SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um estudo de vida real que teve parte dos resultados apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) 2025 sugere que a semaglutida (Wegovy) na dose de 2,4 mg foi superior à tirzepatida (Mounjaro) na dose de 15 mg na redução do risco de infarto, AVC ou morte.

A análise, intitulada STEER, demonstrou que a semaglutida reduziu o risco combinado desses eventos cardiovasculares em 57% em comparação com a tirzepatida —produzida e comercializada pela Eli Lilly. Procurada pela reportagem, farmacêutica diz que não comenta estudos que não conduziu.

Considerando todos os pacientes tratados com semaglutida —inclusive aqueles que interromperam o tratamento temporariamente—, houve uma redução de 29% no risco de eventos cardiovasculares em comparação aos usuários de tirzepatida, além de uma diminuição de 20% nos MACE (eventos cardiovasculares maiores), independentemente da perda de peso.

De acordo com a endocrinologista Marília Fonseca, diretora médica da Novo Nordisk (fabricante do Wegovy), “tratar a obesidade em um paciente cardiopata deixa de ser uma recomendação e passa a ser uma estratégia prioritária de prevenção”. A endocrinologista Paula Pires, reforça também que os benefícios cardiovasculares da semaglutida vão além do emagrecimento.

Estudos comprovaram efeitos benéficos no sistema vascular, com melhorias na pressão arterial, no perfil lipídico e no controle glicêmico, entre outros. Pires afirma que o “risco cardiovascular é principal causa de morte no Brasil e no Ocidente”.

O endocrinologista João Salles, presidente eleito da SBD, explica que não há estudos clínicos comparando diretamente semaglutida e tirzepatida em desfechos cardiovasculares. Até agora, só havia evidência de que a tirzepatida promove maior perda de peso.

Com base no STEER, a semaglutida teve melhores resultados que a tirzepatida em eventos graves como infarto, AVC e morte cardiovascular (desfecho chamado de “3-point MACE”). Já quando se analisou o risco de morte por qualquer causa (chamado de “5-point MACE”), a tirzepatida apresentou melhor desempenho.

Esse tipo de estudo é feito com bancos de dados, o que traz informações próximas do dia a dia, mas com menor rigor científico. Ele cita também que o acompanhamento do estudo foi de apenas oito meses —um período curto para avaliar doenças cardiovasculares.

Salles completa que “no geral, os análogos de GLP-1, e mais recentemente os duais, que atuam também no GIP, vêm demonstrando perfil de segurança e benefícios consistentes na redução de eventos cardiovasculares”.

A semaglutida, por ser uma molécula mais estabelecida e com maior tempo de uso clínico, já conta com um conjunto mais robusto de evidências que comprovam esses efeitos protetores. No entanto, a base detalhada desses benefícios ainda está em construção em medicamentos mais recentes.

Salles ressalta que estudos como esse são fundamentais para o avanço do conhecimento, mas devem ser interpretados como parte de um corpo de evidências mais amplo. “Novas pesquisas serão essenciais para consolidar o entendimento sobre a proteção cardiovascular oferecida por moléculas que atuam no receptor de GLP-1 isoladamente ou em combinação com o GIP”.

O estudo, feito com dados do banco norte-americano Komodo Research, comparou 10.625 pacientes que iniciaram tratamento com Wegovy (semaglutida) e outros 10.625 com tirzepatida a partir de maio de 2022. A análise sugere que os benefícios cardiovasculares da semaglutida 2.4 mg são específicos da molécula e não são extensíveis a outras medicações baseadas em GLP-1 ou GIP/GLP-1.

No Brasil, o uso da semaglutida segue restrito ao tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade/sobrepeso com comorbidades, conforme aprovado pelas agências regulatórias.