SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Paraná ganhará em breve um sobrenome de peso -Pompidou, em Foz do Iguaçu. Mas esse “naming rights” trará ao Brasil, pelo menos a passeio, sobrenomes como Duchamp, Kahlo, Matisse, Mondrian, Miró?

Quando foi anunciado que o Centro Pompidou, um dos museus mais importantes do mundo, teria uma versão brasileira na cidade paranaense, houve quem se perguntasse se o Brasil poderia receber parte do acervo da instituição francesa, que inclui nomes fundamentais da arte moderna e contemporânea.

“Se há essa preocupação por parte dos nossos amigos brasileiros, nós os faremos felizes”, responde Laurent Le Bon, presidente do Centro Pompidou. Ele participou de evento que celebrou a parceria da instituição francesa com o governo paranaense, em São Paulo, nesta quarta (3).

O Centro Pompidou de Paris fecha suas portas no próximo dia 22 deste mês, para obras de renovação que durarão, em princípio, cinco anos. A previsão de abertura do Pompidou Paraná é 2028.

O encontro foi promovido pela colecionadora Beatriz Yunes Guarita, que integra o conselho da associação de amigos do Pompidou e é embaixadora do círculo internacional do centro para a América Latina.

“Quando o governador Ratinho Junior [PSD] nos propôs esta aventura em Foz do Iguaçu ficamos muito felizes. As pessoas vão como turistas para ver as cataratas, mas ele quer que fiquem mais tempo”, diz Le Bon.

Há centros Pompidou em Málaga, na Espanha, e em Xangai, na China. Há também a previsão de abertura de centros em Jersey City, nos Estados Unidos, em Seul, na Coreia do Sul, e em Bruxelas, na Bélgica. O museu do Paraná será o primeiro Pompidou na América Latina.

Com ele, os organizadores, franceses e brasileiros, fazem um aceno não somente ao Brasil, mas ao subcontinente como um todo. Isso se reflete na escolha do local, próximo à tríplice fronteira com Argentina e Paraguai, e na escolha do premiado arquiteto paraguaio Solano Benítez, Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2016. O museu abrirá sem acervo próprio e, segundo o governo do Paraná, haverá na programação a preocupação com projeção e formação de artistas latino-americanos.

Houve quem discordasse da escolha do local para o Pompidou paranaense, que ficará nas imediações do aeroporto internacional de Foz do Iguaçu, a cerca de 13 km do centro da cidade. Segundo críticos, isso tornaria o museu de difícil acesso e não conversaria com o urbanismo da cidade. Le Bon afirma que “é um terreno muito bonito que está ligado à floresta”.

Segundo ele, será uma arquitetura contemporânea ligada à ecologia, com tijolos de terra. “Não estamos aqui para colocar um óvni. O que acho muito bonito no projeto do Paraná é sua ancoragem, inclusive na terra. Na ideia de Solano, os tijolos do projeto são feitos com a terra que está lá.”

Não há pretensões de que o museu tenha dimensões superlativas. “Não estamos falando de monstros, não estamos falando de gigantes. Eu acredito que hoje o visitante busca uma qualidade de visita em vez de quantidade”, diz Le Bon.

O projeto não contará com dinheiro francês. Os recursos, por ora, virão do governo do Paraná, que estima um investimento de R$ 200 milhões na construção.

“Nós entendemos que essa parte cultural é importante para o estado. Tem que ser preservada e ampliada”, diz Ratinho Junior (PSD).

O governador do Paraná, que prefere usar apelido em vez do sobrenome, justifica o gasto repetindo o slogan de que o estado “tem a melhor saúde financeira e fiscal do país”.

No que se refere à dívida com a União, o Paraná ocupa a quarta posição no ranking de estados menos endividados, de acordo com dados do Tesouro sobre a dívida consolidada líquida dos estados no exercício de 2024, com um saldo positivo de R$ 3,35 bilhões.

O ano eleitoral se aproxima, e o presidenciável Ratinho Junior não quer dividir os louros da construção do Pompidou brasileiro com governo federal ou municipal, pelo menos por ora. Inaugurado, o funcionamento da instituição pode, sim, contar com a ajuda de mecanismos de fomento do governo federal, do município, mas também investimento privado, diz o político.

“Possivelmente não vamos precisar, mas a gente não também não deixa de cogitar uma licitação internacional”, diz o governador.

A reportagem pergunta a ele sobre o longo prazo. Como garantir a continuidade das obras e, posteriormente, do funcionamento da instituição, considerando a crescente instabilidade política do país? Isto aliado ao fato de que Ratinho Junior deixará o cargo ano vem, já que ele está em seu segundo mandato.

O governador prefere não falar de mecanismos institucionais para garantir maior estabilidade de gestão do museu para além das estruturas da instância estadual, de forma a acomodar mudanças no governo do estado e portanto impedir que o projeto seja descontinuado com uma canetada. Mas ele afirma que “o Paraná tem uma tradição de valorizar a cultura”.

“Eu não vejo uma lógica inteligente de alguém querer desconstruir um projeto que não é do governo, é um projeto de Estado. Eu acho que, claramente, qualquer um que venha a concorrer ou venha a ganhar, não tenho dúvida que vai prestigiar o projeto.”

A história recente de São Paulo mostra que as corridas eleitorais podem emperrar projetos de longo prazo como o Pompidou Paraná. Com a transição do governo José Serra (PSDB), passando por Alberto Goldman, e chegando em Geraldo Alckmin, na época também tucano, um projeto milionário de um complexo cultural foi para a lata de lixo.

Após R$ 53 milhões com arquitetos e consultores e R$ 65 milhões em desapropriações, em valores da época, o governo paulista decidiu paralisar o ambicioso projeto do Complexo Cultural Luz, que um teatro principal com 1.750 lugares, além de escolas de música e de dança.

Na época, a Folha de S.Paulo apurou que o então governador avaliou que o projeto, estabelecido pela gestão Serra, era caro demais e tinha “cara de coisa para rico”.

Num ano eleitoral como 2014, Alckmin temia que a obra se tornasse alvo de protestos e sinônimo de desperdício, tal qual o rótulo colado por ativistas nos estádios da Copa.

O complexo consumiu dois anos e meio de projeto de um dos mais célebres escritórios de arquitetura do mundo, o suíço Herzog & de Meuron, autor do Estádio Nacional de Pequim, o “ninho de pássaro”, e da Tate Modern, de Londres.

Em 2025, porém, Ratinho Junior não quer falar de eleições presidenciais. Ao contrário de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zema (Novo), o governador paranaense evita comentários instagramáveis sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF.

Segundo ele, “2026 tem que ser discutido em 2026”. “Hoje eu sou governador do estado, tenho trabalhado para isso, tenho o compromisso de fazer uma boa entrega para a população”, diz Ratinho Junior. “O meu partido [PSD] vai decidir se vai ter candidatura. Nós temos dois bons nomes, eu entendo. O próprio Eduardo Leite [governador do Rio Grande do Sul] é um grande nome, o presidente [Gilberto] Kassab tem falado também no meu nome. E daí, no ano que vem, nós vamos discutir.”