SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vamos começar a semana fazendo contas, já que o governo prevê o Orçamento de 2026 com déficit.

Também aqui: empresas de IA usam cópias piratas de livros, tarifas de Trump são consideradas ilegais (o que pode não fazer muita diferença, no fim das contas) e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (1º).

**RAIO-X DO ORÇAMENTO**

Tire os brincos, colares, pulseiras, anéis e relógios. Você está prestes a entrar em uma sala de exames de raio-X. O paciente é o Orçamento de 2026.

O governo Lula entregou na última sexta-feira (29) a sua proposta de Orçamento (PLOA) para o próximo ano e há alguns pontos para discutir.

Importante: lembre-se de que o próximo ano é o último do mandato atual de Lula. É comum que, em anos eleitorais, haja muito investimento previsto em obras, programas e iniciativas. É hora de “mostrar serviço”, por assim dizer.

[1] Déficit primário

O governo prevê um resultado negativo de R$ 23,3 bilhões para 2026… mesmo com a expectativa de ao menos R$ 98,7 bilhões em receitas extras para o ano que vem.

A meta oficial é um superávit de 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto), o equivalente a um saldo positivo de R$ 34,3 bilhões. No entanto, o resultado efetivo das contas ainda será negativo devido a R$ 57,8 bilhões em despesas que ficam fora das regras fiscais.

A exclusão é consequência de uma decisão do STF, que retira os pagamentos de precatórios —que o governo deve fazer de processos que a União perdeu na Justiça— do limite de gastos.

Quando descontados esses gastos, o saldo fica positivo em R$ 34,5 bilhões, levemente melhor que a meta.

Sim, mas… o resultado efetivo é o que conta para a trajetória da dívida pública, que vai subir ainda mais diante do déficit.

[2] Emendas parlamentares

O governo reservou R$ 40,8 bilhões para elas. O valor é R$ 1,9 bilhão maior que o inicialmente previsto para as emendas no PLOA de 2025 (R$ 38,9 bilhões), que acabou sendo aprovado com R$ 50,4 bilhões carimbados pelos congressistas.

Assim como ocorreu no Orçamento deste ano, o montante destinado às emendas em 2026 também deve subir.

[3] Programas sociais

Quase todos os principais programas sociais e o Novo PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento), vitrine do governo, devem receber um investimento maior em 2026 do que o previsto para 2025.

**CÓPIAS PIRATAS NA IA**

A inteligência artificial é certamente capaz de escrever um livro. É provável que a prosa e a ideia da narrativa não sejam as mais originais, já que as empresas de IA andam usando obras de autores humanos sem avisar ninguém.

Pelo menos três empresas que oferecem a tecnologia usaram livros de Clarice Lispector, Chico Buarque, Paulo Coelho e outros autores brasileiros para treinar seus modelos sem pedir autorização, sem pagar por isso —e apelando a cópias piratas disponíveis na internet.

QUEM SÃO ELAS?

Meta, Anthropic e Microsoft. As três usaram uma base de dados chamada Books3, que reúne quase 200 mil cópias ilegais de livros.

COMO ASSIM?

Livros, roteiros, reportagens de jornais e artigos acadêmicos são valiosos para treinar modelos de linguagem, já que os chatbots se beneficiam do acesso a textos com escrita elaborada e argumentos complexos.

CÉREBROS VS. PROCESSADORES

De um lado, as empresas de tecnologia afirmam que fazem “uso justo” das obras, por isso, não é necessário pagar os direitos autorais delas. Elas defendem que os robôs não reproduzem conteúdo e, sim, entregam algo transformado, como um humano faria.

Do outro, jornais, autores e editoras apontam que a atitude das big techs precede a tecnologia: é roubo de conteúdo. O problema não é usar o que foi produzido, mas sim não pagar para fazê-lo.

PRECEDENTES

O uso de conteúdo proprietário sem autorização é denunciado em diversas ações na Justiça americana. Mas os casos da Meta —ao qual o da Microsoft foi incorporado— e o da Anthropic estão entre os mais rumorosos.

O primeiro teve uma decisão inicial favorável à big tech em junho, quando a Justiça decidiu que empregar os livros sem autorização era “uso justo” —quando é permitido usar o conteúdo sem pagar. O juiz ainda vai deliberar sobre a pirataria.

O caso da Anthropic se tornou o mais rumoroso, pelo potencial de falir a empresa com indenizações que poderiam chegar a US$ 1 trilhão (R$ 5,4 trilhões).

Além da Books3, a companhia baixou milhões de livros de duas bibliotecas piratas —5 milhões da Library Genesis e outros 2 milhões de uma chamada PiLiMi.

