SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um terremoto de magnitude 6,0 que atingiu o leste do Afeganistão na noite deste domingo (31) deixou ao menos 812 mortos e mais de 2.800 feridos. A geologia, fragilidade das casas e dificuldades de resgate ajudam a explicar por que os terremotos são tão devastadores e letais na região.

O Afeganistão está localizado em uma das regiões mais instáveis do planeta, na junção das placas indiana e eurasiática. Essa colisão gera tremores frequentes, sobretudo na cordilheira do Hindu Kush, conhecida pela alta atividade sísmica. Segundo especialistas, a profundidade rasa dos abalos intensifica os impactos na superfície, aumentando o poder de destruição mesmo em magnitudes moderadas.

Tremores rasos ampliam a destruição porque concentram energia na superfície. Segundo o USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos), o tremor desta segunda-feira (01) ocorreu a apenas 8 km de profundidade, e em 2023, em Herat, o hipocentro foi medido em 10 km.

Grande parte das construções no Afeganistão é feita de barro, palha ou adobe, materiais que não suportam a vibração causada por terremotos. Nas aldeias rurais, segundo a ONG Afghanaid, os imóveis não seguem padrões de engenharia e colapsam facilmente, explicando a alta proporção de mortes em cada desastre.

Relatórios técnicos confirmam a vulnerabilidade desse tipo de edificação. O documento Earthquake Rapid Visual Survey in Herat (Levantamento Rápido Visual de Terremoto em Herat), de 2023, elaborado por engenheiros afegãos em parceria com universidades locais, apontou que em alguns povoados até 95% das coberturas eram de adobe, sem qualquer reforço estrutural. Os autores explicaram que o padrão construtivo conhecido como pakhsa —terra crua apiloada— é tradicional, barato e rápido de erguer, mas altamente vulnerável a abalos sísmicos.

Relevo montanhoso e precariedade da infraestrutura atrasam o resgate. Estradas bloqueadas e encostas instáveis impedem o transporte rápido de feridos. Muitas comunidades ficam isoladas por horas após o tremor, aumentando o número de mortos, segundo a Afghanaid. O governo talibã afirma que, apesar do envio de helicópteros, as equipes de resgate não têm equipamentos adequados e solicitam apoio internacional.

Terremotos no Afeganistão costumam ser seguidos por enxames de réplicas, que derrubam o que já estava fragilizado. Abalos secundários foram sentidos nesta segunda-feira (01) logo após o tremor principal, provocando pânico na população. Em casos anteriores, como o de Herat em 2023, os novos abalos derrubaram construções danificadas e aumentaram o número de mortos.

HISTÓRICO DE DESTRUIÇÃO

Nos últimos anos, o Afeganistão foi palco de tragédias sísmicas letais. Em 2023, uma série de tremores na província de Herat deixou mais de 1.500 mortos e destruiu 63 mil casas, segundo a ONU. Réplicas uma semana depois agravaram a catástrofe.

O terremoto de 2022 em Paktika deixou mais de 1.000 mortos. O abalo, de magnitude 6,1, destruiu milhares de moradias no sudeste do país. Desde a década de 1990, registros mostram dezenas de milhares de mortes em tremores de intensidade semelhante, revelando a vulnerabilidade persistente da população.