SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao desembarcar em Brasília nesta terça-feira (2) para articular a anistia de Jair Bolsonaro (PL) enquanto ele era julgado no STF (Supremo Tribunal Federal), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) suavizou o clima de guerra com o clã do ex-presidente.

Apoiadores da família Bolsonaro ouvidos pela reportagem avaliaram que a ida à capital representou uma mudança de rota positiva, que corrigiu o que classificavam de omissões por parte do governador —Tarcísio havia dito que permaneceria em São Paulo durante o julgamento e planejava uma postura de discrição.

Embora Tarcísio seja considerado pelos partidos do centrão e da direita como o principal candidato para concorrer contra Lula (PT) no ano que vem, seu nome vinha sendo criticado por bolsonaristas pela falta de empenho para livrar o líder da prisão. Os filhos do ex-presidente, em especial o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos, querem manter a herança política do pai em família.

Há duas semanas, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) publicou texto nas redes sociais dizendo que os “governadores democráticos” que tentavam se cacifar à Presidência se comportavam “como ratos” e não eram diferentes de petistas. A mensagem foi republicada por Eduardo.

Essa resistência é considerada, por aliados, uma das etapas a serem vencidas pelo governador para que ele receba o apoio de Bolsonaro para as eleições presidenciais. Oficialmente, Tarcísio diz que concorrerá à reeleição em São Paulo.

Ao se engajar na batalha pela aprovação da anistia, contudo, segundo relato de um integrante do grupo, Tarcísio trouxe a expectativa de que parlamentares do centrão e da direita, que querem estar com ele nas eleições, embarquem na pauta.

Logo após a entrada explícita de Tarcísio no circuito, a federação União Progressista, formada por União Brasil e PP, anunciou apoio à medida. Ciro Nogueira, presidente do PP, é um dos cotados para o posto de vice em uma eventual chapa de Tarcísio. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), admitiu a possibilidade de colocar o projeto na pauta de votações.

A movimentação desses parlamentares é uma resposta às críticas da família de que esses políticos estariam disputando o espólio eleitoral de Bolsonaro sem um verdadeiro empenho em tirá-lo da prisão, conforme mostrou a Folha de S.Paulo.

A sinalização mais clara de que a movimentação de Tarcísio foi bem recebida pelo grupo veio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que elogiou no Senado o gesto do governador nesta terça, dizendo a jornalistas que ele havia entrado de cabeça nas articulações.

Tarcísio já havia escolhido a anistia como principal discurso contra o julgamento de Bolsonaro, diante da percepção de que a condenação do ex-presidente no STF era iminente. Contudo, até o fim da semana passada, seu plano era articular a aprovação do projeto à distância, em São Paulo.

“Acho que dá para se construir um ambiente para aprovar. É algo que na história do Brasil já aconteceu diversas vezes, e [tenho] uma convicção absoluta da inocência do Bolsonaro”, disse o governador, na sexta-feira (29).

O grupo mais próximo de Bolsonaro, porém, já pressionava o governador por gestos mais agressivos para livrar o líder da prisão antes mesmo de o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decretar no dia 4 de agosto a prisão domiciliar do ex-presidente por tentativa de obstrução ao julgamento.

Como a Folha de S.Paulo informou, até ali, parte do núcleo ao redor do ex-presidente queria que Tarcísio levasse aos ministros do STF uma proposta de acordo, em que Bolsonaro seria mantido inelegível, mas todos os condenados pela trama golpista receberiam o perdão. O governador, contudo, era resistente à ideia.

Tarcísio foi procurado pela reportagem para comentar suas movimentações, mas não respondeu.

Segundo as trocas de mensagens divulgadas pela Polícia Federal entre Bolsonaro e seu filho Eduardo, no indiciamento por obstrução à Justiça, o filho do presidente também tinha ressalvas à aprovação de uma anistia no Congresso.

Eduardo disse ao pai que, se uma “anistia light” passasse, a última ajuda vinda dos Estados Unidos seria um post, feito pelo presidente Donald Trump, em que o republicano afirmou que o Brasil estava fazendo uma “coisa horrível” ao ex-presidente —Trump impôs sobretaxas de 50% a produtos brasileiros em seu país para pressionar pelo fim do julgamento.

Em outra mensagem, Eduardo atacou o governador de São Paulo. “Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se foder e se aquecendo para 2026.”