Da Redação

O Supremo Tribunal Federal (STF) viveu nesta quarta-feira (3) um dos momentos mais tensos do julgamento que apura se o ex-presidente Jair Bolsonaro e altos oficiais militares tentaram dar um golpe de Estado após as eleições de 2022. Durante quase quatro horas, advogados do ex-presidente e de três generais ocuparam a tribuna para rebater as acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR) e questionar a condução do processo.

A defesa de Bolsonaro foi categórica ao afirmar que não existe qualquer prova que ligue o ex-presidente aos atos de 8 de janeiro ou a um suposto plano de ruptura democrática. O advogado Celso Vilardi atacou o curto prazo dado para análise das provas e disse que a defesa não teve acesso integral aos documentos, o que classificou como uma situação inédita em sua carreira.

Outro alvo de críticas foi a delação do tenente-coronel Mauro Cid. Para Vilardi, o ex-ajudante de ordens do Planalto mudou versões diversas vezes, tornando seu depoimento “não confiável”. A defesa ainda sustentou que a chamada “minuta do golpe” não comprova participação de Bolsonaro e que, ao contrário do que a acusação sustenta, ele conduziu a transição de governo de forma pacífica.

Generais também contestam acusações

Os advogados dos generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira seguiram a mesma linha de argumentação. Eles alegaram ausência de provas, inconsistências em datas e documentos e questionaram a forma como os depoimentos foram colhidos.

  • Braga Netto: contestou a acusação de que teria recebido recursos para financiar um golpe e disse que não há indícios de sua participação em qualquer ato ilícito.
  • Augusto Heleno: negou envolvimento em pressões sobre militares ou articulações para derrubar a democracia, destacando que seu afastamento de Bolsonaro era notório.
  • Paulo Sérgio Nogueira: afirmou ter atuado para evitar qualquer ruptura e que tentou convencer Bolsonaro a respeitar o resultado das urnas.

Acusação sustenta que houve plano golpista

A PGR, por outro lado, reforça que Bolsonaro chefiou uma organização criminosa que tentou impedir a posse de Lula e que os generais integraram o núcleo estratégico das ações, inclusive em contato com manifestantes e articulando medidas para sustentar o golpe.

Próximos passos

O julgamento será retomado na próxima terça-feira (9), quando os ministros da Primeira Turma do STF começam a apresentar seus votos. Dependendo da decisão, os réus podem enfrentar penas superiores a 30 anos de prisão.

A sessão reforçou o clima de tensão em Brasília, com defesas e acusação travando um duelo jurídico sobre provas, prazos e a credibilidade das delações. O país segue atento, à espera de um desfecho que pode marcar um dos julgamentos mais importantes da história recente.