SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na véspera do início do julgamento de Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), cercou-se de seus auxiliares mais próximos e evitou eventos externos, mas tratou de anistia com o presidente de seu partido, o deputado federal Marcos Pereira, em um encontro fora de sua agenda oficial.
Dirigentes de partidos do centrão e da direita consideram Tarcísio o principal nome para herdar o eleitorado bolsonarista diante da possível condenação do ex-presidente, mas o governador vem sofrendo pressões para deixar sua legenda e migrar para o PL, sigla de Bolsonaro, caso dispute a Presidência.
Pereira disse à Folha que “uma conversa a dois não se revela”, quando questionado sobre o encontro, mas publicou uma foto com Tarcísio em suas redes sociais e nas redes do Republicanos. “Café da manhã com o nosso governador Tarcísio de Freitas. No cardápio do dia: anistia”, escreveu.
Tarcísio defende a anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023 e aos demais envolvidos na trama golpista, e já fez uma série de discursos neste sentido. O mais recente deles foi no evento que marcou o aniversário de 20 anos do Republicanos, há uma semana, em Brasília, quando cobrou uma atitude do Congresso.
“Nós precisamos de pacificação. E o Congresso Nacional tem papel fundamental nessa pacificação. E a gente não pode permitir que ninguém tire essa prerrogativa do Congresso. Essa prerrogativa pertence ao Congresso e o Congresso pode fazer gestos por essa pacificação”, disse, na ocasião. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), estava na plateia.
Contudo, o clã Bolsonaro está dividido sobre a proposta, conforme as mensagens divulgadas pela Polícia Federal entre o ex-presidente e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho, que está no Estados Unidos.
Eduardo disse ao pai que uma “anistia light”, que não incluísse Bolsonaro, faria o grupo perder o apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que determinou uma sobretaxa de 50% a produtos importados do Brasil dizendo que não concorda com o julgamento.
Conforme a Folha de S.Paulo informou, Tarcísio deve evitar agendas fora do Palácio dos Bandeirantes nesta semana, em uma estratégia que tenta conciliar a defesa de Bolsonaro a uma postura de discrição diante do processo.
Nesta segunda, as reuniões internas foram sobre as obras do Rodoanel, expansão do Metrô e, em especial, o leilão do túnel Santos-Guarujá, que ocorre nesta sexta-feira (5).
A equipe de Tarcísio ainda previu uma agenda com o vice-governador, Felício Ramuth (PSD), para tratar da cracolândia e do novo centro administrativo do estado, e com o secretário Guilherme Derrite (Segurança Pública), para falar da expansão do programa de monitoramento Muralha Paulista.
Contudo, a agenda para falar das obras de mobilidade, com os secretários Arthur Lima (Casa Civil) e Rafael Benini (Parcerias em Investimentos) se prolongou, e ele adiou os demais encontros.
Tarcísio sustenta acreditar que Bolsonaro seja inocente das acusações que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal). O ex-presidente foi denunciado pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado pela violência ou grave ameaça ao patrimônio público, deterioração de patrimônio tombado e participação em organização criminosa.
Além disso, em entrevista ao Diário do Grande ABC na última sexta-feira (29), ele afirmou que concederia indulto ao padrinho político, caso Bolsonaro seja condenado, como seu “primeiro ato” como eventual presidente da República.
Tarcísio já confirmou participação na manifestação bolsonarista marcada para o próximo domingo (7) na avenida Paulista, que deve protestar contra o julgamento da trama golpista.
Desde que Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, acusado de obstrução ao julgamento da trama golpista, Tarcísio vinha intensificando a participações em eventos que o colocam como presidenciável, embora ele ainda sustente que disputará a reeleição em São Paulo.
A resistência a seu nome no campo político da centro-direita vem do clã Bolsonaro, em especial de Eduardo, que busca para si a herança política do pai e já disse que, caso não concorra no ano que vem por seu partido, pode buscar outra sigla.