BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Levantamento realizado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) identificou 13 edifícios com alto risco de incêndio no centro histórico de Ouro Preto, em Minas Gerais.
O conjunto urbano da cidade é tombado desde 1938 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e em 1980 foi declarado patrimônio mundial pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O levantamento foi feito a partir da junção de três metodologias distintas que analisam a probabilidade de incêndios em edifícios públicos e privados da cidade.
Dos 141 locais analisados, 13 deles, de propriedade particular, foram considerados como de maior risco pelas três metodologias, enquanto 12 imóveis dispõem de segurança contra incêndio em todos os parâmetros.
Outras 56 edificações possuem segurança em duas das metodologias, consideradas como de baixo risco, enquanto 48 são classificadas como seguras em uma delas, caracterizadas como de risco médio pelo relatório.
Procurada, a Prefeitura de Ouro Preto afirmou que, em imóveis comerciais, a obtenção de alvará está atrelada à apresentação do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) e que a ausência de equipamentos de segurança em residências particulares não representa omissão fiscalizatória do município.
A gestão afirma que tem mecanismos para promover reformas de imóveis particulares de famílias sem recursos financeiros e que atua judicialmente para garantir a conservação de imóveis de proprietários com capacidade financeira.
“A Procuradoria-Geral possui em seu acervo aproximadamente 300 processos judiciais ativos que versam sobre as mais diversas questões relacionadas ao patrimônio histórico, incluindo condições de conservação de imóveis, regularização de obras, intervenções emergenciais e o cumprimento do dever legal de preservação”, informa a prefeitura, em nota.
O professor Paulo Gustavo von Kruger, da Escola de Arquitetura da UFMG e coordenador do estudo, disse que a iniciativa de combinar três metodologias foi adotada para abranger uma quantidade maior de parâmetros.
“A gente avaliou principalmente a acessibilidade e a distância dos bombeiros até o local que poderia ter o sinistro e se a edificação estava preservada ou deteriorada. A distância das aberturas das janelas, umas das outras, tanto na vertical quanto na horizontal, porque a fumaça pode passar de um ambiente para outro, pela janela ou pela porta”, diz o professor.
Também foi levantada a disponibilidade de equipamentos de segurança contra incêndio e se eles estavam funcionando.
O relatório também aponta soluções para reduzir o risco de incêndio nos edifícios do conjunto urbano de Ouro Preto. Para o pesquisador, a maioria delas é simples e de baixo custo de implementação.
“A maior parte dos princípios de incêndio acontece com panes elétricas. Algumas das coisas que a gente propõe é não sobrecarregar a instalação elétrica, como colocar equipamentos elétricos e eletrônicos em uma única tomada, e atualizar o cabeamento, assim como as instalações de gás”.
O professor afirma que os incêndios em edifícios antigos costumam acontecer em razão da falta de manutenção e uso inadequado de instalações e equipamentos elétricos.
A equipe responsável pelo relatório produziu materiais de conscientização para serem distribuídos à população, além de propostas de cursos.
Outras recomendações, que envolvem ações do poder público, são incentivos à instalação de equipamentos de detecção e alarme de incêndio em todas as edificações e um alerta de detecção de incêndio na Praça Tiradentes, ponto central do centro histórico.
Um incêndio no local abalou os moradores da cidade em 2003, quando as chamas consumiram o prédio conhecido por sediar o Hotel Pilão, que na época estava desativado.
Não houve vítimas, mas o temor pela repetição desse tipo de acontecimento preocupa até hoje os ouro-pretanos.
Além do relatório que mapeia o risco de incêndio no centro histórico de Ouro Preto, a equipe do professor von Kruger também realizou um mapeamento em edificações de Brumadinho, em uma consultoria à prefeitura.
Procurada, a gestão municipal não respondeu o pedido para a disponibilização do estudo.
O professor afirma que o objetivo é expandir o levantamento para outras regiões históricas mineiras.
“Mas há uma dificuldade de recursos. E aí vai um apelo: não é um custo tão alto para que a iniciativa privada possa, de alguma forma, ajudar”, afirmou.