SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de São Paulo tem as disputas pela operação de ônibus na zona sul da capital paulista como a principal motivação para os ataques a coletivos que atormentaram a população há alguns meses.

De acordo com policiais ligados à investigação, os ataques coordenados não ocorrem mais, o que teria reduzido as depredações por efeito manada. Já a prefeitura disse que os registros voltaram a um nível normal na capital.

Em nota enviada na segunda-feira (1º), a gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmou que a média diária de registros era de 3,6 casos, ante 12,9 casos no auge das depredações em julho. A prefeitura atribui a redução à presença de agentes da Guarda Civil Metropolitana nos coletivos, que também passaram a ser acompanhados por viaturas da corporação.

Para policiais, não ainda há um motivo claro para a cessão dos ataques coordenados, como algum tipo de acordo. Mas, na visão dos investigadores, a principal motivação para a disparada de casos se relaciona com um despacho do secretário de Mobilidade e Transporte, Celso Caldeira, de 12 de junho que criou um grupo de trabalho para definir as regras de transferência dos contratos das viações Transwolff e da UPBus.

As duas empresas se tornaram alvo de investigações de lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital) na operação Fim da Linha. Na época, a Transwolff repudiou as acusações e disse que a empresa ou seus dirigentes jamais tiveram ligação com atividades ilícitas. Os contratos de Transwolff e UPBus, segundo anunciou a prefeitura em fevereiro, seriam assumidos, respectivamente, pela Sancetur e Alfa RodoBus.

Esse grupo criado pela prefeitura para estudar a transferência da operação não tinha participação das empresas, o que gerou revolta e temor entre os membros da Cooper Pam, uma cooperativa de transportes que atua na zona sul de São Paulo, segundo os investigadores. Isso porque o modelo de operação da Transwolff depende de ônibus dos integrantes da cooperativa.

Um acordo informal vinha garantindo que a empresa usasse os veículos dos cooperados, o que não estaria garantido no caso de uma nova empresa assumir a operação. Também haveria insegurança em relação a uma absorção da estrutura da empresa.

Assim, a assinatura do despacho coincidiu com o aumento dos ataques, que irradiaram daqueles na zona sul da cidade, organizados pelos descontentes com os rumos da negociação, para os incentivados pelo efeito manada.

Nesta terça-feira (2), a prefeitura assinou novo despacho em que inclui dois representantes da Transwolff no grupo de discussão, após uma decisão judicial. “Cabe ressaltar que a primeira formação do GT não contava com representantes da concessionária, pois havia uma decisão da Justiça proibindo que exercessem qualquer ato de gestão, o que incluía a nomeação de representantes”, disse a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte. Não há prazo para a conclusão dos trabalhos.

Procurada, a Transwolff afirmou que não comenta as investigações em andamento da Polícia Civil e que permanece à disposição das autoridades. Sobre a entrada no grupo de trabalho, a companhia disse que busca assegurar a continuidade e a regularidade dos serviços de transporte.

Já a Cooper Pam disse que vê com estranheza a imputação feita pela polícia contra os cooperados. “Os ataques noticiados vêm sendo disseminados por toda a Grande São Paulo e, em sua maioria, sequer atingem a circunscrição em que os ônibus dos cooperados operam por meio da detentora da licitação, Transwolff.” Também afirmou que não houve solicitação da Polícia Civil para esclarecimentos da cooperativa ou dos associados.

“Esclarece-se, ainda, que os contratos relativos à operação dos ônibus foram celebrados única e exclusivamente entre a Transwolff e os cooperados, legítimos proprietários dos veículos, sem qualquer participação da Cooperativa. Os termos e peculiaridades de cada contrato são de conhecimento apenas das partes signatárias.”

Disse também que a cooperativa apenas aluga a garagem à Transwolff desde 2015, quando a empresa assumiu integralmente a concessão.