WASHINGTON, EUA, SÃO PAULO, SP, E BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O presidente Donald Trump afirmou nesta terça-feira (2) que militares dos Estados Unidos destruíram um barco que estaria saindo da Venezuela supostamente carregado de drogas, matando 11 pessoas.
“Nos últimos minutos, nós acabamos, literalmente, de destruir um barco carregado de drogas. Havia muitas drogas nesse barco”, disse Trump a repórteres no Salão Oval. Mais tarde, em publicação na sua rede social, ele deu mais detalhes, dizendo que a embarcação pertencia à facção venezuelana Tren de Aragua.
“Nesta manhã, seguindo minhas ordens, as Forças Armadas dos EUA conduziram um ataque cinético contra narcoterroristas do Tren de Aragua”, escreveu o presidente americano. “O Tren de Aragua é uma organização terrorista estrangeira que opera sob o controle de Nicolás Maduro, responsável por assassinatos, tráfico de drogas e de pessoas, e atos de violência nos EUA e em todo o hemisfério ocidental.”
“O ataque ocorreu quando os terroristas estavam em águas internacionais transportando drogas ilegais em direção aos EUA. Como resultado, 11 terroristas morreram e nenhum soldado americano foi ferido. Que isso sirva de aviso a qualquer um pensando em levar drogas aos EUA. CUIDADO!”, concluiu Trump.
O presidente também publicou imagens do ataque. O vídeo começa com uma canoa em movimento, com pessoas a bordo. Segundos depois, o barco é atingido com o que parece ser um míssil, gerando uma explosão. Em seguida, a lancha aparece em chamas no mar.
O secretário de Estado, Marco Rubio, confirmou o episódio. “As Forças Armadas dos EUA conduziram um ataque letal no sul do Carribe [sic] contra uma embarcação de drogas que havia partido da Venezuela”, disse, grafando de maneira incorreta a palavra “Caribe”.
Até a noite de terça, o Pentágono não havia dado mais detalhes sobre a operação nem oferecido provas sobre a identidade das pessoas mortas, a suposta carga de drogas da embarcação ou seu destino.
O Ministro das Comunicações da Venezuela, Freddy Ñáñez, afirmou na terça que o vídeo divulgado por Trump é feito por inteligência artificial, publicando prints de uma consulta que fez à IA do Google na qual a ferramenta diz que há “alta probabilidade” de que o vídeo se tratasse de uma geração.
Sem mencionar o ataque à embarcação relatado por Trump, Nicolás Maduro disse, em uma live transmitida em suas redes sociais na noite desta terça-feira, que o envio de navios de guerra ao mar do Caribe é uma tentativa de Rubio de manchar as mãos da família Trump de sangue. O ditador afirmou que o secretário de Estado, que é filho de cubanos exilados, faz parte da “máfia de Miami”.
“Eles vêm pelo petróleo venezuelano, querem que ele seja grátis, temos a maior reserva de petróleo do mundo e a quarta [maior] de gás, vêm pela terra fértil. Isso não é de Maduro, é do povo da Venezuela”, disse ele.
“Vêm pela segunda riqueza, que talvez seja a principal, o projeto de Simón Bolívar, querem acabar com o exemplo do que estamos fazendo. Precisamos mostrar aos jovens americanos que a nossa democracia é verdadeira e que não gastamos o Orçamento com bombas para jogar em outros países. Na Venezuela vai ter paz com soberania.”
O Tren de Aragua é um grupo criminoso narcotraficante venezuelano que atua de maneira transnacional. A facção tem parcerias com os brasileiros Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho e foi designada pelos EUA como grupo terrorista junto de cartéis mexicanos e gangues salvadorenhas.
Os EUA enviaram pelo menos sete navios de guerra às águas próximas da Venezuela, junto com um submarino de ataque rápido movido a energia nuclear. A esquadra é tripulada por 4.500 marinheiros e fuzileiros navais. Washington também opera aviões espiões nas águas próximas à Venezuela.
O movimento é justificado pelo governo Trump como uma ofensiva contra o tráfico de drogas na região. Analistas, porém, veem a questão como um gesto para ampliar a pressão sobre Maduro.
O ditador venezuelano é considerado por Washington como líder do Cartel de los Soles, suposto grupo narcotraficante envolvendo o autocrata e altas autoridades civis e militares de Caracas, que rejeita a acusação. Especialistas negam que o grupo exista.
Nesta segunda (1º), Maduro disse em entrevista que está preparado para a luta armada caso seu país seja invadido pelos Estados Unidos.
“Nós estamos em um período especial de preparação máxima. E em qualquer circunstância, vamos garantir o funcionamento do país”, afirmou Maduro a jornalistas. “Se a Venezuela for agredida, passará imediatamente à luta armada em defesa do território nacional e da história e do povo da Venezuela”, acrescentou.
O governo Trump enviou pelo menos três destróieres da classe Arleigh Burke, um cruzador da classe Ticonderoga para as águas do sul do Caribe.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, juntos, esses navios de guerra têm mais poder de fogo que toda a Venezuela. Isso não significa, entretanto, que não haja risco para as embarcações americanas em um eventual conflito. Segundo o Balanço Militar de 2025, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, Caracas tem à disposição mísseis antinavio que podem ameaçar os destróieres.
Também na terça, a chanceler da Colômbia, Rosa Villavicencio, disse que a presença militar dos Estados Unidos em águas do Caribe para combater o narcotráfico é “desproporcional”. “Não há dúvida de que estamos comprometidos nessa luta contra o narcotráfico, mas essa presença desproporcional, frente às tensões que existem entre Venezuela e Estados Unidos, nos levam a alertar que uma interferência não é possível porque a Colômbia, a América Latina, é terra de paz”, disse a chefe da diplomacia colombiana.