SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um festival de artes onde as múltiplas formas de levar a mensagem ao público e o público conseguir chegar às manifestações artísticas são tão importantes quanto as próprias apresentações. É com esse espírito que o AcessaBH, maior evento do país da chamada cultura def, chega à sua quinta edição a partir desta sexta-feira (5).

A maratona, que privilegia produções de pessoas com deficiência como protagonistas ou com vanguarda de acessibilidade em suas exibições, terá cerca de 30 atrações e se estende até o dia 28 de setembro de forma gratuita. A longevidade é proposital e atende peculiaridades de parte do público envolvido.

“Temos um espetáculo por dia. Quando há mais de uma atividade, é uma oficina ou exibição de um filme. O alongamento é proposital. É muito mais complexo para uma pessoa com deficiência conseguir maratonar um evento. Ela tem outro tempo de deslocamento, de cansaço e queremos que ela consiga aproveitar tudo”, afirma Daniel Vitral, curador e coordenador geral do festival.

Mas o desafio maior do AcessaBH não está em juntar público. As quatro casas de espetáculos —Funarte MG, Sesc Palladium, Centro Cultural Unimed-BH e Palácio das Artes— costumam ficar lotadas ao longo do evento, que já formou público cativo. A questão maior para a organização é que os artistas tenham condições acessíveis de chegar aos palcos, camarins e bastidores.

“Muita coisa evoluiu, melhorou ao longo desses anos em que fazemos o festival. Em espaços mais novos, a acessibilidade é melhor, mas em outros temos de fazer adaptações, criar soluções para acomodar o público e dar conforto aos artistas. Há casos em que é preciso improvisar rampas para o palco e outros que no camarim não há banheiro acessível”, declara Daniel.

Lais Vitral, também curadora e idealizadora do evento, explica que os trabalhadores envolvidos na organização passaram por rodas de conversa para entender melhor especificidades que o público possa ter.

“Foi com toda a equipe de bilheteria, seguranças, técnicos, todos queriam saber sobre como abordar uma pessoa com deficiência. Há um receio que vem da falta de convivência e isso pode criar uma barreira, mas sentimos que, a cada ano, a gente evolui. Grandes obras precisam de orçamento, mas pequenas mudanças fazem muita diferença”, diz a curadora.

O AcessaBH conta com espetáculos teatrais, performances, shows, exibições audiovisuais, oficinas, bate-papos e lançamento de livros, com artistas de nove estados do país e uma participação do Reino Unido. O espírito da iniciativa é a valorização da chamada cultura def.

“A autenticação do termo cultura def surgiu de muito conversar com vários artistas. Tínhamos de tomar uma posição e tomamos. Muita gente ainda não conhece o termo, mas adotamos e vamos divulgar”, afirma Daniel.

Um dos destaques da programação é a atriz cearense Jéssica Teixeira, laureada com o prêmio Shell na categoria de direção, em 2024, e que leva ao evento o espetáculo Monga, que aborda os diferentes corpos e a exploração das imagens.

“É uma honra estar na abertura do festival. Tenho no AcessaBH a melhor recepção. É prazeroso e fértil estar nesse evento para trocas de experiências, partilhas e saberes. Também lançarei o livro ‘Monga’ no evento”, declara a atriz.

Todas as apresentações, de acordo com a organização, vão contar com acessibilidade física e oferecer cadeira de rodas para quem precisar do equipamento. Cães-guia identificados vão poder acompanhar seus tutores e haverá tradução em Libras.

Os filmes terão legendas, tradução em Libras e audiodescrição integrada, recurso também presente nos espetáculos. O público terá acesso a abafadores de ruído e pranchas de comunicação alternativa aumentativa —recurso com símbolos, imagens ou palavras para ajudar pessoas com dificuldades na fala.

Uma sala de regulação sensorial estará preparada na Funarte e o receptivo nos teatros contará com equipe capacitada para interagir com todos os públicos.

Pelo menos mais três estados demonstraram interesse em abrigar edições do festival já a partir do ano que vem: Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Pará.

Destaques do Festival AcessaBH

“Monga”, espetáculo de Jéssica Teixeira; 5/09, às 20h, no Sesc Palladium

“Os Irmãos Karamázov”, estrelado e dirigido por Caio Blat, ao lado de Marina Vianna; 12/09, às 20h, Centro Cultural Unimed-BH Minas

Hermeto Pascoal & Grupo (AL); 13/09, Centro Cultural Unimed BH-Minas

“Capengá”, espetáculo solo com Estela Lapponi; 18/09, às 20h, Funarte MG

“Maria quer ser rio”, espetáculo com Coletiva de Palhaças (AM); 20/09, às 16h, Funarte MG

“That’s Why Deers Run”, espetáculo teatral com a britânica Dora Colquhoun; 25 de setembro, às 19h30, Funarte MG

“Nem um Som Sequer”, videoclipe musical e “Ainda Estou Aqui”, sessão comentada; 16/09, às 19h, Palácio das Artes

A programação completa está em acessabh.com.br