SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – São Paulo amanheceu mais colorida nesta segunda-feira (1º) por um motivo esportivo: três grafites foram inaugurados nos arranha-céus da cidade, que já está no clima para receber, na sexta (5), o NFL São Paulo Game, com Los Angeles Chargers x Kansas City Chiefs. Um deles, aliás, tem significado especial.
SONHO GRAFITADO
O futebol americano nunca foi tão brasileiro quanto nos murais feitos por Eduardo Kobra, Crica Monteiro e Leonardo Santos, famosos grafiteiros brasileiros.
As artes estão espalhadas por três cantos movimentados da cidade: Rua da Consolação, Avenida Bernardino de Campos e Rua Pedroso Alvarenga.
Um dos rostos estampados, no entanto, vem de uma realidade bastante diferente: em uma área de quase 36 m², Kobra grafitou a silhueta de Paulo Pedreira, morador de Paraisópolis de 17 anos e que sonha em ser um atleta profissional.
Foi por meio de projetos sociais na comunidade que o jovem teve contato com o esporte antes de conhecer, dentro do Projeto First Down, o flag football. Ele já havia praticado ginástica artística, vôlei, triatlo e atletismo, mas se encantou com a modalidade.
Novidade nas Olímpiadas de 2028, o flag é um esporte semelhante ao futebol americano, no qual cinco atletas de um time tentam “roubar” as bandeiras do rival que está correndo com a bola.
A diferença, além do número de jogadores, é que você só puxa a fitinha ao invés de derrubar o atleta no chão, como acontece no futebol americano. É uma forma de jogar sem contato. A gente não usa capacete, não usa shoulder, só usa a bandeira Fernando Ferreira, fundador e treinador do projeto, ao UOL
Paulo foi escolhido a dedo por Kobra que, depois de ver fotos de vários jogadores pré-selecionados pela agência que cuida da campanha, enxergou no garoto a ‘brasilidade’ do futebol americano.
O grafite foi finalizado nesta segunda-feira, e o jovem não escondeu a emoção de se ver por meio de linhas e cores características do trabalho do grafiteiro.
Eu gostei bastante, segurei a emoção. Foi surreal. Fiquei muito emocionado e grato. Me reconheci ali. Espero trazer um pouquinho da história do futebol americano e do flag para eles crescerem aqui no Brasil e mostrar que não é só um esporte de fora. Esportes de fora também podem ser do Brasil Paulo Pedreira, ao UOL
PROJETO FIRST DOWN
O projeto social começou em 2017 e tinha apenas dois alunos. nesta terça-feira (2), mais de 60 jovens frequentam semanalmente as aulas, que acontecem no CEU de Paraisópolis.
O professor de educação física Fernando Ferreira, fundador do First Down, sempre foi fã do esporte da bola oval e viu no flag uma forma de incentivar seus alunos. A ideia foi abraçada pela comunidade, mas ganhou ainda mais destaque a partir do ano passado, quando o primeiro jogo da NFL em solo brasileiro foi anunciado. Agora, o projeto, que até então sobrevivia com trabalho voluntário e doações, foi aprovado e busca captação de recursos na lei federal.
A gente tem um país que venera o futebol da bola redonda, e isso mina muito as opções dos outros esportes. Com os jogos da NFL que estão acontecendo aqui, abre um leque de possibilidades e traz mais visibilidade. As empresas começam a olhar mais para o flag e para o futebol americano. Querem investir, querem patrocinar
No ano passado, dez crianças do projeto tiveram a oportunidade de entrar no gramado da Neo Química Arena com jogadores do Philadelphia Eagles. “Hoje, eu pergunto o que as crianças querem ser quando crescerem e não me falam mais o ‘camisa 10’. Eles falam: ‘eu quero ser um quarterback, eu quero ser o Tom Brady’. Isso me arrepia, porque era meu sonho lá atrás”, disse o professor.
Paulo vai assistir a Chargers x Chiefs de casa, e acha que o time de Kansas City levará a melhor. As equipes se enfrentam nesta sexta-feira, às 21h, na Neo Química Arena, a 24 km de onde está o grafite de Kobra em homenagem ao jovem de Paraisópolis.