BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Alexandre de Moraes voltou a usar nesta terça-feira (2), no início do julgamento de Jair Bolsonaro (PL), um raciocínio que tem repetido ao longo de todo o processo, o do risco que ele diz ver da repetição no Brasil de hoje do erro cometido pelas potências europeias durante a escalada expansionista de Adolf Hitler nos anos 1930.

O termo “apaziguamento” faz referência à estratégia liderada pelo então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain na tentativa de evitar uma nova guerra mundial. A primeira Grande Guerra tinha se encerrado havia apenas duas décadas.

“A pacificação do país é um desejo de todos nós, mas depende do respeito à Constituição, da aplicação das leis e do fortalecimento das instituições, não havendo possibilidade de se confundir a saudável e necessária pacificação com a covardia do apaziguamento”, disse Moraes nesta terça.

Em uma decisão de julho, Moraes mencionou diretamente a referência à qual afirma se inspirar:

“A democracia brasileira foi gravemente atacada com a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro de 2023, tendo um dos fatores principais a omissão de diversas autoridades públicas, que permitiram os ilegais acampamentos golpistas em frente aos quartéis do Exército, em uma repetição da ignóbil política de apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo do então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain com o nazismo de Adolf Hitler.”

A referência ao risco da política de apaziguamento já havia sido dita pelo ministro do STF logo após os ataques golpistas à sede dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

“A democracia brasileira não irá mais suportar a ignóbil política de apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo do então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain com Adolf Hitler.”

O principal símbolo da referência citada por Moraes é a conferência de Munique, em 1938, que reuniu Chamberlain, Hitler, o premiê francês Édouard Daladier e o ditador italiano Benito Mussolini.

No encontro, as potências europeias concordaram em ceder a Hitler a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia, sob a promessa de que que o ditador alemão não escalaria as tensões na Europa com novas exigências territoriais.

Ao regressar a Londres, ficou famosa a imagem de Chamberlain exibindo o papel assinado por Hitler e as potências europeias como símbolo da garantia de paz que afirmava ter conseguido.

A política de apaziguamento em face do nazismo se mostrou um fracasso e resultou na eclosão da Segunda Guerra Mundial e a queda de Chamberlain, que foi substituído por Winston Churchill.