Da Redação
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começa nesta terça-feira (2) no Supremo Tribunal Federal, pode redefinir não só o destino político do ex-mandatário, mas também o rumo do Partido Liberal. A expectativa de condenação por tentativa de golpe, somada ao isolamento de Bolsonaro em prisão domiciliar, abre espaço para uma reorganização interna que promete alterar a correlação de forças no partido.
Com a liderança enfraquecida, Valdemar Costa Neto se prepara para reassumir as rédeas da sigla, mas não sozinho. Michelle Bolsonaro, em movimento próprio, avança em articulações regionais e se coloca como figura de peso na disputa por protagonismo. Essa divisão de comando tende a marcar uma nova etapa no PL, que até agora seguia a palavra final de Bolsonaro.
A sigla tenta evitar erros recentes. Em 2024, a proibição judicial de contato entre Valdemar e o ex-presidente atrasou candidaturas e prejudicou alianças municipais. Para 2026, a estratégia é centralizar decisões e ampliar diálogos com governadores e lideranças estaduais.
Nos bastidores, as tensões se multiplicam. Em São Paulo, a desistência de Eduardo Bolsonaro ao Senado aumenta a concorrência por espaço e pressiona a relação com Tarcísio de Freitas, que pode disputar a Presidência. No Rio, o cenário também é incerto: Cláudio Castro aparece como nome natural ao Senado, mas Bolsonaro defendia outra composição, envolvendo Sóstenes Cavalcante e Flávio Bolsonaro.
Enquanto isso, Michelle fortalece sua base no Norte e no Nordeste, apoiando alianças locais como na Paraíba e em Goiás, onde o governador Ronaldo Caiado resiste à candidatura de Wilder Morais em 2026.
A tensão maior, porém, vem da própria família Bolsonaro. Eduardo chegou a ameaçar deixar o PL caso Tarcísio se filie à legenda, acusando um processo de esvaziamento do bolsonarismo.
Valdemar adota discurso ambíguo: ora afirma que Bolsonaro ou um indicado deve ser o nome natural à Presidência, ora sinaliza abertura para Tarcísio assumir esse espaço. A incerteza é clara: sem Bolsonaro em cena, quem será o líder da direita dentro do PL?
O julgamento no STF deve acelerar a resposta. Até agora, o PL cresceu sustentado no bolsonarismo. Sem a presença ativa do ex-presidente, a legenda pode ganhar autonomia para negociar alianças, mas também se arrisca a mergulhar em disputas internas entre Michelle, Valdemar, Eduardo e Tarcísio.