BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Senado aprovou, em primeiro turno, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que cria novas regras para os precatórios (como são chamadas as dívidas judiciais da União, dos estados e dos municípios) com um dispositivo que permite ao governo federal um gasto extra de R$ 12,4 bilhões em 2026, ano das eleições.

A votação começou em julho deste ano, mas travou diante do impasse sobre a inclusão ou não de dívidas da União na regra fiscal.

Nesta terça-feira (2), a deliberação foi reiniciada justamente pela deliberação de um destaque que queria derrubar essa possibilidade, mas que foi rejeitado por um placar apertado, de 49 a 28 -exatamente o número necessário para que o dispositivo fosse mantido.

A vitória do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aconteceu mesmo com posicionamento contrário de União Brasil e PP, partidos que anunciaram nesta terça seu desembarque do Executivo.

Já aprovada pela Câmara dos Deputados, agora a proposta precisa passar por votação em segundo turno no Senado antes de ir para promulgação pelo Congresso Nacional.

Parlamentares de oposição tentaram colocar novamente o trecho sobre dívidas em deliberação, mas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) não permitiu, sob argumento de que um mesmo tema não poderia ser discutido duas vezes.

A PEC começou a tramitar no Senado mas, durante a passagem pela Câmara, os deputados retiraram as dívidas da União do teto de gastos em 2026, criando uma regra de transição para que esses valores fossem contabilizados na regra fiscal a partir do ano seguinte.

Assim, o governo Lula conseguiu um espaço fiscal extra de mais de R$ 12 bilhões para gastar durante o ano das eleições presidenciais.

À Folha de S.Paulo Tebet disse que a alteração daria segurança jurídica e garantiria o cumprimento da meta do resultado primário em 2026.

Um cálculo feito pela Comissão Especial de Precatórios da OAB (Ordem de Advogados de São Paulo) e obtido pela Folha de S.Paulo concluiu que o pagamento de precatórios devidos pelo estado de São Paulo pode demorar até oito anos a mais com essa PEC.

A OAB usa como exemplo o precatório alimentar devido pelo governo paulista no Orçamento de 2017. Segundo as projeções, se antes ele demoraria 2 anos para ser depositado, com a proposta ele precisaria de 10, acumulando uma dívida de R$ 6 bilhões.

A estimativa análoga feita para a Prefeitura de São Paulo com base nas contas de 2011 subiria de três para 12 anos.

A PEC 66 de 2023 tratava, originalmente, apenas de dívidas dos municípios com precatórios e com seus regimes de previdência. O texto já tinha passado Senado, onde foram incorporadas também regras para os estados. Na comissão especial que o discutiu na Câmara, entraram também os precatórios da União.