SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Descendo de avião você pega um ônibus, mais uma canoa e uma carroça”, descreve a coordenadora Joanna Savaglia sobre o caminho para chegar ao “paraíso” em que está o festival Caju.
O evento acontece na Oca Tururim, no Território Indígena Barra Velha, em Porto Seguro, na Bahia. Segundo Savaglia, que também é uma das curadoras, o caminho vale a pena para quem gosta de ler. O festival é o primeiro evento literário indígena do Brasil e chega agora a sua quarta edição, que acontece gratuitamente desta terça, 2, até a sexta, dia 5.
“A gente trabalha para transformar não só o Caju, mas o município de Porto Seguro, no maior polo de intercâmbio de literatura indígena do Brasil”, afirma Savaglia.
De sua experiência trabalhando em festivais como a Flip e a Flup, ambas no Rio de Janeiro, ela tirou a inspiração para fundar o Caju, um evento pensado para estudantes e a comunidade indígena -a inspiração do evento vem principalmente da proliferação de cajueiros em torno da oca.
“A gente nunca vai virar uma Flip, não é esse o nosso horizonte. Nosso objetivo é preservar a memória, melhorar a capacidade de leitura dos alunos e trazer entretenimento para toda a comunidade.”
O tema desta edição, “A Voz da Terra”, reflete a urgência e a importância da conexão com o meio ambiente. Trudruá Dorrico, escritora e pesquisadora Macuxi que completa a curadoria com Edson Kayapó, destaca que a programação está “muito voltada para meio ambiente”.
“De uma forma muito nítida, o festival destaca a importância dos povos indígenas na proteção das florestas. Não só colocando a responsabilidade dos povos indígenas para salvar os ecossistemas e a humanidade, mas reconhecendo o trabalho já realizado”, afirma Dorrico.
O evento quer difundir os princípios e conhecimentos indígenas, presente também na literatur, fortalecendo vínculos entre saberes tradicionais e acadêmicos. Os livros indígenas, como aponta Dorrico, são veículos para tratar da urgência ambiental.
A programação de 2025 é a maior de todas as edições até agora, com 27 convidados distribuídos em dois palcos -um pensado para o público infantil e outro para pessoas mais velhas, a partir do ensino médio.
“Receberemos desde Marcos Terena, que é um dos mais antigos líderes indígenas, até Yamaluí Cuicuro, que é um autor do Xingu”, conta Savaglia. Também passarão pela Oca Tururim nomes como Auritha Tabajara, Aline Kayapó e Sairi Pataxó, que é o anfitrião das personalidades indígenas convidadas.
Além dos bate-papos com autores, educadores e lideranças, o evento terá apresentações de música, teatro, contação de histórias e venda de títulos dos autores convidados.
Apesar do crescimento, calcado em patrocínios de empresas como Itaú Unibanco e Neoenergia captados pela Lei Rouanet, Savaglia aponta que os principais desafios para a realização do festival continuam sendo a falta de recursos e a distância do território. Como a viagem de Porto Seguro até a oca leva até três horas de carro, a ida de visitantes fica difícil.
“Fazer esse festival é demarcar um território dentro da literatura brasileira e dizer que ela também é indígena”, afirma Dorrico. “Nós temos uma literatura indígena sendo produzida que é criativa, imaginativa, e mágica.”
FESTIVAL CAJU DE LEITORES – 4ª EDIÇÃO
Quando 2 a 5 de setembro, das 9h às 18h
Onde Oca Tururim, situada no Centro Cultural Indígena Pataxó da Aldeia Xandó, Território Indígena Barra Velha, em Porto Seguro (BA)
Preço O evento é gratuito e não precisa de inscrição
Classificação Livre