BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Banco do Brasil pagou neste ano o maior bônus a funcionários de estatais federais, com uma PLR (participação nos lucros e resultados) de até R$ 372,8 mil, segundo informações repassadas pela instituição ao MGI (Ministério de Gestão e Inovação).

O banco não foi o único a pagar bonificações polpudas. Pelo menos seis companhias do governo federal repassaram mais de R$ 100 mil a alguns de seus empregados. Outras, embora não tenham chegado a esse patamar, conseguiram duplicar ou triplicar o valor extra destinado aos funcionários —alguns deles aliados políticos do presidente Lula (PT).

Os valores se referem ao desempenho das empresas em 2024. No caso do BB, o valor integral médio do bônus (que desconsidera repasses proporcionais a funcionários admitidos ou desligados no decorrer do exercício) ficou em R$ 52 mil, alta de 5,6% em relação ao ano anterior.

O banco registrou um lucro de R$ 38 bilhões em 2024. Neste ano, o BB enfrenta um cenário mais diverso, com piora no desempenho financeiro —o que tem alimentado a cobiça do centrão pela cadeira ocupada pela atual presidente, Tarciana Medeiros. Procurado, o BB não respondeu.

O pagamento de PLR é um instrumento usado por algumas empresas privadas para premiar funcionários, e seu uso na administração pública não configura, por si só, uma irregularidade. No entanto, os valores chamam a atenção porque algumas companhias operam com dinheiro ou ativos que são públicos.

É o caso, por exemplo, da PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.), estatal responsável pela comercialização do petróleo a que a União tem direito nos contratos de partilha. O regime foi criado em 2010 e é aplicado na exploração do pré-sal.

Em maio de 2025, a PPSA pagou bônus pela primeira vez em sua história. Os valores ficaram entre R$ 22,39 mil e R$ 30,95 mil e se referem ao desempenho da empresa no ano passado. Na média, cada um dos 68 empregados recebeu R$ 27,6 mil extras, além do salário mensal.

O pagamento da PLR é anual e se soma ao salário, 13º, adicional de férias e outros benefícios concedidos pelas empresas estatais.

“Importante ressaltar que o maior valor gerado pela PPSA para a União não está em seu resultado financeiro, mas sim no volume de recursos arrecadados com a comercialização das parcelas de petróleo e gás natural que a União fez jus em contratos de partilha e em acordos de individualização da produção”, diz a empresa, em nota. Segundo ela, em 2024 houve arrecadação recorde de R$ 10,3 bilhões, alta de 71% em relação a 2023.

Outro exemplo é a Emgea (Empresa Gestora de Ativos), comandada por Fernando Pimentel, ex-governador de Minas Gerais pelo PT e ex-ministro do governo Dilma Rousseff (PT).

A companhia foi criada em 2001 para administrar parte da carteira de crédito habitacional da Caixa com inadimplência elevada. A estatal também recebe créditos do FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais), criado na década de 1960 para garantir o pagamento dos contratos do antigo SFH (Sistema Financeiro de Habitação). Os repasses hoje são feitos com recursos do Tesouro Nacional.

Em abril deste ano, a Emgea triplicou o bônus pago a seus funcionários. Os valores integrais ficaram entre R$ 16,6 mil e R$ 68,5 mil, com média de R$ 32,6 mil. No exercício anterior, o pagamento havia sido de R$ 5.500 a R$ 22,8 mil, com média de R$ 9.800.

Como presidente, Pimentel recebeu uma PLR de R$ 57,9 mil. Ao todo, foram distribuídos R$ 3,13 milhões a 113 funcionários ativos ou já desligados.

A empresa afirma que o valor do bônus decorreu do lucro de quase R$ 570 milhões obtido no ano passado, 128% acima do verificado em 2023. A Emgea atribui o resultado à redução de custos operacionais e à maior arrecadação com o FCVS.

“O pleito de aumento da PLR, devidamente aprovado por todos os órgãos regulatórios, é uma forma de valorizar nosso corpo técnico que, mesmo trazendo excelentes resultados para a Emgea, não recebia qualquer reajuste salarial desde 2016”, diz.

A ENBPar (Empresa Nacional de Participações em Energia Nuclear e Binacional), estatal que detém o controle da Eletronuclear e da fatia brasileira na usina hidrelétrica de Itaipu, também figura entre as maiores bonificações a funcionários.

A empresa pagou em maio deste ano um extra de R$ 27 mil a R$ 87,9 mil a seus funcionários. O valor integral médio do bônus ficou em R$ 54,2 mil, alta de 4,4% em relação ao repasse feito em 2024.

Apesar da aparente estabilidade, o custo total da PLR subiu 28,8% (de R$ 4,8 milhões para R$ 6,2 milhões), pois um número maior de empregados recebeu a parcela integral. Além disso, o valor cresceu mesmo com a queda de 26% no lucro líquido (que ficou em R$ 308,15 milhões no ano passado).

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a companhia abriga parentes de parlamentares, de integrantes do governo e de figuras históricas do partido. Um deles é Adhemar Palocci, irmão de Antonio Palocci, ex-homem forte do PT que deixou o partido após depor contra Lula na Operação Lava Jato.

Adhemar atua como assessor da presidência na ENBPar e recebeu um bônus de R$ 87,6 mil —mais que o dobro do valor recebido em 2024 (R$ 39,7 mil).

A ENBPar foi criada em 2021 para abrigar partes da Eletrobras que ficaram fora do processo de privatização. Era para ser uma empresa de estrutura enxuta, mas virou reduto de indicações políticas.

O bônus chama a atenção porque as empresas que ela controla lhe impõem grande desafio financeiro. A Eletronuclear precisa lidar com o passivo de Angra 3, cuja obra terá um custo bilionário, seja para concluí-la, seja para abandoná-la. Itaipu, por sua vez, não deveria dar lucro, já que a tarifa da usina teria de ser calculada em valor suficiente apenas para cobrir os custos da energia.

Procurada, a companhia diz desenvolver “outras frentes de negócios que geram receitas à companhia”, entre elas a comercialização da energia produzida por Itaipu Binacional e a gestão e operação de programas de governo (como o programa Luz para Todos).

A ENBPar afirma ainda que Adhemar Palocci “atua há 40 anos no setor elétrico e ocupou diversos cargos técnicos”. “Sua admissão deveu-se ao seu extenso currículo e seu vasto conhecimento em gestão e em planejamento estratégico do setor”, diz.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por sua vez, pagou um bônus médio de R$ 141,32 mil a seus empregados, alta de 8,8% em relação ao repasse feito em 2024. O valor máximo chegou a R$ 304,5 mil.

Os valores do BNDES chamam a atenção de técnicos do governo porque outros bancos públicos, como BB e Caixa, disputam fatia de mercado entre si e com instituições privadas. Já o BNDES, por ser um banco de desenvolvimento, atua na prática como uma empresa pública sem concorrência.

Procurado, o banco diz que sua PLR “manteve o mesmo patamar de anos anteriores”, limitada a três salários, e o crescimento nominal resulta dos reajustes concedidos aos empregados.

“O pagamento correspondeu ao atingimento das metas relacionadas aos indicadores estratégicos do plano de negócios, como determina a Lei das Estatais. Decorre, portanto, de duas condições necessárias: obtenção de lucro e atingimento de metas. Os empregados do BNDES alcançaram ambas”, afirma.