SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Cinéfilo Nem É Gente”, o primeiro livro do crítico Gabriel Trigueiro, sacia um interesse do próprio autor, que por vezes prefere ler críticos que escrevem sobre cinema do que ver filmes.

Trigueiro diz que a obra, que reúne suas críticas para diferentes jornais, incluindo a Folha de S.Paulo, e também alguns textos inéditos, é menos sobre cinema do que sobre a escrita sobre cinema.

A linha curatorial do livro é difícil de definir mesmo para o autor, com filmes antigos e novos, séries e longas, da não ficção à animação. A publicação, como ele aponta, faz o estilo de almanaques como os do crítico americano Leonard Maltin —livros que Trigueiro consumia durante a infância e a adolescência reunindo indicações de títulos diversos curados pelo autor.

A obra de Trigueiro é bastante ditada pelo streaming, mas também recupera alguns títulos de sua memória. Sua intenção ao publicar esse livro, segundo ele, é dar destaque a produtos que “fogem do hype e do buzz” que as redes sociais e o jornalismo perseguem.

E também oferecer alternativas ao apagamento cultural que, segundo ele, promovem os catálogos de streaming. “As plataformas democratizaram a produção em muitos níveis, mas também trouxeram um sentido de esquecimento. Coisas produzidas há dez anos já são consideradas velhas”, afirma.

As críticas reunidas em “Cinéfilo Nem É Gente” têm como diferencial a formação do autor. Com mestrado e doutorado no sistema partidário dos Estados Unidos, Trigueiro produz textos que unem uma combinação diferente de cultura pop e política.

Ele também não tem medo de “chamar as coisas pelo nome”, diz, se valendo de seus estudos para entender as escolhas políticas por trás de produtos artísticos e de entretenimento. “Minha elaboração é pelo intelecto, mas o impulso inicial de escrever sobre os filmes é a emoção.”

Todas são críticas literárias —na acepção do autor, críticas culturais que têm valor literário por sua qualidade de escrita. Para ele, mesmo o filme ruim pode gerar boa literatura. “Um bom escritor torna interessante até o dia a dia de um contador”, brinca.

O livro é dedicado a Pauline Kael, uma das maiores inspirações de Trigueiro, que dedica a ela um texto ao final do livro. A americana une duas das coisas que o crítico brasileiro diz mais admirar na vida —”a capacidade de acertar de um jeito muito bonito e com muito conhecimento e a capacidade de errar muito e, às vezes, grosseiramente”.

Ele diz que o que torna ambas as coisas bonitas é a coragem da crítica. O erro, em sua visão, revela destemor em mergulhar com paixão no cinema e na vida.

O título “Cinéfilo Nem É Gente” foi tirado de um texto sobre o diretor americano de ascendência indiana M. Night Shyamalan. “Eu tenho respeito ao cinema como forma de arte e também às pessoas apaixonadas por cinema, mas o cinéfilo às vezes pode ser muito pernóstico. Eu acho que a gente ganha mais não se levando tão a sério —e o cinema ganha também.”

CINÉFILO NEM É GENTE

– Preço R$ 69,90 (208 págs.)

– Autoria Gabriel Trigueiro

– Editora Sapopemba