TIANJIN, CHINA (FOLHAPRESS) – Ao final da cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), nesta segunda-feira (1º) em Tianjin, o líder chinês, Xi Jinping, propôs o que chamou de Iniciativa de Governança Global “a todos os países”, com o objetivo de “promover a construção de um sistema mais justo e racional”.

Segundo Xi, isso é necessário porque, 80 anos após o fim da Segunda Guerra e a fundação da ONU, “novas ameaças e desafios estão crescendo”. O mundo, na visão dele, entrou em um “novo período de turbulência e transformação, e a governança global atingiu nova encruzilhada”.

A cena mais marcante da cúpula ocorreu quando Xi, Vladimir Putin e Narendra Modi (estes dois últimos chegaram ao encontro de mãos dadas) se cumprimentaram de forma descontraída, em um gesto que simbolizou tanto a aproximação entre China e Rússia quanto a tentativa da Índia de mostrar que mantém canais de diálogo relevantes fora do eixo ocidental.

Em claro contraponto às posições dos EUA sob Donald Trump, ele propõe “igualdade soberana” entre os países, com participação de todos nas decisões globais; respeito à lei internacional, citando a Carta da ONU; e o multilateralismo, mantendo a autoridade da ONU.

Em relação à SCO, defendeu que seja “uma força de estabilização num mundo turbulento”, prosseguindo na abertura e na cooperação econômica em setores como energia e inteligência artificial.

Posteriormente, os líderes da SCO assinaram a declaração de Tianjin, ecoando em grande parte o discurso de Xi, ainda sem aprovação da nova proposta. Destacaram que o mundo passa por “mudanças profundas e históricas” nos 80 anos da “vitória na Segunda Guerra e da fundação da ONU”.

Segundo o texto, os países-membros afirmam “a importância de promover um novo tipo de relações internacionais e uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade baseado no respeito mútuo, equidade e justiça, e cooperação ganha-ganha”.

Assinaram também uma declaração específica sobre os 80 anos do fim do conflito global, em que afirmam: “Condenamos veementemente qualquer tentativa de distorcer o significado da vitória na guerra e o papel do povo dos países-membros da SCO na derrota do fascismo e do militarismo. Enfatizamos que os crimes contra a humanidade nunca serão esquecidos”.

Em discurso anterior, pela manhã, Xi havia dito que a organização asiática de segurança deve priorizar a partir de agora a integração econômica e defender a ordem multipolar “com a OMC [Organização Mundial do Comércio] em seu centro”.

O líder chinês, que esteve no comando da SCO ao longo do último ano, confirmou a criação de seu banco de desenvolvimento, visando “fornecer apoio mais sólido à cooperação econômica e de segurança entre os países-membros”. Falou em ampliar investimentos e empréstimos.

Destacou que a SCO precisa “alinhar melhor as estratégias de desenvolvimento” e impulsionar a implementação da Iniciativa Cinturão e Rota, o programa chinês de investimento em infraestrutura. Para tanto, os países-membros devem explorar os “pontos fortes de seus mercados de grande porte” e intensificar a complementaridade econômica, incluindo ações para melhorar a facilitação do comércio e do investimento.

O líder chinês defendeu “pragmatismo e eficiência” na gestão da SCO, propondo uma reforma da entidade para “fortalecer recursos e capacitação”. O objetivo seria deixar os “mecanismos organizacionais mais perfeitos, a tomada de decisões mais científica e as ações mais eficientes”.

Como parte desse esforço, além do banco, anunciou medidas para fortalecer sua estrutura de segurança. Dois órgãos-chave serão lançados “o mais breve possível”, um centro para ameaças à segurança e outro antidrogas.

Segundo Xi, a SCO se tornou “a maior entidade regional do mundo”, com 26 países participantes, atuação em mais de 50 áreas de cooperação e uma economia agregada de quase US$ 30 trilhões. Números que, segundo ele, demonstram potencial para impactar a estabilidade e o crescimento global.

A reunião deste ano da SCO, na cidade portuária de Tianjin, próxima a Pequim, foi marcada pela integração maior da Índia à organização, como alternativa aos Estados Unidos, que determinaram tarifas de 50% contra produtos indianos às vésperas do evento.

Além do primeiro-ministro Narendra Modi, da Índia, e do presidente Vladimir Putin, da Rússia, a cúpula reuniu líderes de países da Ásia Central, como o Cazaquistão, e até de outras regiões, como Egito e Belarus.

Criada em 2001 por China, Rússia e outros países com foco na segurança da Ásia Central, a SCO não se apresenta claramente como contrária aos EUA, mas Xi mencionou que o grupo “se opõe à mentalidade de Guerra Fria e às práticas de intimidação”, entre outras referências indiretas ao governo americano. Washington chegou a solicitar filiação ao grupo em 2005, mas ela não foi aceita.