BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-PB), mudou de ideia e decidiu ir a Brasília no dia que começa o julgamento da trama golpista no STF (Supremo Tribunal Federal).

A corte poderá condenar ex-colegas de Esplanada de Tarcísio e Jair Bolsonaro (PL) nas sessões da Primeira Turma, que vão durar até 12 de setembro. O ex-presidente pode ser condenado a mais de 40 anos de cadeia.

Auxiliares não confirmam qual será a agenda de Tarcísio na capital federal. Se ele decidir visitar Bolsonaro, como já fez dois dias após a prisão domiciliar do ex-presidente, terá de pedir autorização ao ministro Alexandre de Moraes.

Bolsonaro decidiu não ir presencialmente ao julgamento no STF. De acordo com seus advogados, ele não está em boa condição de saúde e, por isso, foi desaconselhado a ir ao tribunal. Bolsonaro tem enfrentado crises de soluço, que, por vezes, levam a vômitos.

Segundo aliados, Bolsonaro não está bem nem fisicamente, nem psicologicamente.

Em entrevista em Santo André, na última sexta-feira (29), perguntado por jornalistas, o governador disse que não iria à capital federal, mas acompanharia o julgamento de Bolsonaro na semana que vem em São Paulo, e voltou a dizer que acredita na inocência do ex-presidente.

Tarcísio foi ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro e, na pasta, chegou a endossar a postura negacionista do então presidente sobre a Covid. Estava ao lado dele na live em que o ex-presidente riu ao comentar um suposto aumento de suicídios na pandemia.

A pressão por unidade em torno da candidatura do governador paulista à Presidência ganhou força nas últimas semanas entre integrantes do centrão e do mercado financeiro.

Considerado o principal sucessor político de Jair Bolsonaro (PL), mas sob ataques do clã, o governador de São Paulo tenta conciliar a defesa do ex-presidente com uma estratégia de discrição durante o julgamento que definirá o futuro de seu mentor.

Tarcísio vem sendo alvo de críticas diretas ou indiretas do bolsonarismo mais radical e dos filhos do ex-presidente, que se queixam de abandono do pai e veem deslealdade. Eles querem manter o espólio eleitoral do pai restrito ao clã.

Confirmada eventual condenação, Tarcísio deve fazer coro a gestos de solidariedade ao aliado e contestá-la, mantendo o discurso de inocência do aliado. Mas, por ora, nenhum de seus parceiros políticos fala em ações mais agudas, como presença em outros protestos de rua contra o julgamento -exceto ao ato já marcado para o dia 7 na avenida Paulista.

Essas falas já vêm sendo expressas pelo governador. Em 21 de agosto, dia seguinte ao pedido de indiciamento de Bolsonaro e de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por obstrução ao julgamento, Tarcísio ressaltou que sua relação com o ex-presidente “vai ser como sempre foi, uma relação de lealdade, relação de amizade, relação de gratidão”.

Tarcísio fez apenas uma visita a Bolsonaro após o ministro Alexandre de Moraes colocá-lo em prisão domiciliar, no dia 4. Desde então, como a Folha de S.Paulo mostrou, intensificou agendas com empresários dos setores financeiro e agropecuário, artistas populares e o segmento evangélico, se expondo de forma menos velada à pré-candidatura presidencial.