SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um policial civil de São Paulo foi condenado pela Justiça a 11 anos e três meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e à perda da função pública. Segundo a sentença da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, o agente também deverá pagar indenização por danos coletivos de R$ 724.874,68.
A Folha de S.Paulo apurou que o condenado é Marcelo Marques de Souza, conhecido como Bombom. Investigador de polícia classe especial, com salário mensal de R$ 10 mil, foi um dos citados por extorsão pelo empresário e delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro do ano passado. Dias antes de morrer, ele havia dito em depoimento que era alvo de extorsão dos policiais.
Questionada, a defesa dele afirmou que já apresentou recurso contra a sentença e opôs embargos de declaração (quando se solicita que o juiz esclareça ou corrija uma decisão). “No entender desta defensoria técnica, a prestação jurisdicional é extremamente injusta e afronta toda a constelação probatória produzida na ação penal”, escreveu o advogado Eugênio Malavasi.
Bombom passou a ser investigado pela Operação Tacitus, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo no início deste ano.
Ele está preso preventivamente e não poderá recorrer em liberdade, segundo o Ministério Público. Uma operação de junho da Polícia Federal, que também mirou o vazamento de informações sigilosas de agentes públicos, prendeu o agente junto com outro policial e um empresário e piloto da Copa Truck.
Segundo a PF, as apurações indicam que eles atuavam para favorecer ilegalmente pessoas investigadas em inquéritos criminais, mediante o pagamento de vantagens indevidas.
Na função de chefe dos investigadores do Cerco (Corpo Especial de Repressão ao Crime Organizado) da 5ª Delegacia Seccional de São Paulo, Marques “solicitava e recebia vantagens indevidas de estabelecimentos que exploravam prostituição, jogo de azar, bem como de desmanches, deixando de agir ou retardando atos de ofício”, segundo a investigação.
O esquema era conhecido como “recolhe” ou “recolha”, segundo o Gaeco, e envolvia o pagamento de propinas regulares por esses estabelecimentos situados na zona leste da cidade de São Paulo. A prova de que ele recolhia dinheiro estaria inclusive nas mensagens em celulares apreendidos pela investigação.
Também segundo o Gaeco, Marques chegou a esconder debaixo de uma cama em seu apartamento, no Tatuapé, na zona leste, R$ 700 mil em dinheiro.
Na denúncia, os promotores disseram que Marques promovia o PCC (Primeiro Comando da Capital) assegurando controle territorial e dos negócios ilícitos de membros da facção, além de garantir a impunidade das ações do grupo. Ele também teria recebido dinheiro de pessoas apontadas como lideranças da facção segundo um dos diálogos gravados por Gritzbach.
Uma dessas lideranças era, diz a denúncia do MP, Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, morto em 2021. Gritzbach era apontado como mandante do homicídio, o que ele negava.
Segundo a denúncia, após as mortes de Cara Preta e Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, Bombom teria sido contatado por outros policiais civis denunciados para tentar obter vantagens dos patrimônios dos suspeitos a partir das investigações.
No apartamento de Bombom, foi localizada uma planilha impressa com várias páginas contendo nomes, apelidos, endereços e valores o que indicaria o recebimento de propina na região onde ele trabalhava como policial.