SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, PIB desacelera (e isso não é necessariamente ruim), o tango mais triste de Javier Milei e outros destaques do mercado nesta quarta-feira (3).

**OLHOS NO STF**

Economia e política são caminhos que se cruzam com alguma frequência. Difícil começar um dia nesta semana falando de outra coisa que não seja o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados por envolvimento em uma trama golpista.

Listo os impactos que a ação no STF (Supremo Tribunal Federal) pode causar (ou já está causando?) nos mercados.

[1] Cutucando a onça com a vara curta

Opositores, governistas, centrão… todos sabem que a possível condição de Bolsonaro pode provocar mais sanções econômicas vindas de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.

Vale lembrar que a sobretaxa de 50% que o Brasil enfrenta no momento foi justificada pela Casa Branca com uma repressão a uma suposta “perseguição da Justiça brasileira” contra Bolsonaro.

Alas bolsonaristas contam com uma maior pressão trumpista sobre a economia brasileira como uma forma de ampliar os esforços pela anistia do ex-presidente.

[2] Aversão ao risco…

É o sentimento geral dos investidores —um jargão do mercado para descrever o momento em que todos procuram ativos percebidos como seguros e se afastam daqueles vistos como voláteis.

No Brasil, negociadores veem a possibilidade de tarifas adicionais sobre as exportações do país para os Estados Unidos como um risco para os negócios.

O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, fechou a terça-feira em queda de 0,67%. Na mínima do dia, recuou quase 1%.

↳ Os papéis do Banco do Brasil, o mais afetado pelas incertezas da Lei Magnitsky —e o responsável pelo pagamento dos ministros do STF— lideraram as quedas do índice, com desvalorização de 3,17%.

O dólar fechou em alta de 0,66%, cotado a R$ 5,475.

↳ Além do julgamento, os investidores refletiam perdas no mercado americano, fator que pode contribuir para a alta da divisa dos EUA. Os três principais índices acionários —S&P 500, Nasdaq Composite e Dow Jones— recuaram ontem.

**PISOU NO FREIO**

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro desacelerou 0,4% no segundo trimestre, em relação ao anterior. A desaceleração de um indicador nem sempre é um sinal ruim —nesse caso, a notícia endossa uma percepção que agrada parte do mercado. Vamos entender.

A LEITURA

O resultado, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), confirma que a economia nacional está pisando no freio.

O PIB havia crescido 1,3% no primeiro trimestre, sob impacto da supersafra de grãos.

O número indica que o plano do Banco Central está funcionando: o alto patamar da taxa básica de juros está colaborando para reduzir a atividade econômica.

A Selic está em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006.

BE-A-BÁ

A política monetária clássica prega que aumentar os juros é uma forma eficiente de segurar a inflação. O crédito fica mais caro, o que dificulta acesso a recursos financeiros e esfria o consumo. Com menos gente comprando, os preços vão, aos poucos, caindo.

O raciocínio básico é esse, mas a aplicação na realidade é influenciada por muitos outros fatores —nem sempre regulares ou mensuráveis.

CONTRADIÇÃO

A economia brasileira está sofrendo influências que se contrapõem: de um lado, a política monetária restritiva, de outro, a política fiscal solta. Se os juros seguram os gastos da população, programas sociais e o desempenho positivo do mercado de trabalho incentivam o consumo.

“É uma economia que está funcionando razoavelmente bem. Não tem milagre de crescimento, mas está crescendo”, afirma Claudio Considera, do FGV Ibre.

PROJEÇÕES

O mercado financeiro espera aumento de 2,19% para o PIB no acumulado de 2025, conforme a mediana do boletim Focus, divulgado pelo BC (Banco Central).

O Ministério da Fazenda projeta crescimento de 2,5%, com leve viés de baixa na estimativa. No ano passado, o avanço do PIB foi calculado pelo IBGE em 3,4%.

A pergunta do milhão: e esses juros aí, caem ou não caem? Em um primeiro momento, a resposta deve ser não. Ainda há muita água para rolar: tarifas de Trump, ano eleitoral… é cedo para determinar qual é o estado da atividade econômica.

Contudo, um PIB em desaceleração contribui bastante para um cenário favorável para a queda de juros.

**UM TANGO ECONÔMICO**

Os acordes do tango são sempre melancólicos e muitas canções do gênero abordam corações quebrados e toda sorte de sofrimento cardíaco. Na Argentina, a dança da vez é a crise no governo de Javier Milei.

O Tesouro argentino anunciou uma intervenção no mercado cambial. É uma tentativa de segurar a derrocada do peso frente ao dólar, quebrando os corações daqueles que acreditavam que o governante ultraliberal poderia salvar a economia argentina da crise.

