RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Depois de uma carreira marcada por musicais e novelas no Brasil, Simone Gutierrez, 49, recomeçou sua vida nos Estados Unidos. A mudança, logo após a pandemia, foi motivada pela falta de oportunidades no país em que nasceu e cresceu.

A atriz chama o período de “devastador” e lembra que, mesmo depois do fim do confinamento, o panorama não mudou. “Enviei mensagens para produtores, diretores e autores, mas nunca tive retorno. Quando surgiu a chance de morar fora, aproveitei. Sempre quis estudar e me aprimorar por aqui”, conta.

“Por aqui” é a cidade de Orlando, onde Simone atua como coordenadora de eventos, apresentações artísticas e também na equipe de recepção de um curso de inglês. Ela não vê problema algum em listar os trabalhos que já fez nos Estados Unidos. “Fui babá, faxineira e garçonete, e essas experiências me fizeram crescer muito como pessoa. Entendi que a vida é um ciclo, e que recomeçar faz parte da jornada”, afirma.

A atriz recorda um episódio delicado do início de sua caminhada fora do Brasil, quando alguns veículos publicaram uma notícia sobre a vaquinha virtual que fez para se manter.

“Fiz e não achei nada demais pedir ajuda. O que me chateou mesmo foram as notas e reportagens dizendo que eu estaria passando fome. Disseram até que eu virei ‘empreguete’”, conta Simone, que fez parte do elenco de “Cheias de Charme” (2012), na Globo.

Na trama escrita por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, ela interpretou Ariela Sarmento, filha dos patrões de Cida (Isabelle Drummond). “Não entendia o sensacionalismo. Parecia que trabalhos como babá, garçonete ou faxineira não eram dignos. Para mim, foram experiências de muito aprendizado e orgulho”, diz.

Simone também atuou em “Passione” (2010), “Na Fama e Na Lama” (2011), “Joia Rara” (2013) e no programa de humor Zorra Total (1999-2015). Seu último trabalho na televisão foi em “Órfãos da Terra” (2019), na mesma emissora.

Sobre os musicais, gênero que marcou sua trajetória —ela chegou a interpretar a protagonista de “Hairspray” (2009)—, Simone é enfática: “Meu sonho sempre foi não ter parado de fazer musicais no Brasil, mas chegou um momento em que as produções ficaram restritas às mesmas pessoas”.

A artista conta que deixou de ser chamada para audições, não recebia mais convites. “Hoje, infelizmente, se você não é influenciador ou não faz parte da ‘panela’, as portas acabam não se abrindo.”

Simone admite sentir falta de reconhecimento em seu país de origem. “Corro atrás dos meus objetivos, mas às vezes sinto falta de valorização no Brasil pelo profissionalismo e pela carreira que construí”, lamenta. “Quem se dedica e se especializa nem sempre tem o espaço ou a relevância merecida”, completa.

Sua rotina agora inclui também ensaios para o novo espetáculo “Iaiá, Me Ajuda!”, em parceria com Paulo Goulart Filho, que também está morando nos EUA. Ele é filho de Paulo Goulart e Nicette Bruno e a proposta da peça é falar de tecnologia de forma lúdica, misturando música, teatro e diversão.

“Queremos mostrar que a tecnologia pode ser uma aliada, não uma ameaça, e que a vida corporativa, assim como o palco, exige inovação e reinvenção diária.” A peça será encenada em Orlando.

Simone tem visto de residente permanente nos Estados Unidos, não faz planos de voltar ao Brasil e diz estar tranquila em relação à sua estabilidade burocrática sob o governo Trump. “Meu greencard é EB1 de Habilidades Extraordinárias. O meu currículo vale muito neste país e o perigo de ser deportada é mínimo. Estou feliz aqui e só voltaria se surgisse alguma proposta irrecusável”.