SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fintech BK Instituição de Pagamento S.A., também conhecida como BK Bank, tornou-se um dos principais alvos da operação Carbono Oculto, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público para desarticular uma suposta infiltração do PPC (Primeiro Comando da Capital) no setor de combustíveis e no sistema financeiro.
Segundo a Receita Federal, a fintech atuaria como banco paralelo da organização e teria movimentado sozinha R$ 46 bilhões não rastreáveis de 2020 e 2024. Abarcando um período maior, a apuração da PF, por sua vez, afirma ter identificado R$ 68,9 milhões movimentados em contas na BK Bank entre janeiro de 2020 e agosto de 2025.
A reportagem não localizou os responsáveis pela empresa até a publicação deste texto.
Parte das transações, segundo os investigadores, envolveria diretamente a circulação de valores oriundos da venda clandestina de metanol desviado, inseridos no mercado formal por meio das chamadas “contas-bolsão” mecanismo típico de fintechs que concentra depósitos de múltiplos clientes em uma única conta, dificultando o rastreamento da origem do dinheiro.
Com sede em Barueri (SP), a fintech é apontada pelos investigadores como peça central na engrenagem de lavagem de dinheiro e ocultação patrimonial ligada ao desvio de metanol e à adulteração de combustíveis.
Segundo documentos judiciais e fontes ligadas à investigação, a BK Bank ofereceria a estrutura necessária para que empresas de fachada controladas pelos núcleos criminosos movimentassem recursos sem transparência.
A Justiça determinou o bloqueio de todos os valores mantidos pelos investigados na BK, além da preservação de extratos, contratos e cadastros de clientes. A instituição deverá entregar em até 30 dias os registros de movimentação financeira referentes ao período de 2020 a 2025.
As transferências mais relevantes, segundo os investigadores, partiam das companhias S4 e a Plasma Administradora e Intermediações Ltda., que centralizariam capital e operações financeiras dentro da instituição de pagamento.
O mandado foi cumprido nesta quinta-feira (28) na sede da empresa. O bloqueio atinge tanto contas de pessoas físicas quanto jurídicas ligadas à rede de adulteração de combustíveis. A lista inclui nomes como Bruno e Fernando DAmico, Sérgio Dias da Silva, Ed Charles Giusti, Everton Felipe de Barros (conhecido como “Soró”), além de dezenas de empresas do setor químico e de biocombustíveis, como Aliança Biocombustível Eireli, Diamond Chemical Solventes Ltda., Ipê Biocombustível Ltda. e Royal Química Ltda.
Para os investigadores, a atuação da BK Bank ilustra como instituições de pagamento se tornaram ferramentas estratégicas na “bancarização do crime”. A opacidade permitida por esse modelo de operação teria garantido às quadrilhas um meio eficiente de simular negócios jurídicos regulares e, ao mesmo tempo, proteger o patrimônio ilícito de confisco.
Entre os 350 alvos da Operação Carbono Oculto, está uma empresa listada na B3 (Bolsa de Valores brasileira), a Reag Investimentos. É uma das maiores gestoras independentes do país ou seja, sem ligação com um banco. Seu principal foco é a gestão de recursos e de patrimônio.
Procurada, a empresa não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.
Fundada por João Carlos Mansur em 2012, a Reag passa por um acelerado processo de crescimento, com aquisições e diversificação de investimentos. Passou também a patrocinar o tradicional Belas Artes, um dos cinemas de ruas mais tradicionais da capital paulista.
A Carbono Oculto, maior operação desse tipo na história, segundo a Receita, mobilizou 1.400 agentes em oito estados numa megaoperação nesta quinta-feira (28) e busca desarticular a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis e em instituições financeiras utilizadas como suporte dessa cadeia.