**PODE ISSO, JUIZ?**

Exportadores, governos e investidores estão olhando para a Justiça dos EUA como você olha para o árbitro de uma partida de futebol do seu time do coração: prendem a respiração enquanto esperam uma decisão que pode mudar o curso da situação.

Um tribunal federal de apelações do país decidiu na sexta-feira (29) que as tarifas que o presidente Donald Trump impôs são ilegais.

SIM, MAS…

As tarifas permanecerão em vigor pelo menos até o dia 14 de outubro, para permitir que o governo apresente recursos à Suprema Corte.

E AGORA?

Não está claro como a decisão pode afetar o caso brasileiro. Mesmo assim, eventuais repercussões não devem ser imediatas, entre outras razões, pelo prazo dado para que Washington recorra da determinação.

Pode ser que a taxa ao Brasil, hoje de 50%, seja reduzida para 40%. O processo atual diz respeito àquele primeiro tarifaço que Trump anunciou em 2 de abril, sobre todos os países.

Naquele momento, o Brasil recebeu uma alíquota de 10% —que pode ser revertida pela ação, caso a decisão da última sexta-feira prevaleça.

A tarifa posterior de 40% foi invocada com base na mesma lei do processo atual, mas não é objeto da ação em julgamento.

A corte de apelação delegou a um tribunal de instância inferior definir quem se beneficia da medida —se apenas as partes no processo ou todos os afetados pelas tarifas agora derrubadas. O Brasil não é parte na ação.

Do lado de cá… o presidente Lula autorizou na quinta-feira (28) que o Itamaraty dê início ao processo para adoção de medidas da Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos.

Isso coloca mais pressão na panela que já está quase explodindo —medidas de retaliação aos americanos podem provocar (mais) a ira de Trump.

Acrescente à receita que o ex-presidente Jair Bolsonaro pode ter a prisão decretada nesta semana pelo envolvimento na trama golpista, fator que levou o republicano a taxar o Brasil. A semana deve ser movimentada.

**DE DINIZ PARA DINIZ**

O Grupo Pão de Açúcar, ou GPA para os íntimos, esteve aos trancos e barrancos. Agora, a empresa tem novos donos que prometem mudar tudo e devolver à companhia o caminho do sucesso. Será que a ajuda caiu do céu?

REBOBINANDO

Da década de 1990 até pouco tempo atrás, o grupo de supermercados francês Casino era o principal acionista da varejista alimentícia brasileira, detendo 40,9% do capital social da empresa.

As coisas começaram a ir mal para o grupo na Europa, o que fez com que em 2023 ele tomasse a decisão de reduzir a participação em negócios na América do Sul —o Pão de Açúcar incluso. A participação do Casino foi reduzida para 22,5%.

GUERRA DOS TRONOS

Com o principal acionista desinteressado do negócio, surgiu uma nova questão: quem quer assumir a bucha? E, aparentemente, há interessados.

O investidor Nelson Tanure detém cerca de 9% do capital social da empresa, e chegou a ter conversas com o Casino para comprar ações dos franceses.

A família Coelho Diniz, dinastia discreta que controla supermercados em Minas Gerais e uma empresa de construção civil, agora tem 24,6% do patrimônio do GPA —o que a torna acionista majoritária.

Não confunda: esses Diniz não têm nada a ver com a família do investidor Abílio Diniz, primeira detentora do Pão de Açúcar. Coincidências.

CHEGOU CHEGANDO

Os novos sócios pediram uma Assembleia Geral Extraordinária para decidir sobre a destituição do atual conselho de administração e a eleição de novos membros —na intenção de aumentar seu controle sobre as decisões, claro.

A vontade dos novos Diniz é adotar uma postura mais rígida em relação a despesas e endividamento da companhia, que hoje chega a R$ 2,6 bilhões.

Uma fonte próxima à administração da empresa disse à Folha que a visão sobre a chegada da família ao negócio é positiva. O entendimento da área executiva da empresa é que são varejistas e podem agregar ao GPA com sua visão e experiência.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Pix atrás de Pix. Há bancos oferecendo Pix parcelado no crédito e no empréstimo pessoal. Descubra como funciona a ferramenta.

Sonho distante (?) Conheça João Carlos Mansur, presidente da Reag Investimentos, gestora citada na operação contra o PCC na Faria Lima. Além do mercado financeiro, ele sonha com a presidência do Palmeiras.

“Errática e sem precedentes”… é como Fernando Haddad, ministro da Fazenda, descreveu a postura de Donald Trump em relação às tarifas.

Quem paga mais? O Banco do Brasil paga o maior bônus a funcionários de estatais, com PLR de até R$ 373 mil.