BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Venezuela acusou os Estados Unidos de terem usado inteligência artificial (IA) para criar vídeo divulgado pelo presidente Donald Trump nesta terça-feira (2) de um ataque americano a uma embarcação supostamente deixando o país latino-americano com drogas em direção aos EUA.
Em publicação em seu canal de Telegram, Freddy Ñáñez, ministro da Comunicação da Venezuela, fez críticas ao secretário de Estado americano, Marco Rubio, por supostamente usar IA para criar o vídeo, que na avaliação dele é falso.
A ditadura de Nicolás Maduro ainda não se manifestou oficialmente sobre o vídeo e o ataque anunciado por Trump.
Ñáñez publicou imagem do comando que utilizou para pedir ao Gemini, o chatbot de IA do Google, que avaliasse se o vídeo era feito por IA -ele apenas incluiu o vídeo no chat e perguntou, em espanhol, se o vídeo era feito com IA. De acordo com o ministro, o Gemini respondeu, em inglês, que era “altamente provável” que o vídeo tivesse sido criado usando IA, segundo e algumas justificativas pouco detalhadas.
A Folha de S.Paulo usou o mesmo comando no Gemini, junto do vídeo, e recebeu uma resposta diferente: a IA do Google respondeu, em espanhol, que as imagens eram reais, argumentando com base no que Rubio e Trump haviam publicado anteriormente -não é possível dizer qual resposta é correta.
Newsletter Lá Fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo *** O presidente Donald Trump afirmou nesta terça que militares americanos destruíram um barco que estaria saindo da Venezuela supostamente carregado de drogas, matando 11 pessoas.
“Nos últimos minutos, nós acabamos, literalmente, de destruir um barco carregado de drogas. Havia muitas drogas nesse barco”, disse Trump a repórteres no Salão Oval. Mais tarde, em publicação na sua rede social, ele deu mais detalhes, dizendo que a embarcação pertencia à facção venezuelana Tren de Aragua.
“Nesta manhã, seguindo minhas ordens, as Forças Armadas dos EUA conduziram um ataque cinético contra narcoterroristas do Tren de Aragua”, escreveu o presidente americano. “O Tren de Aragua é uma organização terrorista estrangeira que opera sob o controle de Nicolás Maduro, responsável por assassinatos, tráfico de drogas e de pessoas, e atos de violência nos EUA e em todo o hemisfério ocidental.”
“O ataque ocorreu quando os terroristas estavam em águas internacionais transportando drogas ilegais em direção aos EUA. Como resultado, 11 terroristas morreram e nenhum soldado americano foi ferido. Que isso sirva de aviso a qualquer um pensando em levar drogas aos EUA. CUIDADO!”, concluiu Trump.
O presidente publicou junto do texto as imagens do ataque. O vídeo começa com uma canoa em movimento, com pessoas a bordo. Segundos depois, o barco é atingido com o que parece ser um míssil, gerando uma explosão. Em seguida, a lancha aparece em chamas no mar.
O secretário de Estado, Marco Rubio, confirmou o episódio. “As Forças Armadas dos EUA conduziram um ataque letal no sul do Carribe [sic] contra uma embarcação de drogas que havia partido da Venezuela”, disse, grafando de maneira incorreta a palavra “Caribe”.
Até a noite de terça, o Pentágono não havia dado mais detalhes sobre a operação nem oferecido provas sobre a identidade das pessoas mortas, a suposta carga de drogas da embarcação ou seu destino.
Sem mencionar o ataque à embarcação relatado por Trump, Nicolás Maduro disse, em uma live transmitida em suas redes sociais na noite desta terça-feira, que o envio de navios de guerra ao mar do Caribe é uma tentativa de Rubio de manchar as mãos da família Trump de sangue. O ditador afirmou que o secretário de Estado, que é filho de cubanos exilados, faz parte da “máfia de Miami”.
“Eles vêm pelo petróleo venezuelano, querem que ele seja grátis, temos a maior reserva de petróleo do mundo e a quarta [maior] de gás, vêm pela terra fértil. Isso não é de Maduro, é do povo da Venezuela”, disse ele.
O Tren de Aragua é um grupo criminoso narcotraficante venezuelano que atua de maneira transnacional. A facção tem parcerias com os brasileiros Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho e foi designada pelos EUA como grupo terrorista junto de cartéis mexicanos e gangues salvadorenhas.
Os EUA enviaram pelo menos sete navios de guerra às águas próximas da Venezuela, junto com um submarino de ataque rápido movido a energia nuclear. A esquadra é tripulada por 4.500 marinheiros e fuzileiros navais. Washington também opera aviões espiões nas águas próximas à Venezuela.
O movimento é justificado pelo governo Trump como uma ofensiva contra o tráfico de drogas na região. Analistas, porém, veem a questão como um gesto para ampliar a pressão sobre Maduro.