SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, afirmou nesta quarta-feira (3), um dia após os EUA anunciarem um ataque a um barco que teria saído da Venezuela, que as operações militares no Mar do Caribe não vão parar.
“Temos forças no ar, na água e em navios, porque essa é uma missão extremamente séria para nós, e não vai parar apenas com esse ataque”, disse Hegseth à Fox News, acrescentando que qualquer “narcoterrorista” que trafique drogas naquelas águas “terá o mesmo destino”.
Na entrevista à emissora americana, o secretário de Defesa se recusou a dar detalhes de como a operação foi realizada, mas negou as acusações do regime chavista de que os EUA teriam usado inteligência artificial (IA) para criar vídeo do ataque divulgado por Donald Trump.
Em entrevista coletiva ao lado do presidente da Polônia, Karol Nawrocki, na Casa Branca, o republicano afirmou que a Venezuela tem sido um “ator muito ruim”. Trump disse ainda que o barco atingido tinha “quantidades massivas de droga”. “Eu acho que muita gente não vai fazer isso [transportar drogas aos EUA] depois de ver esse vídeo”, afirmou.
O episódio elevou ainda mais as tensões na região. À Folha de S.Paulo um membro do Itamaraty afirmou que, por ora, o país não deve se manifestar sobre o episódio e que a embaixada em Caracas acompanha a situação. Entre os líderes latino-americanos, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, comentou o caso.
“Se isso for verdade, é um assassinato em qualquer lugar do mundo. Há décadas capturamos civis que transportam drogas sem matá-los. Quem transporta drogas não são os grandes traficantes, mas jovens muito pobres do Caribe e do Pacífico”, escreveu o colombiano em suas redes sociais.
Na terça-feira (2), o presidente americano disse que militares dos Estados Unidos destruíram um barco que estaria saindo da Venezuela supostamente carregado de drogas, matando 11 pessoas.
“Nos últimos minutos, nós acabamos, literalmente, de destruir um barco carregado de drogas. Havia muitas drogas nesse barco”, disse Trump a repórteres no Salão Oval. Mais tarde, em publicação na sua rede social, ele deu mais detalhes, dizendo que a embarcação pertencia à facção venezuelana Tren de Aragua.
O presidente também publicou imagens que seriam do ataque. O vídeo começa com uma canoa em movimento, com pessoas a bordo. Segundos depois, o barco é atingido com o que parece ser um míssil, gerando uma explosão. Em seguida, a lancha aparece em chamas no mar.
O secretário de Estado, Marco Rubio, confirmou o episódio. “As Forças Armadas dos EUA conduziram um ataque letal no sul do Carribe [sic] contra uma embarcação de drogas que havia partido da Venezuela”, disse, grafando de maneira incorreta a palavra “Caribe”.
Sem mencionar o ataque à embarcação relatado por Trump, Nicolás Maduro disse, em uma live transmitida em suas redes sociais na noite desta terça-feira, que o envio de navios de guerra ao mar do Caribe é uma tentativa de Rubio de manchar as mãos da família Trump de sangue. O ditador afirmou que o secretário de Estado, que é filho de cubanos exilados, faz parte da “máfia de Miami”.
“Eles vêm pelo petróleo venezuelano, querem que ele seja grátis, temos a maior reserva de petróleo do mundo e a quarta [maior] de gás, vêm pela terra fértil. Isso não é de Maduro, é do povo da Venezuela”, disse ele.
O Tren de Aragua é um grupo criminoso narcotraficante venezuelano que atua de maneira transnacional. A facção tem parcerias com os brasileiros Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho e foi designada pelos EUA como grupo terrorista junto de cartéis mexicanos e gangues salvadorenhas.
Os EUA enviaram pelo menos sete navios de guerra às águas próximas da Venezuela, junto com um submarino de ataque rápido movido a energia nuclear. A esquadra é tripulada por 4.500 marinheiros e fuzileiros navais. Washington também opera aviões espiões nas águas próximas à Venezuela.
O movimento é justificado pelo governo Trump como uma ofensiva contra o tráfico de drogas na região. Analistas, porém, veem a questão como um gesto para ampliar a pressão sobre Maduro.
O ditador venezuelano é considerado por Washington como líder do Cartel de los Soles, suposto grupo narcotraficante envolvendo o autocrata e altas autoridades civis e militares de Caracas, que rejeita a acusação. Especialistas negam que o grupo exista.
Nesta segunda (1º), Maduro disse em entrevista coletiva que está preparado para a luta armada caso seu país seja invadido pelos EUA.