RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira, afirmou que o mandato do deputado estadual fluminense Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias (MDB), tinha como finalidade beneficiar o Comando Vermelho.

TH Joias foi preso nesta quarta-feira (3) em uma operação conjunta das polícias Civil e Federal, além do Ministério Público. Ambas apontam possível envolvimento de TH com a facção.

Assessores do deputado estadual foram procurados por mensagem e ligação na manhã desta quarta (3), mas não responderam até a publicação deste texto. O parlamentar não respondeu à tentativa de contato via redes sociais e telefone.

“Não posso dizer que o tráfico de drogas tenha eleito o parlamentar. Mas posso afirmar que o parlamentar foi eleito para, se valendo do mandato, beneficiar essa organização criminosa. Isso é certo, porque antes de ser parlamentar, o hoje deputado já integrava o Comando Vermelho”, afirmou Campos Moreira.

“O simples fato de ele exercer o mandato parlamentar, nomear assessores diretos, cargos de confiança, vinculados ao Comando Vermelho, já revela suficientemente que a finalidade do mandato é basicamente, e eu diria unicamente, beneficiar de qualquer maneira a organização criminosa.”

A Polícia Civil disse haver “provas robustas” de que TH, além de supostamente usar o mandato para favorecer o CV, intermediava compra e venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones. A Promotoria acusa o deputado de associação para o tráfico e comércio ilegal de arma de fogo.

“As organizações criminosas hoje não se limitam a dominar territórios das chamadas comunidades”, disse o procurador-geral. “Essa é a grande preocupação nossa no Ministério Público”.

Segundo o Ministério Público, a residência do deputado, na Barra da Tijuca, zona oeste, estava revirada e ele não estava em casa. TH foi encontrado em outro apartamento, também na Barra.

“Houve uma certa dificuldade de localização do parlamentar, que teria saído de sua residência ontem, por volta das 21h40, deixando o lugar completo desalinhado, a casa completamente desarrumada, o que pode sugerir uma tentativa de fuga e o desfazimento de eventuais vestígios de fatos criminosos”, afirmou o procurador-geral.

O presidente estadual do MDB, Washington Reis, afirmou que o partido decidiu expulsar o parlamentar.

TH Joias já havia sido preso em 2017 e condenado por lavagem de dinheiro. A investigação da época afirmava que ele usou uma joalheria para lavar dinheiro do tráfico e atuou repassando informações que recebia de policiais para diferentes facções, sob pagamento de R$ 11.000 por semana. Ele ficou nove meses preso.

A operação da Polícia Civil e Promotoria cumpriu três mandados de prisão expedidos pela Justiça estadual. Além de TH Joias, foram presos Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, suspeito de pertencer ao CV, e Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, assessor parlamentar de TH.

A denúncia da Promotoria aponta que um dos assessores de TH também atuava como fornecedor de equipamentos de tecnologia para o CV, como os antidrones. A mulher dele, também nomeada para um cargo na Alerj, servia de elo entre a facção e o Legislativo. Os nomes não foram confirmados.

A reportagem não localizou as defesas de Oliveira e Gonçalves.

Segundo a Polícia Civil, instituições financeiras emitiram alertas sucessivos sobre as empresas ligadas a TH, o que reforçaria, de acordo com a investigação, a suspeita de lavagem de dinheiro.

A PF foi às ruas com 18 mandados de prisão expedidos pela Justiça Federal, e 15 foram cumpridos. Entre os presos está o ex-secretário estadual e municipal Alessandro Pitombo Carracena.

O escritório de Carracena, que é advogado, não atendeu às ligações.

A investigação da PF mira a participação de agentes públicos: além de TH Joias e Carracena, estão entre os alvos um delegado da própria PF que atua no aeroporto internacional do Rio e policiais militares. A polícia aponta que o grupo acessava informações sigilosas para beneficiar a facção e se aproveitava dos cargos para garantir impunidade. Eles também são suspeitos de importar armas do Paraguai e antidrones da China.

Antes de ser empossado como deputado, em 2024, TH Joias era conhecido por fazer joias personalizadas para celebridades, como cantores e jogadores de futebol.

Ele recebeu 15.015 votos nas eleições de 2022 e conseguiu a vaga após a morte do deputado estadual Otoni Moura de Paulo. O suplente imediato, Rafael Picciani (MDB) decidiu continuar na secretaria de Esportes, abrindo vaga para TH.

O governador Cláudio Castro (PL) afirmou nesta quarta que Picciani vai retomar o cargo na Alerj. Assim, a decisão pela manutenção ou relaxamento da prisão de TH não vai passar por votação em plenário.

“O retorno de Rafael já estava previsto, mas, diante da operação realizada hoje, decidimos antecipar. O trabalho integrado deixa um recado muito claro: a lei vale para todos”, escreveu Castro no X.