SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo autorizado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes a acompanhar o parto do filho em Balneário Camboriú (SC), o youtuber bolsonarista Bismark Fugazza afirma ter passado por constrangimento no hospital por causa da tornozeleira eletrônica que usa desde 2023.

Segundo a defesa, o equipamento disparou alarmes constantes, acordando o recém-nascido e incomodando a mãe, que havia passado por cesariana. Fugazza é um dos fundadores do canal Hipócritas, que, em seu auge, entre o fim de 2020 e o início de 2021, ficou conhecido como uma espécie de “Porta dos Fundos da direita”.

Ele está sob medidas cautelares impostas pelo Supremo desde 2023, após ser preso sob acusação de incitar atos golpistas nas eleições de 2022.

Na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Fugazza foi citado como um dos influenciadores que, por ordem do então presidente, receberam autorização para permanecer no Palácio do Alvorada em 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação de Lula (PT). O objetivo seria evitar que fossem presos em acampamentos golpistas em Brasília.

A ida ao hospital havia sido previamente autorizada por Moraes. Em despacho de 4 de agosto, o ministro permitiu que Fugazza acompanhasse o parto, previsto para o dia 10, e permanecesse no hospital até a alta da mãe e do bebê.

Apesar da autorização, a defesa relatou que os alarmes da tornozeleira permaneceram ativos durante todo o período.

Em mensagens a uma assistente social, Fugazza escreveu: “A tornozeleira está apitando, acordando meu filho recém-nascido a cada 5, 10 minutos. Vocês estão fazendo sofrer tanto meu filho, que nasceu há menos de 12 horas, quanto a minha esposa. Tortura. É isso que vocês estão fazendo”.

Segundo ele, a central de monitoramento afirmou que o equipamento estava fora da área de abrangência e que não poderia resolver o problema. “Eu sei que tem como resolver, porque já fizeram outras vezes. Passei o dia todo e a madrugada inteira apitando e vibrando. Vivi uma noite infernal”, disse.

Na petição enviada ao Supremo, a defesa afirmou que, mesmo com a autorização judicial, a central de m onitoramento informou por telefone que o equipamento permaneceria ativo e que os alertas de violação estariam corretos.

Os advogados pediram o envio do caso ao Ministério Público de Santa Catarina para apuração de responsabilidade.

Moraes determinou na segunda-feira (25) que a Secretaria de Justiça e Reinserção Social de Santa Catarina preste esclarecimentos em até cinco dias. O caso será posteriormente enviado à Procuradoria-Geral da República.

Procurada, a Secretaria de Justiça e Reintegração Social de Santa Catarina informou que não foi intimada previamente sobre a decisão judicial que autorizava Fugazza a acompanhar o parto do filho.

“Sem essa comunicação oficial, não foi possível ao sistema de monitoramento ajustar os parâmetros da tornozeleira eletrônica, que emitiu sinais sonoros ao detectar o ingresso em área de exclusão”, diz o órgão.

Afirma ainda que o monitorado “rompeu o equipamento durante o episódio e, posteriormente, no dia 12 de agosto, dirigiu-se ao município de Barra Velha para realizar a reinstalação da tornozeleira”.

Fugazza nega que tenha rompido o equipamento.

“Tiraram fotos da tornozeleira para informar a central de monitoramento que ela não havia sido rompida”, diz.

A secretaria afirma que ainda não recebeu intimação do STF para prestar esclarecimentos sobre o caso.

A prisão preventiva de Fugazza foi decretada por Moraes em 2022. O humorista foi localizado por autoridades locais em Assunção, no Paraguai, junto com o blogueiro Oswaldo Eustáquio. Foi entregue à PF na fronteira de Foz do Iguaçu (PR) e preso em março de 2023.

Relatório da Polícia Federal apontou vídeos em que ele citava uma “guerra em Brasília” e defendia intervenção militar. Em audiência no Senado, pediu a prisão do ministro Moraes e disse, sobre a posse de Lula, que “o ladrão não sobe a rampa”.

Em junho de 2023, obteve liberdade provisória após manifestação favorável da PGR. Desde então, cumpre recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana, usa tornozeleira eletrônica e está proibido de sair do país, de usar redes sociais e de manter contato com outros investigados.