SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para Olivia Colman, o segredo para um casamento feliz é conversar e ser gentil um com o outro. Já para Benedict Cumberbatch, acreditar que aquela união é a coisa mais importante do mundo. Em seu novo filme, porém, os atores precisaram abandonar a crença no “felizes para sempre” para viver um casal que se odeia profundamente.
Ou nem tanto. Ao menos é o que dizem os protagonistas de “Os Roses: Até que a Morte os Separe”. Apesar de Ivy e Theo Rose passarem as quase duas horas de filme pensando em maneiras de ferir um ao outro tanto emocional quanto fisicamente, Cumberbatch diz que a duração da trama seria bem menor se o amor daquele casamento tivesse se esgotado.
“Eles estão tão apaixonados que insistem naquele relacionamento por muito mais tempo do que a maioria dos casais faria”, diz o ator. “Este filme é certamente uma história de amor”, completa Colman, em sinergia com o parceiro de cena e de produção.
Adaptação do livro “A Guerra dos Roses”, do autor americano Warren Adler, o filme acompanha um amor arrebatador que, depois de longos e felizes anos, começa a definhar. Mas não espere ver algo como “História de um Casamento”, de Noah Baumbach, ou “Cenas de um Casamento”, de Ingmar Bergman. Aqui, a papelada do divórcio é motivo de grande escândalo, esquisitice e até tentativa de assassinato.
Ivy abre mão de ser chef de cozinha quando conhece Theo, um arquiteto promissor. Enquanto ela fica em casa cuidando dos filhos, ele se firma como um dos nomes mais cobiçados do seu ramo. Quando um caro e pomposo museu que ele projetou vai ao chão, a ruína financeira da família parece iminente. Mas logo o restaurante despretensioso, que servia mais como hobby para a protagonista, deslancha e vira a principal fonte de renda da família.
As frustrações e a rivalidade que nascem daí, e o contraste gritante na forma como mãe e pai criam os filhos, começam a minar a relação de Ivy e Theo. Eles enfim decidem se separar, mas ninguém quer abrir mão da casa dos sonhos do casal que ele projetou, mas ela pagou. Começa aí uma corrida para ver quem vai sair por cima no divórcio.
Numa cena que encontra ecos na novela “Vale Tudo”, que viralizou com a tentativa de Odete Roitman de sabotar a maionese servida por Raquel, Theo aponta um ralador de queijo para uma verruga em seu pé e contamina um dos pratos que Ivy servirá em seu restaurante. Uma cena escatologicamente maldosa, que ajuda a entender a tal guerra que batiza o livro.
“Quando você adiciona um toque de graça numa situação triste, você intensifica as duas partes, a comédia e o drama, e consequentemente os deixa melhores”, diz Colman sobre a veia cômica do projeto. “A crueldade aqui é muito inventiva, chega a ser catártico atuar num filme como este. E é sempre legal ter autorização para se comportar mal”, completa Cumberbatch.
“Os Roses”, ironicamente, nasceu da admiração mútua entre os dois atores. Eles procuravam um projeto no qual poderiam trabalhar juntos, até toparem com o livro. Ao lado do diretor Jay Roach e do roteirista Tony McNamara que já escreveu cenas para Colman se equilibrar entre a fragilidade e o sadismo, em “A Favorita”, porém, tentaram se distanciar do material original e de outra adaptação.
Em 1989, “A Guerra dos Roses” já havia contado a história daquela família, com Michael Douglas e Kathleen Turner nos papéis principais. “Fizemos tudo com muito amor e respeito pelo original, mas queríamos usá-lo apenas como ponto de partida, porque o tom do nosso filme é outro”, diz Colman.
“Os filmes só se relacionam pelo fato de lidarem com casais que estão dispostos a muita coisa para se destruírem”, diz Cumberbatch, complementando mais uma vez a fala de Colman e mostrando estar em harmonia perfeita com sua rival da ficção.
OS ROSES: ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
– Classificação 16 anos
– Elenco Olivia Colman, Benedict Cumberbatch e Ncuti Gatwa
– Produção Reino Unido, EUA, 2025
– Direção Jay Roach
– Onde ver Nos cinemas