SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Unidades de saúde da cidade de São Paulo estão enfrentando desabastecimento de canetas de insulina, tanto descartáveis quanto reutilizáveis, segundo a SMS (Secretaria Municipal de Saúde). Não há falta de insulina, mas sim de aplicadores, que garantem maior precisão e praticidade na administração da medicação em pacientes com diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2.

Para suprir a falta de canetas nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), a gestão municipal afirma que está fornecendo insulina em frascos de 10 ml.

A principal razão para o desabastecimento, de acordo com o Ministério da Saúde, que fornece as canetas aos estados, é que a indústria farmacêutica passou a “focar em produtos mais rentáveis, como canetas emagrecedoras”, de crescente demanda no mercado, comprometendo a produção das canetas aplicadoras de insulina.

Segundo apurou a reportagem, houve ainda um possível erro no cálculo do ministério no pedido de canetas, que pode ter impactado o estoque nacional. Além disso, o uso incorreto das canetas reutilizáveis como se fossem descartáveis, por parte dos pacientes, aumentou a demanda em um tempo menor do que o previsto para uma nova compra.

No site Reclame Aqui, usuários relataram dificuldades em conseguir os aplicadores devido ao desabastecimento. Um depoimento publicado na segunda-feira (25) aponta que “não há canetas nos postos de saúde já há quatro meses” e que “quem tem diabetes está sofrendo”.

A reportagem tentou contato telefônico com 16 UBSs da capital paulista nesta quarta-feira (27), e apenas três atenderam. Uma unidade disse que não forneceria informações sobre o estoque por telefone, recomendando o deslocamento até o local. Outra pediu para aguardar em linha, mas a ligação caiu e, ao retornar, não foi atendida. Já a terceira orientou consultar a disponibilidade de canetas por meio do aplicativo e-saúde, da prefeitura.

A ferramenta “Remédio na Hora”, da Prefeitura de São Paulo, indica que a disponibilidade de canetas descartáveis no município está baixa. Há 14 unidades do tipo “regular” em cinco UBSs diferentes, enquanto só restam duas do tipo “NPH” em duas unidades distintas. A ferramenta não apresenta as quantidades de canetas reutilizáveis.

A reportagem solicitou um posicionamento da Secretaria Municipal de Saúde sobre a ausência de informações referentes às canetas reutilizáveis na ferramenta “Remédio na Hora”, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

Já a baixa quantidade de canetas descartáveis é esperada, uma vez que a distribuição delas foi interrompida em março após a mudança da empresa fornecedora, que fabrica apenas canetas reutilizáveis, segundo o ministério. Quanto a tubetes reutilizáveis e frascos de insulina, há estoque registrado em quantidade elevada.

A distribuição das canetas é realizada pela SES (Secretaria Estadual de Saúde) após o recebimento dos estoques enviados pelo Ministério da Saúde. No entanto, a SES afirma que as canetas “têm sido entregues ao estado em quantidade insuficiente” para suprir a demanda dos municípios.

Em nota, a SES afirmou que em abril de 2025 o estado de São Paulo recebeu cerca de 435 mil canetas reutilizáveis, permitindo atender aproximadamente 50% dos usuários. Em 14 de agosto, um lote parcial de pouco mais de 34 mil canetas foi distribuído, focando nos municípios em situação mais crítica.

“A SES permanece em contato com o órgão federal [Ministério da Saúde], que comunicou o envio de um novo lote de 435.878 canetas reutilizáveis, com o objetivo de contemplar 100% dos pacientes de insulina NPH e Regular no estado, embora ainda não tenha informado a data para o envio”, disse em nota.

Por sua vez, o Ministério da Saúde esclareceu que “não há falta de insulina no Brasil” e que possui contratos assegurando o fornecimento para o ano inteiro de 2025. Segundo o ministério, até agosto já foram distribuídas mais de 2 milhões de canetas reutilizáveis para aplicação de insulina às secretarias estaduais de saúde em todo o país, sendo mais de 500 mil apenas para São Paulo.

O órgão disse ainda que 640 mil canetas estão em processo de distribuição para reforçar os estoques estaduais, incluindo o estado de São Paulo. O ministério afirmou também que um novo pedido para mais canetas reutilizáveis está sendo feito para a atual fabricante, a Global X.

O Ministério da Saúde afirmou que tem investido na produção nacional de insulinas humanas para reduzir a dependência do mercado externo, por meio de parcerias com institutos e empresas brasileiras, e que tem investido em treinamentos virtuais e material educativo para orientar profissionais de saúde e pacientes quanto à utilização correta das canetas reutilizáveis.

Isso porque, até março de 2025, o contrato de fornecimento das canetas estava com a empresa dinamarquesa Novo Nordisk, que fabricava modelos descartáveis, segundo o ministério. No fim de 2024, a empresa havia publicado um comunicado que deixaria de fabricar canetas de insulina.

O Ministério da Saúde realizou então licitação que resultou na contratação da empresa Global X, que fabrica canetas reutilizáveis que, diferentemente das descartáveis, permitem até 60 doses por tubete (carpule) removível. A mudança pode ter confundido alguns pacientes quanto a aplicação correta e uso contínuo.