aproximação entre Brasil e China.

“Nós estimulamos que haja uma desescalada na tensão das relações. Queremos o Brasil próximo. Não queremos empurrar o Brasil nos braços da China para tornar a China mais forte”, disse.

Melinda St. Louis, do Public Citizen, que representa consumidores, alertou o USTR para que não sejam usados como uma arma política por Trump. “O uso indevido desse processo ameaça a legitimidade de investigações comerciais genuínas para promover empregos americanos”, afirmou.

Em outros momentos da audiência, empresas e representantes de diversos setores americanos também aproveitaram para defender a investigação e afirmar que o Brasil se vale de práticas desleais.

Associações do setor do etanol, por exemplo, afirmaram ser preciso levar adiante a apuração contra o país.

Empresários estão nos EUA acompanhando a missão da CNI (Confederação Nacional da Indústria) na expectativa de conversar com empresários americanos e sensibilizá-los a apoiar a tentativa de negociação sobre as tarifas de 50%. Também esperam levar ao governo americano a informação de que as sobretaxas podem ser prejudiciais tanto aos brasileiros quanto aos americanos.

O lobista Brian Ballard, contratado pela CNI para ajudar nos esforços em Washington, reconheceu que o momento é “especialmente difícil considerando essa semana”, em referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. A declaração foi dada em reunião com o grupo de empresários para passar o panorama das possíveis negociações. Ballard, por sua vez, disse que é preciso fazer as tentativas de contato e buscar sobretudo exclusões às tarifas.

“Os empresários brasileiros não são os inimigos do povo americano e não merecem ser punidos”, afirmou.