SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto Fernando Molica, jornalista e escritor experiente que acumula indicações ao prêmio Jabuti, lança “Meninos que Brincaram na Lua”, José Amélio Molica, seu pai, estreia na literatura com “O Mundo Começa em Cajuri”, aos 92 anos.
Apesar de parecer planejada, a publicação conjunta é coincidência. José Amélio sempre gostou de contar histórias e, por isso, ouvia do filho já escritor que deveria pôr tudo no papel. E ele acabou fazendo isso no mesmo momento em que Fernando trabalhava em seu décimo livro, o primeiro de crônicas.
Nascem daí dois livros de histórias baseadas em observações e memórias de seus autores. Publicadas pela editora Tinta Negra, as obras se contrastam ao mesmo tempo em que parecem se completar, como aponta Fernando. “Enquanto meu pai trabalha o universo rural, meu livro é muito urbano.”
O pai tirou inspiração de sua infância e adolescência na pequena cidade mineira de Cajuri durante os anos 1930 e 1940. “Esse livro era uma espécie de compromisso com meus pais, Almiro e Rita, que apostaram na educação dos 12 filhos, o que era uma raridade na roça”, conta José Amélio.
Ao se debruçar sobre a vida no campo, as histórias surgiam de maneira natural. “Fui apenas juntando fatos e mais fatos da roça, da cidade, da família, da filharada bagunceira e brincalhona.”
Já o filho rememora toda uma vida de andanças pelo Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e vive até hoje. O olhar para a rua em seu entorno, inspiração das crônicas de “Meninos que Brincaram na Lua”, foi herdado do pai, como diz Fernando. “Ele veio para o Rio em 1954 e, como migrante, observava com atenção o novo ambiente.”
Para ambos, as cidades são mais do que cenários. A Cajuri de José Amélio é “muito maior que as antigas ruas de baixo e de cima”, como ele diz. “Foi lá que cresci, estudei, trabalhei e conheci tantas pessoas.”
E o Rio de Janeiro de Fernando, quando encontra a crônica, se torna espaço político: “O cronista olha para a rua sem intermediação do celular e estimula o leitor a fazer o mesmo, esse ato tem importância política”.
As crônicas de “Meninos que Brincaram na Lua” estavam espalhadas entre diferentes sites e jornais, escritas ao longo das quatro décadas de Fernando como jornalista. “Eu escrevia artigos para diferentes veículos, mas de vez em quando me dava vontade de escrever crônicas. Até que uma hora percebi que tinha o suficiente para um livro.”
Depois de coletar o material e construir uma coletânea que busca equilíbrio entre assuntos leves e sérios ”tentando brincar um pouco”, como ele diz em referência ao título da coletânea, Fernando se dedicou aos escritos do pai.
Ele conta que, ao pegar o material bruto, se surpreendeu ao encontrar histórias dignas de serem publicadas. “Precisava ser burilado, mas já existia um livro ali.”
Entre correrias da fase de edição e prazos da indústria, os livros acabaram sendo publicados no mesmo momento, com direito até a noite de autógrafos compartilhada.
Se muitos livros chegam aos leitores como sementes, o livro de José Amélio já é uma árvore, em sua metáfora. “O livro tem muitos galhos e frutos”, diz o autor. “As histórias ocorreram ao longo de vários anos, assim como as árvores demoram para crescer.”
MENINOS QUE BRINCARAM NA LUA
– Preço R$ 49,85 (200 págs.)
– Autoria Fernando Molica
– Editora Tinta Negra
O MUNDO COMEÇA EM CAJURI
– Preço R$ 42,80 (180 págs.)
– Autoria José Amélio Molica
– Editora Tinta Negra