SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Yago Dora e Leandro Dora tiveram uma conversa dura no ano passado. O filho comunicou ao pai que não gostaria mais de ser treinado por ele, como ocorrera desde sempre, e provocou um choque.

“Foi um processo difícil para ambos”, afirmou o jovem, hoje com 29 anos. “Para mim, foi difícil tomar a decisão. Para ele, foi difícil enxergar que poderia ser algo positivo na minha carreira.”

Foi.

Yago agora é um campeão mundial de surfe, título obtido na segunda-feira (1º), em Fiji. O paranaense, que chegou à etapa derradeira do circuito em vantagem, precisou vencer apenas uma bateria, contra o norte-americano Griffin Colapinto, para confirmar o título.

Assim que saiu da água, ganhou o abraço do pai.

“Meu pai foi meu mentor no surfe desde o início. Então, dedico isto a ele também. Não trabalhamos juntos neste ano, mas ele sempre esteve comigo, torcendo e apoiando”, afirmou o vencedor.

“A gente sabe da dedicação do Yago”, respondeu Grilo, como é conhecido Leandro Dora, ex-surfista profissional. “Ele sempre se entregou com toda a garra. Hoje, estamos colhendo este resultado maravilhoso.”

Quando tomou a decisão de demitir o pai, Yago passou a ser treinado por Leandro da Silva. Silva, 39, é um velho conhecido da família. Chegou a competir com um adolescente Yago e passou a fazer parte, como técnico, do projeto de surfe comandado por Grilo.

Por isso, tensão familiar à parte, a transição esportiva foi relativamente tranquila. Ajudou Dora a prática diária de meditação, que parece ter influenciado sua reação no momento da realização do grande sonho, o título mundial.

O curitibano radicado em Florianópolis não teve rompantes, gritos, lágrimas de esguicho, tão comuns em situações do tipo. Chegou a pôr a mão nos olhos, como que para registrar mentalmente o instante inesquecível, porém logo voltou a erguer a cabeça e sorriu, serenamente.

A final foi disputada nas cercanias da ilha de Tavarua. A mítica onda de Cloudbreak quebra longe da praia. Dessa maneira, a decisão não foi acompanhada por uma multidão na areia. Só viram de perto a disputa as equipes dos atletas, pessoas próximas e um punhado de jornalistas, concentrados em barcos da organização do campeonato.

Ao deixar o mar, Yago, calmamente, abraçou o pai, a mãe, a irmã e a namorada. Sem o estardalhaço visto nas conquistas dos outros brasileiros campeões do circuito -Gabriel Medina, Adriano de Souza, Italo Ferreira e Filipe Toledo-, ganhou o carinho dos seus.

Abraçou, ainda, o norte-americano Kelly Slater, 53, maior nome da história do surfe. E celebrou também com Leandro da Silva, o técnico que substituiu seu pai.

Já não havia mais dúvida a respeito da escolha difícil feita em 2024.

“Sempre fiquei muito sob a tutela do meu pai, e a gente conquistou muita coisa. Mas, agora, com 29 anos, já um adulto, na vida adulta, senti a necessidade de tomar as rédeas”, afirmou Yago, o que não o impediu de correr para os braços de Grilo quando tudo deu certo.

“Deu tudo certo!”, gritou o pai. “Yago campeão!”