SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar sobe nesta terça-feira (2), com os investidores repercutindo a divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no segundo trimestre deste ano e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo envolvimento na trama golpista.
Por volta de 13h57, a moeda norte-americana subia 0,17%, cotada a R$ 5,448 e em linha com o cenário internacional. No mesmo horário, a Bolsa tinha queda de 0,48%, a 140.594 pontos, impulsionada pela queda em bloco das ações de bancos brasileiros.
Os papéis do Banco do Brasil, responsável pelo pagamento dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e principal afetado pelas incertezas da Lei Magnitsky, lideravam as quedas do índice com desvalorização de 3,27%. Itaú (1,32%), Bradesco (1,53%), BTG Pactual (0,33%) também caiam.
Na ponta doméstica, o mercado acompanha o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começou nesta terça, com atenção.
Bolsonaro é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado, após perder as eleições de 2022. Somadas, as penas máximas de Bolsonaro podem chegar a 43 anos de prisão, sem contar os agravantes.
Uma possível condenação pode intensificar as tensões comerciais entre Brasil e EUA. Quando Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente brasileiro seria vítima.
Integrantes do governo Lula (PT) e do STF consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil e outras restrições a autoridades do país com o julgamento de Bolsonaro.
“O receio é de que uma eventual condenação sirva de justificativa para novas retaliações de Trump contra o Brasil, incluindo possíveis sanções adicionais ao Banco do Brasil e restrições comerciais, em meio ao já vigente tarifaço de 50%”, disse João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.
Investidores também repercute a dados do PIB brasileiro divulgados nesta terça pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o instituto, a economia brasileira avançou 0,4% no segundo trimestre em relação aos três meses iniciais de 2025. O resultado confirma uma desaceleração da economia nacional, que havia crescido 1,3% no primeiro trimestre, quando houve impacto da supersafra de grãos.
A variação veio praticamente em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,3%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,1% a 0,8%.
A desaceleração é fruto da economia continuar convivendo com juros elevados. A situação dificulta o consumo e os investimentos produtivos, já que o crédito fica mais caro para famílias e empresas.
O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou a taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano em junho. A Selic permaneceu nesse patamar na reunião mais recente do colegiado, em julho.
Com o choque dos juros, o BC tenta esfriar a demanda por bens e serviços. A medida busca conter a inflação.
Na cena internacional, o dólar avança nos mercados globais, com os investidores norte-americanos retornando de um feriado na véspera cautelosos com os dados econômicos e incertos sobre a política comercial de Trump.
O índice DXY, índice que mede o desempenho da moeda norte-americana frente as mais importantes divisas do mundo, avança 0,52%, a 98.293 nesta terça.
As taxas dos títulos dos EUA também sobem com a maior aversão a risco. Por volta de 13h30, a taxa do Treasury de 10 anos avançava de 4,232% a 4,281%.
As taxas dos DIs (Depósitos Interbancários) mais longos acompanham o cenário internacional. A taxa para janeiro de 2031 estava em 13,64%, em alta de quase 10 pontos-base ante 13,55%.
Na segunda, em um novo capítulo da guerra comercial, Trump fez novas investidas sobre a Índia, criticando a política tarifária do país.
“Eles nos vendem grandes quantidades de produtos, seu maior ‘cliente’, mas nós vendemos muito pouco a eles. Até agora, um relacionamento totalmente unilateral, e tem sido assim há muitas décadas”, postou Trump em sua rede social, na segunda.
Dados do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) revelaram nesta terça que o setor manufatureiro dos Estados Unidos contraiu pelo sexto mês consecutivo em agosto em reação às tarifas.
Durante o período, o PMI de manufatura subiu de 48,0 em julho para 48,7 no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI subiria para 49,0. Uma leitura do PMI abaixo de 50 indica contração no setor industrial, que responde por 10,2% da economia norte-americana.
O governo americano também enfrenta a Justiça do país, que julgou a maior parte das tarifas como ilegais na última sexta (29).
Os investidores também monitoram os desdobramentos da demissão de Lisa Cook, do Fed. Segundo analistas, a tentativa de Trump demitir a diretora gera incertezas sobre a autonomia da autoridade monetária americana.
Nesta terça, mais de 450 economistas assinaram uma carta aberta em defesa de Cook, afirmando que a remoção de membros do conselho do Fed exige critérios rigorosos. O documento teve assinaturas de ganhadores do Nobel, como Claudia Goldin, Paul Romer e Christina Romer.
Na última semana, a diretora entrou com uma ação judicial contra presidente Donald Trump, alegando que o republicano não tem poder para destituí-la do cargo.
Uma juíza federal avaliou, na sexta-feira, a possibilidade de bloquear temporariamente a demissão de Cook. A audiência judicial terminou sem decisão.
Acredita-se que a ação judicial é o primeiro passo de uma longa batalha que deve ser resolvida pela Suprema Corte.