RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Uma operação conjunta das polícias Civil e Federal, da Promotoria e da Procuradoria do Rio de Janeiro, prendeu nesta quarta-feira (3) o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, 36, conhecido como TH Joias (MDB), por suspeita de realizar negociações para o Comando Vermelho.
A Polícia Civil disse haver “provas robustas” de que TH, além de usar o mandato para favorecer a facção, intermediava compra e venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones.
Os antidrones eram usados para dificultar operações policiais, segundo denúncia do Ministério Público. A Promotoria afirma ainda que TH nomeou outros suspeitos de envolvimento em cargos na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
A Promotoria acusa o deputado de associação para o tráfico e comércio ilegal de arma de fogo.
TH Joias foi preso em um condomínio na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. A operação prendeu outras 14 pessoas, entre eles Gabriel Dias de Oliveira, suspeito de pertencer ao Comando Vermelho, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, assessor parlamentar de TH, e Alessandro Carracena, ex-secretário de Esportes da gestão Cláudio Castro (PL), em 2022, e ex-subsecretário de Defesa do Consumidor, cargo que deixou em janeiro.
Ele também foi secretário de Ordem Pública do na gestão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).
Assessores do deputado estadual foram procurados por mensagem e ligação na manhã desta quarta (3), mas não responderam até a publicação deste texto. O parlamentar não respondeu à tentativa de contato via redes sociais e telefone.
A reportagem também não localizou as defesas de Oliveira e Gonçalves. O escritório de Carracena, que é advogado, não atendeu às ligações.
A Promotoria afirmou que é preciso apurar possibilidade de vazamento da operação a residência do deputado estava revirada e ele foi encontrado em outro apartamento.
O presidente estadual do MDB, Washington Reis, afirmou que o partido decidiu expulsar o parlamentar. “TH, que já não seguia a orientação partidária em seus posicionamentos e votações na Assembleia Legislativa do Rio, não fará mais parte dos nossos quadros”, disse por mensagem.
O deputado estadual Rosenverg Reis (MDB), líder da bancada do partido na Alerj, afirmou que “a liderança não compactua com ilegalidades, repudia conduta criminosa e confia na Justiça”.
TH Joias já havia sido preso em 2017 e condenado por lavagem de dinheiro. A investigação da época afirmava que ele usou uma joalheria para lavar dinheiro do tráfico e atuou repassando informações que recebia de policiais para diferentes facções, sob pagamento de R$ 11.000 por semana. Ele ficou nove meses preso.
Antes de ser empossado como deputado, em 2024, TH Joias era conhecido por fazer joias personalizadas para celebridades, como cantores e jogadores de futebol.
Ele recebeu 15.015 votos nas eleições de 2022 e conseguiu a vaga após a morte do deputado estadual Otoni Moura de Paulo. O suplente imediato, Rafael Picciani (MDB) decidiu continuar na secretaria de Esportes, abrindo vaga para TH.
O governador Cláudio Castro (PL) afirmou que Picciani vai retomar o cargo na Alerj. Assim, a decisão pela manutenção ou relaxamento da prisão de TH não vai passar por votação em plenário.
“O retorno de Rafael já estava previsto, mas, diante da operação realizada hoje, decidimos antecipar. O trabalho integrado deixa um recado muito claro: a lei vale para todos”, escreveu Castro no X.
Operações simultâneas miram braços do CV
Duas operações simultâneas foram realizadas nesta quarta: a Bandeirantes, com investigações da Polícia Civil e da Promotoria, e a Zargun, da Polícia Federal. Ambas miram suspeitos de envolvimento com o Comando Vermelho.
A denúncia da Promotoria indica vínculos dos acusados com o CV nos complexos da Maré e do Alemão. Nesta investigação, a Promotoria aponta que TH Joias nomeou suspeitos para cargos na Alerj, intermediou compra e venda de drogas, armas de fogo, aparelhos antidrones e fez pagamentos a traficantes.
Segundo a Polícia Civil, instituições financeiras emitiram alertas sucessivos sobre as empresas ligadas a TH, o que reforçaria, de acordo com a investigação, a suspeita de lavagem de dinheiro.
A investigação deve continuar para apurar mais suspeitas. Promotores afirmam que há indícios do uso de uma loja de produtos oficiais de um clube de futebol, localizada fora do estado, para a lavagem de dinheiro do tráfico. Também devem apurar a participação de um advogado, ainda não identificado, na intermediação do pagamento de propinas a policiais.
Além de TH, dois denunciados são acusados de fazer o controle financeiro do grupo, guardando dinheiro, e um outro seria o fornecedor do antidrone.
Já a investigação da PF mira agentes públicos: além de TH Joias e do ex-secretário Alessandro Carracena, estão entre os alvos um delegado da própria PF que atua no aeroporto internacional do Rio e policiais militares. A PF aponta que o grupo acessava informações sigilosas e se aproveitava dos cargos para garantir impunidade. Eles também são suspeitos de importar armas do Paraguai e antidrones da China.
A Justiça Federal determinou afastamento dos agentes públicos e a suspensão de atividades de empresas usadas, supostamente, para lavagem de dinheiro.
As polícias Civil e Federal não divulgaram o período em que os supostos crimes teriam ocorrido.
A operação da PF cumpre 18 mandados de prisão preventiva e 22 mandados de busca e apreensão, um deles na sede da Alerj, no centro do Rio. O TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) também determinou o bloqueio de bens dos investigados, em valor que chega a R$ 40 milhões.