BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O primeiro dia de julgamento do processo sobre a trama golpista na Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) foi pontuado por breves momentos de tensão e constrangimento de advogados dos réus.

O público presente alternou entre o enfado durante as leituras do relatório do ministro Alexandre de Moraes e da sustentação oral do procurador-geral da República, Paulo Gonet, pela manhã, e as risadas de momentos curiosos durante a tarde.

A sessão de terça-feira (2) foi dividida em duas partes. Pela manhã, falaram apenas Moraes e Gonet. O horário e a ausência de novidades sobre o caso e a acusação levaram a uma profusão de bocejos e idas e vindas à antessala da Primeira Turma, onde havia café disponível.

As defesas passaram a fazer suas sustentações orais depois do almoço. O clima mudou no Supremo.

Em um curto momento de tensão, a ministra Cármen Lúcia rebateu o advogado Paulo Renato Cintra, defensor de Alexandre Ramagem. Ela fez a intervenção após Cintra afirmar que o grupo bolsonarista articula a adoção do “voto auditável ” por meio da votação impressa.

A ministra disse que o processo brasileiro já é auditável e que não é necessário mudar o sistema de votação para confirmar a segurança das urnas.

“Repetiu [conceitos de voto impresso e auditável] como se fossem sinônimos, e não é. O processo é amplamente auditável no Brasil, para que não fique para quem assiste [o julgamento] a ideia de que não é auditável”, disse Cármen ao advogado.

Cintra tentou argumentar, interrompendo a fala da ministra, mas não foi bem-sucedido. O tema foi encerrado abruptamente.

Comentários positivos foram mais frequentes do que momentos de tensão como esse.

A certa altura, o advogado Cezar Bitencourt passou a elogiar cada um dos ministros da Primeira Turma para saudá-los antes de apresentar as questões de mérito da defesa de Mauro Cid.

Quando foi se referir ao ministro Luiz Fux, afirmou: “sempre saudoso, sempre presente, sempre amoroso, sempre atraente, como são os cariocas”.

A fala provocou risadas dos ministros. “Eu quero dizer que não aceito nada menos do que isso”, disse Flávio Dino.

O público presente no julgamento também deu risadas quando o advogado Demóstenes Torres decidiu gastar 21 minutos de sua sustentação oral para fazer elogios aos ministros e a si mesmo antes de iniciar a defesa do ex-chefe da Marinha Almir Garnier Santos.

Torres falou que provavelmente é o único brasileiro a gostar de Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes ao mesmo tempo; que levaria cigarro ao ex-presidente na cadeia; e que convidava Cármen Lúcia para dar palestras no Ministério Público de Goiás.

Em outro momento que provocou risos, sugeriu que o jurista Lenio Streck, seu amigo, fosse indicado para o STF na próxima vaga disponível. “Estão dizendo que o ministro [Luís Roberto] Barroso vai se aposentar quase imediatamente após esse julgamento. Se isso for verdade, o Lenio Streck não terá 70 anos ainda, dá tempo dele ser ministro”, disse.

Alexandre de Moraes levantou as mãos, como sinal de que não acreditava no que ouvia.

Esquema de segurança

O anexo 2-B do Supremo, conhecido como igrejinha pelas suas janelas de estilo lanceta, ficou cheio pouco depois das 7h. Grandes filas de jornalistas e advogados se formaram na entrada do prédio.

Para entrar no plenário, todos tiveram de passar por dois detectores de metais e máquinas de raio-x. O esquema de segurança foi reforçado diante das crescentes ameaças contra o tribunal e seus ministros com o avanço do processo sobre a trama golpista.

A equipe de segurança do STF fez inspeções e varreduras com cães farejadores antes do início do julgamento. O mesmo processo foi realizado no retorno da sessão, após o almoço.

Foram utilizados drones para monitorar a área próxima ao Supremo, e agentes e carros da polícia judicial fizeram patrulha nas áreas próximas ao prédio da corte.

Os cães farejadores foram usados no plenário da Primeira Turma e em outros locais onde há circulação de pessoas.

Na véspera, as áreas passaram por uma inspeção visual e com equipamentos de varredura. Depois, passaram a madrugada lacradas e foram inspecionadas pelos cães pela manhã.

O Supremo também estabeleceu regras para aqueles que acompanham o julgamento presencialmente, incluindo a proibição de qualquer manifestação de apoio ou repúdio, incluindo palmas, vaias, gritos e cartazes.

Antes do início da sessão, o cerimonial da corte leu ao menos duas vezes as condutas para advogados, jornalistas, assessores e demais presentes no plenário da Primeira Turma. Foram distribuídos folders com as instruções.

Uma das proibições é a de filmagens ou fotografias nas sessões, o que foi reforçado no início do julgamento pelo presidente da turma, Cristiano Zanin.

As regras são similares às que o Supremo já havia instituído no julgamento que recebeu a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Bolsonaro.