SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O tempo de espera para fazer uma cirurgia de transplante de córnea dobrou em dez anos, segundo um levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). O trabalho é apresentado no 69° Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em Curitiba.
O levantamento compara dados de 2015 e de 2024. nesta quinta-feira (28), um paciente leva em média 374 dias para a cirurgia. Há dez anos, o tempo de espera era de 174 dias. O transplante de córnea é o procedimento cirúrgico que permite a substituição total ou parcial da parede anterior do olho em casos de doenças que atingem a córnea e levam à cegueira.
Mulheres são a maioria na fila. Elas representam 55,7% do total de pacientes. Além disso, o levantamento mostrou que 47% têm 65 anos ou mais. Jovens entre 18 e 34 anos representam apenas 17%.
O cálculo foi feito com informações do SNT (Sistema Nacional de Transplantes). Os números correspondem à média nacional consolidada e, segundo o CBO, a tendência é de aumento na espera: nos seis primeiros meses deste ano, o tempo para a cirurgia de transplante de córnea já estava em 369 dias.
Vários fatores podem estar por trás do aumento do tempo de espera. Entre eles estão a falta de reajustes de valores pagos pelos procedimentos e o impacto da pandemia da covid-19, que represou pacientes especialmente entre os anos de 2020 e 2023, segundo o CBO. Pelas medidas sanitárias, as cirurgias eletivas foram suspensas, o que incluiu os transplantes de córnea.
Os especialistas ainda apontam dificuldade de manutenção dos bancos de olhos, devido ao preço elevado dos insumos eles são cotados em dólar, moeda mais valorizada que o real. Os bancos de olhos são instituições responsáveis pela retirada, transporte, avaliação, classificação, preservação, armazenamento e disponibilização dos tecidos oculares doados.
Espera é maior em alguns estados. O levantamento do CBO aponta que nos estados de Acre, Alagoas e Rio Grande do Norte, o tempo de espera na fila ultrapassou os mil dias para transplantes realizados em 2024. No Rio de Janeiro, a espera foi de 1.424 dias. No entanto, em outras unidades federativas o tempo de espera foi menor. No Ceará, foi de 58 dias; em Santa Catarina, de 164 dias; em Mato Grosso, 227; no Amazonas, 243; e em São Paulo, a espera foi de 247 dias.
Até julho de 2025, o Brasil tinha 31.240 pessoas na fila de espera. São Paulo é o estado que concentra o maior número de pacientes, com 21% do total nacional. Na sequência, estavam o Rio de Janeiro, com 16,5%, e Minas Gerais, com 14%.
Apesar da demora, o Brasil ainda é bem avaliado internacionalmente. Os especialistas do CBO dizem que o desempenho nacional está compatível com países da Europa, além do Canadá e Austrália, sendo um grande destaque na América Latina.
O UOL entrou em contato com o Ministério da Saúde sobre medidas em relação ao tempo de espera. O espaço será atualizado assim que houver manifestação.