SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O primeiro dia de interrupção do serviço 710 da CPTM foi de plataformas movimentadas, com a maioria dos passageiros contrariados na estação Barra Funda, que desde o começo da semana recebe quem vem da linha 11-Coral e a partir desta quinta-feira (28) vira ponto final para mais duas linhas de trem.
Hoje foi o primeiro dia oficial da mudança que torna a estação Palmeiras-Barra Funda um “hub” de trens. Até então, o local era ponto de partida da linha 3-Vermelha do metrô e do Expresso Aeroporto da CPTM, que vai até o aeroporto de Guarulhos. A estação também se liga a terminais de ônibus interestadual e municipal.
Passageiros classificam mudança como regressão. Os mais prejudicados com a separação das linhas foram aqueles que vêm da 7-Rubi e, além da integração com a 10-Turquesa, perderam a parada na estação da Luz. Agora, para ir até o ex-terminal do centro de São Paulo, eles também precisam descer e fazer baldeação.
“A gente saiu de Franco da Rocha e ia até a Luz, ou seja, perdemos uma estação”, afirmou o vendedor Samuel Silva. Ele e o amigo Flávio aguardavam com insatisfação na fila para o trem de Rio Grande da Serra, adicionando mais alguns minutos no percurso de uma hora do município da Grande São Paulo até o centro.
“É desumano. Eles demoraram 10 anos para facilitar nosso trabalho e agora, sem uma justificativa plausível, mudam esse cenário”, disse Felipe Silva, trabalhador da área de consórcios.
Felipe embarcou em Franco da Rocha e tinha como destino a estação Santo André, no ABC Paulista. O serviço 710 começou em 2021 e, na época, foi vendido como uma “superlinha” que tinha como plano agilizar a movimentação dos passageiros.
A vendedora Angélica Santos, que vem todos os dias de Jundiaí para o Brás, também se sentiu prejudicada. A mulher costuma vir sentada por todo o caminho e agora precisou, além de esperar um novo trem, seguir o resto do percurso em pé e uma composição cheia.
“É horrível. Eu ia direto e agora tenho que ficar fazendo essa troca, vai demorar uns 30 minutos a mais, porque além de demorar a estação fica muito cheia”, disse Angélica Santos, vendedora, ao UOL.
“É como se fosse uma regressão”, afirmou o metalúrgico Renato Dias, que pega o trem no Jaraguá (7-Rubi) e desce na estação Ipiranga (10-Turquesa). A criação do serviço 710 fez com que ele deixasse de pegar três trens diferentes e passasse a pegar só um. nesta quinta-feira, além de descer na Barra Funda, ele precisou deixar um trem passar para poder embarcar em um veículo mais vazio.
Quem não pega o ramal diretamente também estranhou a movimentação na Barra Funda. Jorge de Freitas, eletricista que usa a linha 11-Coral na zona leste de São Paulo e segue para Santo André na linha 10-Turquesa, afirmou que ficou feliz com a mudança na linha Coral e fez a baldeação com tranquilidade nesta quarta-feira (27), mas se deparou com uma superlotação inesperada nesta quinta-feira.
“Ontem tava ok, senti que a mudança [da linha 11-Coral] foi boa porque para a gente vir pra cá tinha que descer no Brás, ou na Luz, então ficou melhor pra vir de lá [da zona leste] para cá, mas essa aqui está difícil”, disse Jorge de Freitas, ao UOL.
Para a vendedora Flávia Pinheiro, que vem de Santo André e desce na Barra Funda, a mudança trouxe caos momentâneo à estação. Ao UOL, ela disse acreditar que a confusão vá se resolver quando passageiros se acostumarem ao novo fluxo.
“Está bem bagunçado. Essa estação é muito pequena, não comporta tanta gente ao mesmo tempo”, disse Flávia Pinheiro, vendedora, ao UOL.
CPTM CUMPRIU PROMESSA DE BOA SINALIZAÇÃO, MAS PRECISA MELHORAR ACESSO
A sinalização prometida pela CPTM para orientar os passageiros estava, de fato, reforçada. Durante as duas horas de maior movimentação da linha em que a reportagem do UOL ficou na plataforma, funcionários da TIC Trens, concessionária que vai operar as linhas a partir de setembro, se dividiram entre explicações com mega fones, orientações nas filas das portas dos trens e orientações aos muitos passageiros com dúvidas.
Os trens também circulavam em intervalo compatível com o horário, não levando mais de cinco minutos para passar. “Apesar de ter vindo lento até a Barra Funda, hoje como é primeiro dia, teve bastante circulação. Eu esperava que fosse pior”, afirmou o metalúrgico Renato.
A lotação da plataforma nos horários de maior movimentação variava de acordo com o fluxo dos trens. Quando os dois veículos chegavam ao mesmo tempo, os passageiros trocavam de composição rapidamente, sem intercorrências. Se um trem da linha 7-Rubi chegava pouco após um veículo da 10-Turquesa partir, porém, a média de espera até o próximo veículo era de filas grandes e insatisfação.
O acesso à plataforma movimentada ainda é deficitário. Somente uma escada fixa permite a descida da parte de cima da estação para as plataformas e outras duas escadas rolantes, somada a uma escada fixa, permitem a saída dos passageiros da plataforma para a saída da estação.
ENTENDA A MUDANÇA
Três linhas passam a ter a estação Palmeiras-Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, como ponto final a partir desta quinta-feira. Elas são: 11-Coral, que ia até a Luz e ganhou mais uma estação; 7-Rubi e 10-Turquesa. O projeto de mudança, segundo a CPTM, faz parte da “transição contratual da linha 7-Rubi para a concessionária TIC Trens”. A empresa só assume as operações em 26 de novembro, mas começou os testes hoje.
Mudança acabou com a linha 710, que ligava a cidade de Jundiaí – ponto de partida da linha 7-Rubi – a Rio Grande da Serra, ponto de partida da linha 10-Turquesa. Agora, os passageiros que quiserem seguir de um município para outro precisarão descer do trem e trocar de composição.
CPTM diz que estação está preparada para o aumento de passageiros. A empresa não respondeu qual será o impacto das mudanças no fluxo de usuários da estação. Mas afirmou que haverá reforço no quadro de funcionários para orientar os passageiros nos primeiros dias. Procurada para comentar a mudança, a Tic Trens recomendou procurar a CPTM.
Governo do Estado vê Estação Palmeiras-Barra Funda como novo “hub central do transporte sobre trilhos”. A estação recebeu 165,1 mil pessoas em apenas um dia de maio deste ano. No mesmo mês, mais de 3,6 milhões de passageiros passaram pelo local, segundo dados disponibilizados pelo Metrô, e levantados pelo UOL.