SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dez anos depois da crise hídrica que levou ao colapso de sistemas de abastecimento, a cidade de São Paulo e a região metropolitana enfrentam uma redução de pressão noturna nas tubulações para economia de água.

Atualmente, o sistema que abastece a capital e a Grande São Paulo é considerado muito mais robusto e, com interligações e novas fontes de água, também é apontado como mais resiliente do que na última década. Mas o atual período de estiagem tem levado os níveis do sistema Cantareira às marcas mais baixas desde 2015, ainda que com aumento no volume total armazenado e possibilidades de manobra entre os reservatórios.

A redução de pressão, que é praticada desde a crise de 2014 e 2015, é vista como uma medida discriminatória por críticos, já que o restabelecimento do fluxo de água nas áreas distantes de grandes centros levaria mais tempo.

Se hoje há mais opções para driblar situações severas, como racionamento ou desabastecimento, o cenário de chuvas indica dificuldades para este e o próximo ano. Essa previsão é do professor titular do departamento de Recursos Hídricos da Unicamp Antonio Carlos Zuffo.

Ele lembra do chamado “efeito José”, em relação ao personagem bíblico que previu sete anos de fartura e sete anos de fome no Egito. A série histórica mostra que chovia mais nas bacias que alimentam o sistema Cantareira de 1976 a 2012, segundo o professor. “De 2013 para cá, essas enchentes praticamente desapareceram, com quatro eventos pontuais.” E a previsão para 2026, se ficar configurado o La Niña, é de uma chuva atrasada, que pode prolongar o período seco neste ano em dois meses e complicar a situação para o ano que vem.

Zuffo avalia que a região metropolitana de São Paulo está mais bem preparada para períodos secos, com a interligação de reservatórios e a adição de novas fontes, mas alerta que a população precisa ser orientada a economizar água.

Entre essas obras estão, segundo o Governo de SP, a transposição Jaguari-Atibainha, que leva para o sistema água proveniente da bacia do rio Paraíba do Sul, e a conclusão do sistema São Lourenço.

Para o coordenador do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), Amauri Pollachi, o estado deveria retomar um programa de incentivo à redução do consumo por meio de descontos na conta para quem reduz o consumo, assim como o aumento no caso de quem gasta mais água.

A medida foi adotada durante o período de 2014 e 2015, com diferentes faixas de redução e aumento na conta, proporcionais às quantidades gastas a mais ou a menos. “Isso foi extremamente eficaz.” Para o especialista, as propostas para o futuro não podem ser concentradas na busca por novos reservatórios. “Não dá para ficar trazendo água para abastecer São Paulo. Se trouxer do Vale do Ribeira, são bilhões de reais. Se trouxer de Barra Bonita, são outros bilhões.”

Ele defende mais medidas de conscientização do consumo, além da ampliação de cobertura do saneamento em geral, incluindo tratamento de esgoto, e o reúso de água.

A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou, em nota, que estão em andamento obras de transposição e interligação de sistemas, além de investimentos em novas estações de tratamento e pontos complementares de captação de água.

Também afirmou que o novo contrato da Sabesp após a privatização tem metas para redução de perdas e determina investimentos obrigatórios nessa área, em paralelo aos investimentos em universalização do saneamento.

“A Arsesp [Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo] acompanha os investimentos promovidos pela companhia. Entre 2009 e 2023, a Sabesp destinou R$ 9,4 bilhões a ações voltadas ao controle de perdas.”

Também segundo o governo, a Arsesp determinou que a Sabesp tome medidas para mitigar os impactos da redução de pressão. “Isso inclui o fornecimento emergencial de soluções alternativas, como caminhões-pipa, interligações temporárias ou reservatórios domiciliares para usuários vulneráveis e serviços essenciais”.

Em nota à reportagem, a Sabesp informou que a companhia possui atualmente R$ 1,9 bilhão de obras de abastecimento em andamento, com 1.220 litros por segundo adicionais de fornecimento de água entregues.

“Outra estratégia adotada foi investindo em novas soluções, como a ampliação do fornecimento de água de reúso —em um aumento anual de 1,01 bilhão de litros em 2024. A Sabesp tem expandido parcerias para escalar essa solução, como os recentes acordos para desenvolver projetos de reúso nas regiões de Guarulhos e corredor Ayrton Senna”, disse a companhia, destacando ter investido mais de R$ 1 bilhão em ações contra perdas em 2024 e com previsão de investir R$ 2,2 bilhões em 2025. “Serão R$ 40 bilhões até 2034.”

Com quatro dos cinco reservatórios que compõem o sistema Cantareira, os Comitês PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí) autorizaram, para o período seco deste ano (de 1º de junho a 30 de novembro), o uso de 40% do volume anual disponível no sistema. “No mesmo período em 2024, o uso foi de 45%, indicando maior eficiência e preocupação em preservar reservas para o ano de 2026.”

Em meio ao anúncio da redução de pressão na capital paulista e na Grande São Paulo, com potencial de impacto na rotina de bares e restaurantes, a redução de consumo já tem sido uma realidade, diz o líder-executivo da Abrasel SP, associação do setor em São Paulo, Joaquim Saraiva. “Há alguns anos já fazemos campanhas, junto com a Sabesp, sobre economia de água. Os restaurantes, de certa forma, já se equiparam para não ter esse desperdício, até pela redução de custos, seja na troca de máquinas de lavar louça, seja na troca de válvula de banheiros.”

Na avaliação de Saraiva, o setor está mais bem preparado, mas ele também defende campanhas com toda a população para reduzir o consumo de água.