BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um consórcio feito na Câmara dos Deputados entre o atual e o ex-presidente destravou a indicação para a vice-presidência de governo da Caixa Econômica Federal, ocupada de forma interina desde abril do ano passado.

José Marcos de Carvalho foi anunciado como vice-presidente de governo da Caixa no último dia 19, após quase um ano e meio de impasse político em torno do cargo.

A escolha foi atribuída a um acordo do governo com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o ex-presidente Arthur Lira (PP-AL) —padrinho político do atual presidente da Caixa, Carlos Vieira.

A indicação ocorre em meio às críticas do PP, partido de Lira, ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à ameaça de entrega dos cargos. Hoje, o partido detém politicamente não só o comando da Caixa, mas também do Ministério do Esporte, com André Fufuca (PP-MA).

Horas antes do comunicado ao mercado da Caixa que confirmou o nome de José Marcos, o PP selou a federação com o União Brasil em um evento que serviu de palanque para a candidatura à presidência da República do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).

Lira foi procurado pela reportagem, mas não quis se manifestar. Motta não respondeu.

Pessoas a par das tratativas afirmam que Motta vinha reivindicando a indicação para a vice-presidência de governo da Caixa. O cargo é um dos mais cobiçados pela atuação em programas de peso do governo federal, como o Bolsa Família, o Pé-de-Meia e o seguro-desemprego, além da interlocução com governos estaduais e municipais por meio de outros produtos do banco.

Funcionários ressaltam a importância da vaga ao lembrar que ao menos dois ex-presidentes da Caixa passaram pela vice-presidência de governo antes de chegar ao topo da estatal: Gilberto Occhi, no governo Michel Temer (MDB), e Jorge Hereda, no governo Dilma Rousseff (PT).

Assim como o presidente da Câmara, José Marcos é paraibano. Servidor de carreira da Caixa, ele trabalhou em Campina Grande (PB) como superintendente executivo e regional e, em Brasília, como superintendente nacional da Rede Varejo Norte e Nordeste.

Em nota, a Caixa informou que a seleção de vice-presidentes segue ritos de governança, conforme previsto na Lei das Estatais, no Estatuto Social e em outras normas internas da empresa.

“Todas as indicações de vice-presidentes passam por análise criteriosa quanto aos requisitos e experiência, passando pelo crivo do Comitê de Elegibilidade e são submetidas ao aval do Conselho de Administração da Caixa.”

A indicação feita por Motta também encerra uma disputa silenciosa entre Câmara e Senado que começou em abril do ano passado, com a morte do então vice-presidente de governo da Caixa, Marcelo Bomfim.

Mineiro, Bomfim transitava por diferentes grupos: era próximo do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do PT de Minas Gerais e do governador Romeu Zema (Novo), tendo inclusive integrado o governo estadual como presidente do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais).

Autoridades ouvidas pela reportagem desde a morte de Bomfim afirmam que a proximidade dele com Pacheco, a mudança na presidência da Caixa que deu controle a Lira e a rivalidade entre os ex-presidentes da Câmara e do Senado acabaram travando politicamente a escolha de um substituto nesse período.

Bomfim havia assumido a vice-presidência de governo no começo do governo Lula, quando a presidente do banco era Rita Serrano. Em abril, porém, a Caixa já estava sob o comando de Vieira, diante do acordo do Palácio do Planalto com o centrão para aumentar a base de apoio na Câmara.

Desde a morte de Bomfim, a vice-presidência de governo foi ocupada de forma interina pelo servidor da Caixa Tiago Cordeiro. Ex-diretor de produtos de governo em 2021, Cordeiro foi um dos responsáveis pelo lançamento do empréstimo consignado a beneficiários do Bolsa Família às vésperas das eleições de 2022, no governo Jair Bolsonaro (PL).

A indicação de um substituto só começou a ser destravada em março deste ano, quando a estatal abriu um processo seletivo.

No último dia 19, a Caixa também comunicou em fato relevante a escolha de Lucio Camilo Oliva Pereira para a vice-presidência de Tecnologia e Digital. Nos bastidores, a indicação foi atribuída ao líder do PP, deputado federal Dr. Luizinho (RJ). Procurado, o deputado negou ter apadrinhado Pereira.