PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Os argumentos finais do julgamento de Jimmy Lai, dono do extinto jornal Apple Daily, terminaram na última quinta-feira (28). O veredito, porém, ainda não foi divulgado, e não há data exata para a decisão final chegar a público.

A expectativa principal é que o caso seja usado politicamente por Pequim como exemplo, fazendo com que a pressão internacional não surta efeito, e o magnata da mídia siga preso –possivelmente pelo resto de sua vida.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse à Fox News em agosto que poderia incluir o caso de Lai nas negociações com a China, evidenciando o teor político da guerra tarifária.

“Acho uma ótima ideia falar de Jimmy Lai. Vamos colocar isso na mesa como parte da negociação”, disse o republicano na ocasião.

Ao mesmo tempo, Pequim também sofre pressão do Reino Unido, uma vez que o dono do extinto jornal tem cidadania britânica. A China, porém, não reconhece a dupla cidadania, e, por isso, o magnata é julgado apenas como cidadão chinês. À Folha a chancelaria afirmou, por meio de nota, que questões relacionadas à Hong Kong são “puramente assuntos internos e não são permitidas interferências de forças externas”.

Organizações internacionais de direitos humanos que também acompanham o caso afirmam que Lai está em más condições de saúde e que lhe foi negado acesso a cuidados médicos.

Uma carta endereçada ao primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e assinada por 72 organizações de direitos humanos, pede a intervenção do líder no caso.

“Primeiro-ministro, dada a relação única da Grã-Bretanha com Hong Kong e seu status como nação natal de Jimmy Lai, você tem a responsabilidade de assumir uma liderança forte neste caso, agindo de forma rápida e decisiva”, escreveram as entidades cerca de uma semana antes do fim das argumentações.

Lai, 77, é acusado de conspiração para conluio com forças estrangeiras sob a Lei de Segurança Nacional imposta a Hong Kong em 2020. Ele nega as acusações e afirma ser alvo de perseguição política.

Já Pequim sustenta que o governo central apoia firmemente as autoridades locais no cumprimento de seus deveres e responsabilidades de acordo com a lei, protegendo a segurança nacional e mantendo a autoridade legal.

Em relação às acusações de violações de direitos humanos, o regime afirma que Hong Kong promove uma segura, humana, adequada e saudável prisão para Lai, além de oferecer diagnóstico e tratamento de saúde adequado.

Para Steve Tsang, diretor do Soas China Institute da Universidade de Londres, o magnata da mídia é visto por Pequim como um traidor que usou a sua riqueza para minar o poder do Partido Comunista, além de ser desrespeitoso com o líder chinês, Xi Jinping.

“A menos que Trump leve o assunto pessoalmente a Xi e tente fechar um acordo para a libertação de Lai em troca de uma concessão à China que Xi considere suficientemente importante e, assim, ordene a libertação de Lai, não vejo muita chance de ele ser libertado. Xi quase certamente não fará tal acordo com nenhum outro líder mundial”, diz, ao afirmar que não há real expectativa de que Trump leve a cabo um arranjo neste termos.

Sobre as acusações de violações de direitos humanos, Tsang diz que o governo não as leva em consideração.

“Sob Xi, a China adota a visão de que possui a melhor abordagem para os direitos humanos, o que inclui a forma como suas autoridades em Hong Kong estão tratando Lai”, afirma. “Representações ocidentais a esse respeito serão, em grande parte, descartadas como tentativas oportunistas de encobrir o que Pequim vê como uma postura anti-China.”

O caso também é acompanhado pela Humans Rights Watch (HRW, na sigla em inglês), que divulgou um comunicado em suas redes sociais após o término das alegações finais afirmando que o réu está em confinamento solitário desde 2020 e com saúde frágil.

“Criticar o governo não é crime. As autoridades devem libertar imediatamente Jimmy Lai e abolir a Lei de Segurança Nacional, que viola gravemente direitos humanos fundamentais”, escreveu a organização em seu perfil direcionado à China.

Desde 2020, a HRW denuncia a legislação, afirmando que foi criada para atacar a liberdade de imprensa e prender críticos do regime. No último pronunciamento sobre o tema, publicado cerca de duas semanas antes do fim do julgamento, a organização salientou as condições de saúde de Lai, afirmando que ele tem diabetes e perdeu peso considerável.