BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal anunciou a realização nesta quinta-feira (28) de duas operações contra a atuação do PCC nos combustíveis e no setor financeiro, no mesmo dia em que o Ministério Público de São Paulo deflagrou uma megaoperação sobre o mesmo tema.
Os órgãos também marcaram entrevistas coletivas para o mesmo horário, em mais um capítulo da disputa pela coordenação das investigações sobre o crime organizado no país.
Isto ocorre no momento em que integrantes da PF discordam da proposta de criação de uma agência antimáfia no país, defendida pelo MPSP e pelo secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, que já foi procurador-geral na instituição.
A PF vê riscos de conflitos com suas próprias atribuições integrantes da corporação afirmaram à reportagem que o projeto poderia ampliar o poder do Ministério Público.
O evento sobre as operações da PF foi marcado no Ministério da Justiça e terá a participação do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e do chefe da pasta, Ricardo Lewandowski. Além do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da subsecretária de fiscalização da Receita Federal, Andrea Costa Chaves.
Já a coletiva sobre a operação do MP de São Paulo será na sede do órgão, com o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira, o secretário da Segurança, Guilherme Derrite, o secretário da Fazenda, Samuel Kinoshita, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, e promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial do Crime Organizado).
As operações da PF, denominadas Quasar e Tank, foram deflagradas com o objetivo de desarticular operações criminosas especializadas em lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituições financeiras. As investigações expõem movimentações ilícitas que ultrapassam R$ 23 bilhões.
A Quasar identificou um esquema sofisticado que utilizava fundos de investimento para ocultar patrimônio de origem ilícita, com indícios de ligação com facções criminosas.
A estrutura seria montada por meio de múltiplas camadas societárias e financeiras, nas quais fundos de investimento detinham participação em outros fundos ou empresas.
“Essa teia complexa dificultava a identificação dos verdadeiros beneficiários e tinha como principal finalidade a blindagem patrimonial e a ocultação da origem dos recursos”, afirmou a PF.
Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto. A Justiça Federal autorizou o sequestro integral de fundos de investimento utilizados para movimentação ilícita, além do bloqueio de bens e valores até o limite de cerca de R$ 1,2 bilhão, valor correspondente às autuações fiscais já realizadas. Também foi determinado o afastamento dos sigilos bancário e fiscal de pessoas físicas e jurídicas envolvidas.
Já a Operação Tank teve como foco o desmantelamento de uma das maiores redes de lavagem de dinheiro já identificadas no estado do Paraná, segundo a PF.
O grupo criminoso teria atuação desde 2019 e é suspeito de ter lavado pelo menos R$ 600 milhões, movimentando mais de R$ 23 bilhões por meio de uma rede composta por postos de combustíveis, distribuidoras, holdings, empresas de cobrança e instituições de pagamento autorizadas pelo Banco Central.
As investigações também revelaram práticas de fraude na comercialização de combustíveis, como adulteração de gasolina e a chamada “bomba baixa”, em que o volume abastecido é inferior ao indicado. Pelo menos 46 postos de combustíveis em Curitiba estavam envolvidos nessas práticas.
Estão sendo cumpridos 14 mandados de prisão e 42 de busca e apreensão nos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Foram bloqueados bens e valores de 41 pessoas físicas e 255 jurídicas, totalizando uma constrição patrimonial superior a R$ 1 bilhão.
Já a operação batizada de Carbono Oculto, com a participação do MP, foi divulgada pela Receita Federal como a maior operação contra o crime organizado da história do país em termos de cooperação institucional e amplitude.
Ela mirou mais de 350 alvos, pessoas físicas e jurídicas que são suspeitos de crimes contra a ordem econômica, adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e estelionato. Os agentes foram a campo em oito estados São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.
Em sua nota à imprensa, a Receita afirmou que a ação teve participação também da Polícia Federal.