PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – A China apresentou pela primeira vez sua tríade de armamentos nucleares no desfile militar de Pequim nesta quarta-feira (3), com estratégia que inclui meios terrestres, aéreos e marítimos. Exibiu ainda o poder bélico do Exército de Liberação Popular em um espetáculo protagonizado pelo líder chinês Xi Jinping.

A trindade apresentada pelo país asiático inclui o míssil de longo alcance lançado pelo ar JingLei-1, o míssil intercontinental via marítima JuLang-3 e dois mísseis intercontinentais terrestres DongFeng-61 e DongFeng-31, segundo a agência estatal chinesa. O órgão afirma que se trata de um poder estratégico para garantir a soberania do país.

Quando ganharam os olhos da plateia que assistia ao desfile na Praça Tiananmen e foram anunciados como armas nucleares, o público bateu palmas e saudou em forma de surpresa e aprovação.

Os mísseis foram um dos últimos artefatos apresentados pelo Exército de Xi, que abriu as comemorações com uma revista às tropas chinesas, sendo o único dos homens presentes que dispensou o terno tradicional para dar lugar a um conjunto característico de Mao Zedong, cujo gigante retrato está posicionado ao centro da praça.

O desfile celebra os 80 anos da vitória da China na chamada Guerra da Resistência contra o Japão e na Segunda Guerra Mundial, batizada por Pequim de Guerra Mundial Antifacista. Além das armas nucleares, o desfile apresentou jatos, tanques de guerra, sistemas de intercepção de mísseis, caminhões, foguetes, submarinos e diversos tipos de aeronaves.

Xi abriu o desfile com um discurso em que convidou o povo chinês a ser fiel ao pensamento socialista e às doutrinas marxistas-leninistas, e salientou que o país não teme a violência.

“A história nos adverte de que o destino da humanidade está interligado. Somente tratando-se mutuamente com igualdade, convivendo em harmonia e ajudando-se uns aos outros, as nações e povos do mundo poderão manter a segurança comum”, disse.

“Hoje, a humanidade enfrenta novamente uma escolha entre paz e guerra, diálogo e confronto, ganhos mútuos e jogos de soma zero. O povo chinês permanece firmemente ao lado da justiça da história.”

O início do desfile foi marcado pelo disparo de 80 tiros de canhões em referência à celebração, além da entrada de Xi ao lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e de Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte. Em um espetáculo cuidadosamente ensaiado, tropas tomaram uma das avenidas principais de Pequim, formando imagens simétricas e repetitivas, como o esperado.

Bonés vermelhos e verdes foram distribuídos, juntamente com pequenas bandeiras da China que eram balançadas conforme a liderança de funcionários locais misturados ao público. Eles eram os responsáveis por incentivar gritos e palmas, além de manter a ordem da plateia –algo seguido cuidadosamente pelos presentes.

As celebrações ocorrem um dia após Xi se reunir com diversos líderes por ocasião da Organização para Cooperação de Xangai, no último final de semana, e por decorrência da visita dos chefes de Estado para o próprio desfile militar em uma campanha organizada pelo regime para consolidar sua influência no Oriente e mostrar unidade frente às sanções econômicas impostas por Donald Trump.

Participaram dos encontros líderes como o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian; o presidente do Turcomenistão, Serdar Berdimuhamedov; o presidente do Tadjiquistão, Emomali Rahmon, e o presidente da Mongólia, Ukhnaa Khurelsukh, que também participou de encontro com a presença de Putin.

Destaque maior foi dado ao russo, que afirmou que a Rússia e a China chegaram a um nível “sem precedentes” em suas relações. No evento desta quarta, Putin se colocou ao lado de Xi em momentos chaves da celebração.

O movimento também ocorre em um momento em que Trump tenta negociar o fim da Guerra da Ucrânia com Putin.

O desfile militar também ignorou os feitos dos americanos em território chinês. O país se colocou como o único vencedor das guerras, apesar de terem sido os EUA os principais responsáveis pelos combates que deram cabo ao conflito com o Japão.

Quando os últimos soldados terminaram de cruzar a Praça Tiananmen, milhares de pássaros e balões foram soltos no ar, colorindo o céu que momentos antes havia sido palco da última geração de jatos, aviões e helicópteros de guerra.