SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No bairro de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, há um local de peregrinação para católicos de todo o mundo. É ali, na avenida João Dias, que fica a primeira e única paróquia dedicada a Carlo Acutis, que será declarado santo no domingo (7).
A canonização é um marco para a Igreja Católica, que dá as boas-vindas a um santo adolescente, que vestia calça jeans e jogava videogame.
Acutis era um estudante italiano que morreu em 2006, aos 15 anos, devido à leucemia. Nascido em 1991, criou um site para catalogar milagres e aparições da Virgem Maria, além de divulgar os ensinamentos da igreja. Assim, é considerado o primeiro millennial a virar santo.
No vocabulário de hoje, pode-se dizer que o novo santo era um influencer dos anos 2000. Sua imagem na Paróquia Universitária Beato Carlo Acutis poderia ser de algum estudante do liceu ou da universidade que também funcionam ali.
“Ele jogava PlayStation, era escoteiro. Nós achamos que era uma mensagem positiva de que para ser santo não precisa ser padre ou freira, você pode ser um jovem estudante”, diz o vigário da paróquia, o padre Gilberto Lombardo.
Ele viu o movimento na paróquia dedicada ao futuro santo se intensificar nesta semana. Outro motivo que explica a procura dos fiéis é que ali está uma relíquia do beato dada pela família de Acutis. É uma pequena parte da pele do garoto, cujo corpo praticamente intocado está exposto em Assis, na Itália.
“A relíquia não é o que fundamenta a fé, mas alimenta a devoção. Ela é um sinal da presença do santo”, explica o padre Lombardo.
Para alguém ser considerado santo pela Igreja Católica, é necessário que haja dois milagres atribuídos a essa pessoa reconhecidos pelo Vaticano. O primeiro de Acutis foi no Brasil, em Mato Grosso do Sul.
Matheus Vianna tinha três anos e uma doença congênita no pâncreas considerada incurável na época. A família o levou até a Capela Nossa Senhora de Aparecida, em Campo Grande, onde estava exposto um pedaço da camiseta de Acutis para pedir que ele intercedesse pela criança.
Matheus foi curado e o milagre confirmado por uma junta médica. Esse não é o único vínculo com o Brasil: Acutis morreu em um 12 de outubro, dia de Nossa Senhora, padroeira do país, e será canonizado no dia 7 de setembro, data da independência. Para Lombardo, isso não é coincidência, são pedaços de uma história bem escrita.
Quando o centro universitário adotou um caráter mais humanista e católico, os donos decidiram fazer uma capela dentro do espaço. O local abrigava 12 pessoas, mas a demanda era maior. A capela se transformou em paróquia justamente na época da beatificação de Acutis.
A relação com a família do garoto se consolidou quando um padre da instituição viajou para a Itália em 2020. Por coincidência ou destino, quando a pandemia de Covid-19 se consolidou e os aeroportos fecharam, o padre se viu impedido de deixar o país. Logo virou hospede da família de Acutis, e a visita virou uma estadia de oito meses.
Uma das histórias contadas pela mãe de Acutis é que ele apareceu em um sonho e dizia que, após sua canonização, viria uma grande geração de muitos santos. Segundo o padre Lombardo, há um estudante no liceu que ao saber da história declarou que quer pertencer à nova geração.
“Ninguém disse isso a ele, ele ouviu e chegou a essa conclusão. Então a gente percebe que a escolha foi acertada”, diz.
A professora Magna da Rocha é mãe de um adolescente que também se inspira em Acutis. “O papa João Paulo 2º dizia que nós precisávamos de uma geração de santos de calça jeans”, lembra. Não por acaso, o corpo do beato exposto em Assis veste camisa, calça jeans e tênis Nike. “É uma santidade que fala muito para os nossos tempos”, diz Magna.
Ela é mãe do estudante Francisco da Rocha, 16. “Eu olho para o meu filho hoje e percebo que ele tem a cara de um santo, o que me leva a ver que é possível, é necessário e é uma grande riqueza que a igreja nos apresente um santo de calça jeans e mochila nas costas”, diz.
Para o estudante, Acutis representa uma santidade mais próxima. “Porque santo parece que é uma realidade fora do normal, só que a igreja mostrou um santo da nossa idade, com os mesmos hábitos que a gente. Ele fazia tudo o que uma pessoa normal faz e virou santo”, diz Francisco.
A publicitária Samyra Bersi não é devota do santo, é amiga. Ela foi responsável por criar a campanha do filme que conta a história do garoto que, no início, só conhecia o nome.
“Eu me apaixonei pela singeleza de um cara que é um ano mais velho que eu, que teve uma vida tão curta, mas tão significativa”, diz.
Bersi se converteu ao catolicismo há cerca de quatro anos, e se define como cristocêntrica. Isso significa que a sua fé é mais focada em Jesus Cristo do que em santos, mas o envolvimento emocional com a história Acutis foi o diferencial para torná-la devota-amiga.
“É um santo do nosso tempo para o nosso tempo”, afirma.