SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar sobe nesta terça-feira (2), com os investidores repercutindo a divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no segundo trimestre deste ano e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por trama golpista.

Por volta de 12h16, a moeda norte-americana subia 0,49%, cotada a R$ 5,466. No mesmo horário, a Bolsa tinha queda de 0,61%, a 140.407 pontos, impulsionada pela queda em bloco das ações de bancos brasileiros.

Nesta manhã, os papéis do Banco do Brasil, responsável pelo pagamento dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), lideravam as quedas do índice com desvalorização de 3,08%. Itaú (1,15%), Bradesco (1,81%), BTG Pactual (0,27%) também caiam.

Na ponta doméstica, o mercado acompanha o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começou nesta terça, com atenção.

Bolsonaro é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado, após perder as eleições de 2022. Somadas, as penas máximas de Bolsonaro podem chegar a 43 anos de prisão, sem contar os agravantes.

Uma possível condenação pode intensificar as tensões comerciais entre Brasil e EUA. Quando Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente brasileiro seria vítima.

Integrantes do governo Lula (PT) e do STF consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil e outras restrições a autoridades do país com o julgamento de Bolsonaro.

“O receio é de que uma eventual condenação sirva de justificativa para novas retaliações de Trump contra o Brasil, incluindo possíveis sanções adicionais ao Banco do Brasil e restrições comerciais, em meio ao já vigente tarifaço de 50%”, disse João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.

Investidores também repercute a dados do PIB brasileiro divulgados nesta terça pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o instituto, a economia brasileira avançou 0,4% no segundo trimestre em relação aos três meses iniciais de 2025. O resultado confirma uma desaceleração da economia nacional, que havia crescido 1,3% no primeiro trimestre, quando houve impacto da supersafra de grãos.

A variação veio praticamente em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,3%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,1% a 0,8%.

A desaceleração é fruto da economia continuar convivendo com juros elevados. A situação dificulta o consumo e os investimentos produtivos, já que o crédito fica mais caro para famílias e empresas.

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou a taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano em junho. A Selic permaneceu nesse patamar na reunião mais recente do colegiado, em julho.

Com o choque dos juros, o BC tenta esfriar a demanda por bens e serviços. A medida busca conter a inflação.

Na cena internacional, investidores acompanham ganhos do dólar nos mercados globais, impulsionados pelo ajuste do mercado após o feriado, na véspera, do dia do Trabalho nos EUA.

O índice DXY, índice que mede o desempenho da moeda norte-americana frente as mais importantes divisas do mundo, avança 0,36%, a 98.137 nesta terça.

Analistas do mercado ainda continuam atentos a guerra comercial de Donald Trump, com novas investidas sobre a Índia.

“Eles nos vendem grandes quantidades de produtos, seu maior ‘cliente’, mas nós vendemos muito pouco a eles. Até agora, um relacionamento totalmente unilateral, e tem sido assim há muitas décadas”, postou Trump em sua rede social, na segunda.

As tarifas também continuam impactando a economia americana. Nesta terça, o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) revelou que o setor manufatureiro dos Estados Unidos contraiu pelo sexto mês consecutivo em agosto em reação às tarifas.

Durante o período, o PMI de manufatura subiu de 48,0 em julho para 48,7 no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI subiria para 49,0. Uma leitura do PMI abaixo de 50 indica contração no setor industrial, que responde por 10,2% da economia norte-americana.

O governo americano também enfrenta a Justiça do país, que julgou a maior parte das tarifas como ilegais na última sexta (29).

Os agentes também continuam monitorando os desdobramentos da demissão de Lisa Cook, do Fed. Segundo analistas, a tentativa de Trump demitir a diretora gera incertezas sobre a autonomia da autoridade monetária americana.

Na última semana, a diretora entrou com uma ação judicial contra presidente Donald Trump, alegando que o republicano não tem poder para destituí-la do cargo.

Uma juíza federal avaliou, na sexta-feira, a possibilidade de bloquear temporariamente a demissão de Cook. A audiência judicial terminou sem decisão.

A audiência perante a juíza distrital dos EUA Jia Cobb, em Washington, é o primeiro passo do que provavelmente será uma batalha judicial prolongada que poderá acabar com a independência histórica do banco central dos EUA e provavelmente será resolvida pela Suprema Corte.