GOTA D’ÁGUA

A notícia de que Karina Milei, irmã do presidente, estaria envolvida em um esquema de corrupção é o maior revés da gestão até aqui —a lista inclui polêmica com criptomoedas, aumento da desigualdade e retirada de benefícios sociais.

Áudios vazados citam Karina como uma das beneficiadas pela propina arrecadada em contratos do governo com redes de farmácias.

Opositores de Milei arremessam pedras contra o presidente da Argentina durante comício em Lomas de Zamora, na província de Buenos Aires – Foto: Juan Mabromata – 27.ago.25/AFP

COMO ASSIM?

Em um primeiro momento, a leitura do mercado é que o escândalo fez os investidores repensarem a confiança depositada no líder argentino como um gestor eficiente de uma economia em crise.

Por isso, muitos estão tirando dinheiro de ativos do país e colocando no dólar, movimento que leva à disparada da moeda americana.

DESESPERO?

Até agora, o governo vinha tentando controlar as tensões no mercado subindo a taxa referencial de juros, uma forma de demonstrar controle da trajetória da inflação. A medida se mostrou insuficiente, dado o tamanho da crise.

Uma intervenção no mercado de câmbio é uma derrota para a gestão, que se esforçava para segurar a volatilidade da taxa de conversão da moeda nacional para o dólar —e para defender uma economia com pouca intromissão do poder público.

NA TOCA DO LEÃO

Milei perde as rédeas da economia, a área de maior destaque de seu perfil político, poucos dias antes de uma eleição importante.

No domingo, 7 de setembro, Buenos Aires escolhe representantes do legislativo municipal e, em 26 de outubro, serão eleitos os deputados e senadores nacionais. Caso não conquiste a maioria dos plenários, o governante terá mais dificuldade na realização do que prometeu.

**ENERGIA ATÉ DEMAIS**

É possível ter demais de algo que parece sempre em falta? Aparentemente, sim. O Brasil está produzindo tanta energia que os cortes na geração —feitos para evitar problemas no sistema— têm alcançado patamares recorde.

COMO ASSIM?

A interrupção é mais comum em usinas eólicas e solares, e, neste ano, a aplicação dela cresceu tanto que já compromete um quinto da produção total dessas fontes.

O corte por sobreoferta é necessário porque o sistema elétrico precisa funcionar em equilíbrio e sem grandes diferenças entre geração e consumo. Caso contrário, pode haver desgastes sérios da infraestrutura.

O dilema: como pode um sistema que aciona a bandeira vermelha nas contas de luz desperdiçar energia de fontes renováveis?

Neste momento, como você pode ter percebido na sua própria conta, as tarifas de luz estão mais caras. A Aneel aciona o dispositivo chamado de “bandeira vermelha” quando há escassez na geração de energia. A conta mais cara tem a intenção de fazer as casas reduzirem o gasto energético.

UMA RESPOSTA

Segundo especialistas, há um descompasso entre os picos de produção e consumo de energia. Nos momentos de maior produção de energia solar, como pela manhã, o consumo é baixo. À noite, pelo contrário, não há produção, mas há gasto.

Isso faz com que, apesar da sobra em determinados momentos, o país ainda precise manter fontes de energia firme —como hidrelétricas e termelétricas— para garantir o suprimento quando o sol ou o vento não estão disponíveis.

Essa garantia é necessária também porque as fontes renováveis são intermitentes e não asseguram geração contínua ao longo do dia.

MAIS PROBLEMAS

Há dificuldade na distribuição da energia produzida nos formatos mais modernos. A geração distribuída já supera 42 GW (gigawatts) de capacidade instalada e deve alcançar 50 GW até 2028. Do que serve produzir se essa energia não chega a lugar algum?

A longo prazo, o embananamento no sistema pode afastar investidores — eles estão perdendo dinheiro com os cortes intermitentes. Se não mudar de postura, o Brasil pode perder o posto de “celeiro de energia limpa global” e, com isso, ver muito dinheiro indo embora.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Corte rápido. Trump afirmou que seu governo vai recorrer da decisão que considera ilegais as tarifas recíprocas aplicadas por ele e pede uma solução rápida à Suprema Corte.

Copia, só não faz igual. O grupo chinês BME —dono do Rosewood, hotel seis estrelas em São Paulo— está processando a Gafisa por uma suposta cópia da Cidade Matarazzo em um dos empreendimentos de luxo da construtora.

Caminhos separados. Kraft Heinz vai se dividir em duas empresas para impulsionar crescimento, 11 anos após fusão —uma será focada no setor de molhos e a outra, nos produtos de mercearia.

Hamburgueria na chapa quente. A rede de restaurantes Madero é alvo de 193 autos de infração por suspeita de irregularidades trabalhistas em BH.

Telefone não para. Clientes reclamam de assédio do telemarketing depois do fim do prefixo 0303.