SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “A história da humanidade é cínica, principalmente porque ela é contada pelos vencedores”. Com essa reflexão, a artista Fabiane Langona expressa o cinismo da sociedade contemporânea com o seu novo livro, “Viver Dói”.
Este é o terceiro livro da artista, que reúne 300 tiras publicadas na Folha desde 2017. “Viver Dói” tem lançamento marcado para a Bienal de Quadrinhos de Curitiba, nesta quinta-feira, além de lançamentos em Porto Alegre, no dia 20 de setembro e em São Paulo, no dia 25 de outubro.
A artista publica no jornal desde 2006. Entre o deboche e o escracho, a euforia e o desespero, as tiras refletem sobre o existir e o sobreviver em sociedade. A obra é editada pela Bebel Books e apresenta o melhor da produção diária da quadrinista.
Com seu humor provocativo, a autora traz à discussão temas de comportamento, consumo, direitos reprodutivos, autoestima, menstruação, o universo dos relacionamentos, entre outros.
“Desde muito criança eu colecionava as tiras da Folha. A minha linguagem sempre foi a dos quadrinhos, do cartum, porque cresci lendo revistas e praticamente me alfabetizei através dessa linguagem”, conta ela.
Artista há mais de 15 anos, ela afirma que, atualmente, o acesso à informação é facilitado até mesmo para pesquisar referências de outros artistas, coisa que tinha dificuldade na época em que começou a carreira.
“Eu acho que essa geração já está muito mais desenvolvida, muito mais por dentro de diversas pautas do que antes, do que a vivência que eu tive, que eu tinha que ir atrás de livros assim para encontrar mulheres cartunistas, para eu não me sentir tão solitária.”
Langona reflete sobre as mudanças no cenário da narrativa gráfica. Vista por muitos como algo infantilizado, a cartunista ressalta que quadrinhos, tirinhas e mais projetos gráficos têm sido menos estigmatizados.
“As coisas mudaram muito. Na questão de pautas de gênero e pautas de igualdade racial, há diversas questões. Então, eu acho que as coisas ainda estão se expandindo. Claro que essas produções chegam com muito mais facilidade para um público que já é consumidor de quadrinhos. Mas acredito que isso está mudando e me dá uma certa esperança no amanhã”, diz.
Para ela, as charges são uma forma de questionar, opinar, criticar e apontar temas importantes para a sociedade. A artista, que é gaúcha, lembra de um episódio em que criticou a falta de ação de agentes públicos durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024.
A charge de Langona mostrava uma mulher e seu gato sobre a enchente e os dizeres “sobreviver antes, repensar os projetos políticos que tenho apoiado, logo em seguida”. A publicação, junto com outra sobre o mesmo tema do cartunista Jean Galvão, que também publica nesta Folha, geraram inúmeros ataques e questionamentos nas redes sociais.
Para essa produção, Langona acompanhou a política estadual e municipal da região, e como o poder público lida com situações de catástrofe natural. “É um espaço onde você reflete sobre o mundo que está enxergando. Não necessariamente é algo para rir. Eu não estou esperando que o leitor concorde comigo, concorde com isso, mas o meu ponto como cartunista é levantar alguma discussão, algum debate”.
“Os comentários são verbalmente muito agressivos, sabe? Com ameaças. Eu acho que nada pode ser mais violento do que certas situações que a gente passa no cotidiano. Quem sente na pele sabe.”
No novo livro, Langona reflete também sobre os discursos de machismo e misoginia que ouviu nos últimos anos, como a pressão elevada sobre o corpo feminino e a cobrança pelo peso ideal ou por ter ou não pelos no corpo. “Questão de idade, da autonomia do corpo. Enfim, isso são questões sociais, comportamentais. Mas também são questões políticas que devem ser trazidas ao debate.”
“Criticavam Ai, ela faz quadrinhos de mulherzinha. Por quê? Porque eu falava de estupro e violência? Isso me marcou muito na época. Hoje em dia não dou a mínima para esses comentários”, conta, acrescentando que esses temas permeiam a sociedade como um todo.
“Quando [a artista] faz alguma coisa assim, dizem ‘nossa, não parece desenho de mulher’. É muito, muito grotesco. Esperam que seja um desenho fofo.”
VIVER DÓI
– Quando 4 de setembro, a partir de 15h
– Onde Bienal de Quadrinhos de Curitiba, Museu Oscar Niemeyer, R. Mal. Hermes, 999 – Centro Cívico, Curitiba
– Preço R$ 155 (120 págs)
– Autoria Fabiane Langona
– Editora Bebel Books
VIVER DÓI
– Quando 20 de setembro, a partir das 17h, a partir das 17h
– Onde loja Brasa, R. José do Patrocínio, 611, sobreloja, Cidade Baixa, Porto Alegre/RS
– Preço R$ 155 (120 págs)
– Autoria Fabiane Langona
– Editora Bebel Books
VIVER DÓI
– Quando 25 de outubro, a partir das 15h
– Onde Loja Monstra, Praça Benedito Calixto 158, 1º andar, Pinheiros, São Paulo/SP
– Preço R$ 155 (120 págs)
– Autoria Fabiane Langona
– Editora Bebel Books