RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil avançou 0,4% no segundo trimestre em relação aos três meses iniciais de 2025, apontam dados divulgados nesta terça (2) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado confirma uma desaceleração da economia nacional, que havia crescido 1,3% no primeiro trimestre, sob impacto da supersafra de grãos.
Sem o mesmo impulso da agropecuária e com os juros altos para conter a inflação, a atividade perdeu ritmo de abril a junho, como era esperado por analistas.
A variação de 0,4% veio praticamente em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,3%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,1% a 0,8%.
O IBGE revisou a taxa de crescimento do primeiro trimestre de 1,4%, como divulgado anteriormente, para 1,3%. Os efeitos diretos da safra de grãos ficam mais concentrados de janeiro a março.
Como continuou em alta, o PIB do segundo trimestre renovou o maior patamar da série histórica do instituto, iniciada em 1996. O indicador totalizou R$ 3,2 trilhões.
A coordenadora da contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirmou que a economia vem sendo ajudada pelo desempenho positivo do mercado de trabalho e pelas políticas de transferência de renda do governo.
Isso, segundo ela, se contrapõe à política restritiva dos juros altos, adotada pelo BC (Banco Central) para conter a inflação.
“A gente está com dois efeitos básicos contrários na economia: a política monetária restritiva e a política fiscal nem tanto”, disse a técnica do IBGE.
“A parte do consumo das famílias ainda está muito bem, e tem a ver com programas governamentais de transferência de renda, com aumento real do salário mínimo”, acrescentou.
Rebeca usou o que chamou de “palavra da moda” dos economistas para definir o quadro do PIB: “resiliente”.
SERVIÇOS E INDÚSTRIA EXTRATIVA CRESCEM
Do lado da oferta, os serviços cresceram 0,6% no segundo trimestre. Também houve desempenho positivo na indústria, que avançou 0,5%. Ambas as taxas ficaram acima das verificadas no primeiro trimestre (0,4% e 0%).
A agropecuária teve variação negativa no intervalo de abril a junho (-0,1%), após o salto no início do ano (12,3%).
O desempenho positivo da indústria, porém, ficou concentrado na indústria extrativa, que subiu 5,4%.
Por outro lado, houve retração em eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (-2,7%), transformação (-0,5%) e construção (-0,2%)
Segmentos como a indústria de transformação e a construção são vistos como mais suscetíveis aos impactos dos juros altos, enquanto os serviços e o ramo extrativo sentem menos esses efeitos, de acordo com Rebeca Palis, do IBGE.
Dentro dos serviços, o instituto apontou crescimento nas seguintes atividades no segundo trimestre: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (2,1%), informação e comunicação (1,2%), transporte, armazenagem e correio (1%), outras atividades de serviços (0,7%) e atividades imobiliárias (0,3%).
Houve estabilidade no comércio (0%) e variação negativa em administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-0,4%).
CONSUMO PERDE RITMO, E INVESTIMENTO CAI
Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 0,5% no segundo trimestre. Esse componente, contudo, desacelerou se comparado ao primeiro, quando a alta havia sido de 1%.
Ainda do lado da oferta, tanto o consumo do governo (-0,6%) quanto os investimentos produtivos (-2,2%) tiveram queda de abril a junho.
A retração dos investimentos, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), foi a primeira após seis trimestres consecutivos de altas.
Os juros altos também dificultam os aportes produtivos e parte do consumo, já que o crédito fica mais caro para empresas e famílias.
O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) elevou a taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano em junho. A Selic permaneceu nesse patamar na reunião mais recente do colegiado, em julho.
Com o choque dos juros, o BC tenta esfriar a demanda por bens e serviços. A medida busca conter a inflação, que prejudica o poder de compra da população.
O mercado de trabalho, por outro lado, seguiu mostrando sinais de força no segundo trimestre, o que impediu uma desaceleração ainda maior do PIB.
A taxa de desemprego caiu a 5,8% nos três meses até junho, o menor patamar da série do IBGE, iniciada em 2012. Foi a primeira vez que o indicador ficou abaixo de 6%.
PROJEÇÕES PARA 2025
Na mediana das projeções, o mercado financeiro passou a esperar aumento de 2,19% para o PIB no acumulado de 2025, de acordo com o boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda (1º). A estimativa para este ano era menor, de 2,01%, ao final de 2024.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, projeta crescimento de 2,5% em 2025, conforme revisão anunciada em julho.
Analistas ainda se perguntam até que ponto o governo Lula (PT) estará disposto a abrir mão de medidas para estimular a economia antes das eleições de 2026.
No cenário global, há incertezas relacionadas à guerra comercial de Donald Trump. O Brasil é um dos países atingidos pela política de sobretaxas dos Estados Unidos.
Conforme os dados do PIB, as exportações brasileiras subiram 0,7% no segundo trimestre ante o primeiro. Já as importações de bens e serviços caíram 2,9% em relação aos três meses iniciais de 2025.
Rebeca Palis, do IBGE, disse que o tarifaço de Trump não é irrelevante, mas ponderou que a economia brasileira “não é muito aberta” ao mercado internacional e lembrou que os Estados Unidos não são o principal parceiro comercial do Brasil posto ocupado pela China.
O PIB é a soma dos bens e serviços produzidos por um país em um determinado período (trimestre ou ano). Seu avanço é usualmente chamado de crescimento econômico.
Conforme o IBGE, o indicador cresceu 2,2% se comparado ao segundo trimestre de 2024. Em quatro trimestres, acumula alta de 3,2%. O avanço foi de 3,4% em 2024.