BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Progressistas (PP), o senador Ciro Nogueira, antecipou a decisão do partido de deixar o governo depois de responsabilizar, em conversas reservadas, auxiliares do presidente Lula (PT) pela disseminação de suspeitas de que empresários envolvidos com o PCC (Primeiro Comando da Capital) teriam pagado propina a ele.

O senador nega “qualquer ligação com qualquer facção criminosa” e encaminhou ofício ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, colocando o sigilo telefônico e de seu gabinete à disposição para comprovar a afirmação.

A cúpula da federação União Progressista, dos partidos União Brasil e PP, decidiu nesta terça-feira (2) que todos os detentores de mandatos das siglas devem sair do governo Lula, num primeiro gesto de rompimento.

Na segunda-feira (1), o site ICL Notícias publicou reportagem segundo a qual uma fonte anônima disse que Ciro Nogueira recebeu em seu gabinete dinheiro vivo enviado por Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”.

Os dois foram alvos de megaoperação na semana passada e são acusados pela Receita Federal de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro do PCC, utilizando postos de combustível, refinarias e fundos de investimento.

Ainda segundo o ICL, a testemunha diz ter ouvido de Beto Louco o relato da entrega de dinheiro ao senador e contou essas informações à Polícia Federal em depoimento. O encontro teria ocorrido em agosto de 2024.

Um dos três jornalistas que assina a matéria, Leandro Demori é contratado da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), onde tem um programa. A emissora é vinculada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência, do ministro Sidônio Palmeira.

Instagram https://www.instagram.com/p/DOEoUZgiWSQ/?hl=pt-br *** Em reuniões com aliados nos últimos dias, Ciro teria afirmado que integrantes do governo espalharam informações falsas sobre o caso. Segundo um político que esteve com o senador, ele teria atribuído as acusações especialmente a Sidônio.

O parlamentar se queixa da reprodução da reportagem pela EBC e pelo site do PT, o que aponta como prova de participação de aliados de Lula na propagação desses rumores.

Nas conversas, Ciro chegou a manifestar a intenção de propor a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre comunicação do governo Lula e sua relação com sites.

O senador foi ministro da Casa Civil durante o governo Bolsonaro e é um dos principais entusiastas, nos bastidores, de uma candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Presidência nas eleições de 2026.

Ele e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, articularam juntos a criação da União Progressista, federação partidária lançada no último dia 19 que agora forma a maior bancada do Congresso Nacional, com 109 deputados federais e 15 senadores.

Segundo a decisão desta terça (2), os ministros filiados aos partidos da federação deverão deixar o governo. São eles André Fufuca (Esporte) e Celso Sabino (Turismo), deputados federais licenciados pelo PP e pelo União Brasil, respectivamente.

Há uma brecha, no entanto, para que indicações de políticos desses partidos, como os ministros Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) e Frederico de Siqueira Filho (Comunicações), continuem na Esplanada.

A federação também decidiu apoiar um projeto de anistia a Jair Bolsonaro (PL). Procurados, Ciro e Sidônio não se manifestaram.